terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Viver de fé, com a ajuda de Maria - Por São Luís Maria Grignion de Montfort



 


 

A Santíssima Virgem vos fará partilhar a sua fé, que foi mais forte que a fé de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos. [...] 

 

Assim, pois, quanto mais conquistardes a benevolência desta augusta Princesa e Virgem fiel, mais fé pura tereis nas vossas ações: uma fé pura que fará com que não vos preocupeis grandemente com as coisas sensíveis e extraordinárias; uma fé viva e animada pela caridade, graças à qual tudo fareis por puro amor; uma fé firme e inabalável como uma rocha, pela qual permanecereis firmes e constantes no meio das tempestades e tormentas; uma fé ativa e penetrante, que, qual misteriosa chave universal, vos permitirá entrar nos mistérios de Cristo, nos fins últimos do homem e no coração do próprio Deus; uma fé corajosa, que vos fará empreender sem hesitar e levar a bom termo grandes coisas por Deus e pela salvação das almas; em suma, uma fé que será uma tocha acesa, uma vida divina, um tesouro escondido da Sabedoria divina e uma arma omnipotente, que utilizareis para iluminar os que se encontram na sombria região da morte, para abrasar os que estão mornos e têm necessidade do ouro aceso da caridade, para dar vida aos mortos pelo pecado, para tocar e mover, com as vossas palavras suaves e poderosas, os corações de mármore e os cedros do Líbano, e finalmente para resistir ao diabo e a todos os inimigos da salvação.



«Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem», § 214

 

sábado, 26 de junho de 2021

Encontrar o Senhor todos os dias...- Por São Josemaria Escrivá

Meus filhos: aí onde estão os nossos irmãos,  os homens, aí onde estão as nossas aspirações, o nosso trabalho, os nossos amores, aí está o lugar do nosso encontro cotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da terra que nós devemos santificar-nos, servindo a Deus e a todos os homens.

Tenho-o ensinado constantemente com palavras da Escritura Santa: o mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus, porque é criatura dEle, porque Javé olhou para ele e viu que era bom. Nós,  os homens, é que o fazemos ruim e feio, com os nossos pecados e as nossas infidelidades.  Não duvidem, meus filhos: qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é para os homens e mulheres do mundo coisa oposta à vontade de Deus.

Pelo contrário,  devem compreender agora - com uma nova clareza - que Deus os chama a servi-lO em e a partir das tarefas civis, materiais, seculares da vida humana. Deus espera-nos cada dia: no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçam nunca: há algo de santo,  de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir. 

Eu costumava dizer àqueles universitários e àqueles operários que me procuravam lá pela década de 1930, que tinham de saber materializar a vida espiritual. Queria afastá-los, assim, da tentação,  tão frequente então como agora, de levar uma vida dupla: A vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e, por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas.

Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla, não podemos ser como esquizofrênicos, se queremos ser cristãos. Há uma única vida, feita de carne e espírito,  e essa é a que tem de ser - na alma e no corpo - santa e plena de Deus. Esse Deus invisível,  nós O encontramos nas coisas visíveis e materiais. 

Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, ou não O encontraremos nunca. Po der isso, posso afirmar que a nossa época precisa devolver à matéria e às situações aparentemente mais vulgares o seu nobre e original sentido: pondo-as ao serviço do Reino de Deus, espiritualizando-as, fazendo delas meio e ocasião para o nosso encontro contínuo com Jesus Cristo. [...]

Eu lhes asseguro, meus filhos, que, quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias, está desempenhando algo de onde transborda a transcendência de Deus. Por isso tenho repetido, com um insistente martelar, que a vocação cristã consiste em transformar em poesia heroica a prosa de cada dia. Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir -se o céu e a terra. Mas não: onde de verdade se juntam é no coração,  quando se vive sabiamente a vida diária...


São Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 4° ed., Quadrante, São Paulo, 2016.

Retirado do livro Anjos e Santos, de Scott Hahn.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

«Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação» (2Cor 6,2)

 

São Leão Magno (IV Sermão para a Quaresma, 1-2)


«Este é o dia da salvação!». É certo que não há período nenhum que não esteja cheio de dons divinos, pois a graça de Deus proporciona-nos, em todo o tempo, o acesso à sua misericórdia. Nesta época, porém, os corações devem ser estimulados ainda com mais ardor ao progresso espiritual, e animados com mais confiança, porque o dia em que fomos resgatados convida-nos a praticar obras espirituais. Deste modo, celebraremos de corpo e alma purificados o mistério que ultrapassa todos os outros: o sacramento da Páscoa do Senhor. [...] 

