quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Santa Mônica, a oração e as lágrimas


 CONFISSÕES
CAPÍTULO XII
Uma profecia


Nessa mesma ocasião deste à minha mãe outra resposta, de que ainda me lembro – pois
passo em silencio muitas circunstâncias, pela pressa que tenho de chegar àquelas que te devo
confessar com mais urgência, ou porque não as recordo – deste-lhe outra resposta por meio de
um teu bispo, educado em tua Igreja e exercitado em tuas Escrituras. Como ela pedisse que se
dignasse falar comigo, para refutar meus erros e desenganar-me de minhas más doutrinas e
ensinar-me as boas – pois assim fazia com quantos julgava idôneos – ele negou-se com muita
prudência, como pude verificar depois; respondeu-lhe que eu estava incapacitado para receber
qualquer ensinamento, por estar enfatuado com a novidade da heresia maniqueísta, e por haver
criado embaraço a muitos ignorantes com algumas questões fáceis, como ela mesma lhe relatara.
“Deixe-o – disse – e unicamente ore por ele ao Senhor! Ele mesmo, lendo os livros dos hereges,
descobrirá o erro e reconhecerá sua grande impiedade”. – Ao mesmo tempo contou-lhe que,
quando criança, sua mãe, seduzida pelo erro, entregara-o aos maniqueus, chegando não só a ler,
mas a copiar quase todas as suas obras; e que ele mesmo, sem necessidade de que ninguém o
contestasse ou convencesse, chegara a perceber a falácia daquela doutrina, abandonando-a
enfim.
Depois de assim falar, minha mãe não se aquietava, instando com maiores rogos e mais
copiosas lágrimas a que me visitasse, para discutir comigo sobre o tal assunto. O bispo, já com
certo enfado de sua insistência, lhe disse: “Vai-te em paz, mulher, e continua a viver assim, que
não é possível que pereça o filho de tantas lágrimas” – palavras que ela recebeu como vindas do
céu, segundo me recordava muitas vezes em seus colóquios comigo.

Santo Agostinho, Confissões

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