Tais mistérios exigem de nós um esforço espiritual sem quebras [...], a fim de permanecermos sempre sob o olhar de Deus: era assim que a festa da Páscoa devia encontrar-nos. Contudo, são poucos os dotados desta força espiritual; para nós, que nos encontramos no meio das atividades desta vida, devido à fraqueza da carne, o zelo abranda. [...] Por isso, para nos devolver a pureza de alma, o Senhor previu o remédio de um treino de quarenta dias, no decurso dos quais possamos resgatar as nossas faltas com boas obras e consumi-las com santos jejuns [...]. Tenhamos, pois, o cuidado de obedecer ao apóstolo Paulo: «Purificai-vos de toda a mancha da carne e do espírito» (2Cor 7, 1). Mas que a nossa maneira de viver esteja de acordo com a nossa abstinência. O jejum não consiste apenas na abstenção de alimentos; de nada aproveita subtrair os alimentos ao corpo, se o coração se não desviar da injustiça, se a língua se não abstiver da calúnia [...]. Este é um tempo de suavidade, de paciência, de paz [...]; uma altura em que a alma forte se habitua a perdoar as injustiças, a contar em nada as afrontas, a esquecer as injúrias [...]. 

Mas que a moderação espiritual não seja triste; que seja santa. Que não se oiça o murmúrio das queixas, porque àqueles que assim vivem nunca faltará o consolo de uma alegria santa.

 

Fonte: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Ó AMOR INFINITO...

 


Dedi te in lucem gentium, ut sis

salus mea usque ad extremum terrae.

Eu te estabeleci para luz das gentes,

a fim de seres a salvação que eu envio

até a última extremidade da terra (Is 49,6).

Considera o Pai celeste dizendo estas palavras a Jesus Menino no momento de sua conceição: Meu Filho, eu te estabeleci para luz das gentes e a vida das nações, a fim de que lhes procureis a salvação, que desejo tanto como se fosse a minha própria. É pois necessário que vos dediqueis inteiramente ao bem do gênero humano: “Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em benefício dele”. É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o vosso nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut tua inopia dites. É necessário que sejais vendido como um escravo para pagardes a liberdade do homem, e que, como escravo, sejais flagelado e crucificado a fim de satisfazer à minha justiça pelas penas devidas aos homens. É necessário que deis vosso sangue e vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei que não sois mais vosso mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um filho. Assim, meu caro Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a mim, ao ver que vos dou todo a ele, vós meu único Filho, e que me não resta mais nada a dar-lhe. Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus amou de tal modo o mundo que deu por ele seu unigênito Filho.

A essa proposta Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com amor e exulta: Dá saltos como gigante para percorrer o seu caminho. Desde o primeiro instante de sua encarnação, Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas as dores e humilhações que deve sofrer no mundo por amor dos homens. Essas foram, diz S. Bernardo, as montanhas e as colinas escarpadas que Jesus Cristo teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo aí vem saltando sobre os montes, atravessando os outeiros.

Notemos bem: enviando-nos seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os homens, Deus Padre obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o Pai e o Filho interveio um pacto em virtude do qual o Pai devia receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfaça por nós à divina justiça, de seu lado, o Verbo, digo, também se obrigou a amar-nos, não por causa do nosso mérito, mas para cumprir a misericordiosa vontade de seu Pai.

Afetos e Súplicas.

Meu caro Jesus, se é verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela doação, vós me pertenceis porque o vosso Pai vos deu a mim: é por mim que nascestes, a mim fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Posso pois dizer: Meu Jesus e meu tudo. Já que sois meu, todos os bens me pertencem. O vosso apóstolo me assegura: Como não nos dará também com ele todas as coisas? Por isso, meu é o vosso sangue, meus os vossos méritos, minha a vossa graça, meu o vosso paraíso. E se sois meu, quem poderá jamais arrancar-vos de mim? Ninguém poderá tirar-me o meu Deus. Assim dizia com júbilo S. Antão Abade; assim também quero dizer no futuro. É verdade que vos posso perder ainda e afastar-me de vós pelo pecado; mas, ó meu Jesus, se no passado vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de toda a minha alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que tornar a perder-vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma. — Agradeço-vos, Pai eterno, por me terdes dado vosso Filho; e já que mo destes todo, eu miserável dou-me todo a vós. Pelo amor desse Filho adorável, aceitai-me e prendei-me com cadeias de amor a meu Redentor, mas prendei-me tão estreitamente que possa dizer com o apóstolo: Quem me poderá ainda separar de meu Jesus? — E vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que me pertence como vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma coisa a um Deus que me não recusou o seu sangue e a sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.

 

Santo Afonso Maria de Ligório: Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...