quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Um negócio precioso... - por São Bernardo



O Verbo do Pai, o Filho único de Deus, o Sol de justiça (Mal 3,20) é o grandde negociante, que nos trouxe o preço da nossa redenção. Trata-se de um negócio precioso, que nunca apreciaremos suficientemente, aquele em que um Rei, o filho do Rei supremo, se transforma na moeda de troca, em que o ouro pagou pelo chumbo, em que o justo foi trocado pelo pecador. Misericórdia verdadeiramente gratuita, amor perfeitamente desinteressado, bondade surpreendente [...], negócio totalmente desproporcionado, em que o Filho de Deus Se entrega pelo servo, o Criador é morto por aquele que criou, o Senhor é condenado pelo escravo. 

Ó Cristo, são estas as tuas obras, Tu que desceste da luminosidade do céu para as nossas trevas infernais, para iluminar a nossa prisão obscura. Tu desceste da direita da majestade divina para o meio da nossa miséria humana, para vires resgatar o género humano; Tu desceste da glória do Pai para a morte na cruz, para triunfares da morte e do seu autor. Tu és único, pois mais nenhum como Tu foi levado, pela sua bondade, a resgatar-nos. [...] 

Que todos os negociantes de Teman (Bar 3,23) se retirem desse local [...]; não foram eles que escolheste, mas Israel, o teu bem-amado, Tu que escondes estes mistérios aos sábios e aos prudentes e os revelas aos teus servos pequenos e humildes (Lc 10, 21). [...] Senhor, de boa vontade abraço este negócio, porque me diz respeito! Recordar-me-ei de tudo o que fizeste, pois queres que nisso me detenha. [...] Aproveitarei, pois, este talento que me deixaste para o fazer render até ao teu regresso, e irei com grande alegria à tua presença. Deus queira que oiça então estas doces palavras: «Coragem, servo fiel! Entra na alegria do teu Senhor» (Mt 25,21).

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermões diversos, n.º 42, «Os cinco negócios»
Fonte: Evangelho Quotidiano

"Deus, anfitrião da nossa alma" - São Boaventura



Escuta, ó alma, qual é a tua dignidade. Tão grande é a tua simplicidade que nada pode habitar a morada do teu espírito, nada pode aí morar exceto a pureza e a simplicidade da eterna Trindade. Escuta as palavras do teu Esposo: «Se alguém Me ama guardará a minha Palavra; Meu Pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada» (Jo 14,23); e noutra passagem: «Desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa.» Apenas Deus que te criou pode, com efeito, descer ao teu espírito, pois, segundo o testemunho de Santo Agostinho, pretende ser mais íntimo a ti do que tu próprio. 

Regozija-te, pois, ó alma feliz, por poderes ser a anfitriã de tal visitante. «Ó alma feliz, que cada dia purificas o teu coração para receber o Deus que te acolhe, este Deus cujo anfitrião não tem necessidade de coisa alguma, uma vez que possui em si mesmo o Autor de todo o bem.» 

Que feliz é a alma em quem Deus encontra o seu repouso, pois pode dizer: Aquele que me criou repousa debaixo do meu teto. Ele não poderá, pois, recusar o repouso do céu àquela que Lhe ofereceu o repouso nesta vida. 

És demasiado ambiciosa, ó minha alma, se a presença deste visitante não te basta. Fica a saber que Ele é tão generoso que te enriquecerá com os seus dons. Não seria indigno de tal monarca deixar a sua anfitriã na indigência? Ornamenta, pois, a tua câmara nupcial e recebe Cristo, teu Rei, cuja presença deleitará e alegrará toda a família. 

Ó palavra verdadeiramente surpreendente e mui admirável! O Rei cujo esplendor é admirado pelo sol e pela lua, cuja majestade é reverenciada pelo céu e pela terra, cuja sabedoria ilumina as legiões dos espíritos celestes e cuja misericórdia sacia a assembleia de todos os bem-aventurados, é este Rei que te pede hospitalidade. Ele deseja e cobiça a tua morada mais do que o seu palácio celeste, pois compraz-Se em habitar com os filhos dos homens.

São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
Exercícios espirituais da alma, cap. 2
Fonte: Evangelho Quotidiano

"A parábola dos talentos" - São João Crisóstomo



Um dos servos diz: «Senhor, confiaste-me cinco talentos»; outro diz que lhe couberam dois a guardar. Reconhecem que receberam dele o meio de fazer o bem; dão-lhe testemunho de grande reconhecimento e prestam-lhe contas dos bens confiados. Que lhes responde o seu Senhor? «Muito bem, servo bom e fiel (porque o próprio da bondade é ver o seu próximo); porque foste fiel nas pequenas coisas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do Senhor.» Assim designa Jesus a beatitude completa. 

Mas o que apenas tinha recebido um talento foi enterrá-lo. «Quanto a este servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes.» Repara, não é só o ladrão, o homem que procura enriquecer sem olhar a meios, aquele que faz o mal, que é castigado no fim; é também aquele que não faz o bem […]. Que são estes talentos, com efeito? São o poder de cada um, a autoridade de que se dispõe, a fortuna que se possui, o conselho que se pode dar e toda esta sorte de coisas. Que ninguém venha portanto dizer: só tenho um talento, nada posso fazer. Porque tu, mesmo com um único talento, podes agir de maneira louvável.

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, n.° 78, 2-3
Fonte: Evangelho Quotidiano

"Deus, único Mestre da oração" - São João Clímaco



A oração é, quanto à sua natureza, a conversa e a união da alma com Deus; quanto à sua eficácia, é a conservação do mundo e a sua reconciliação com Deus, um ponto elevado acima das tentações, uma muralha contra as tribulações, a extinção das guerras, a alegria futura, a atividade que não cessa, a fonte das graças, a dadora dos carismas, um progresso invisível, o alimento da alma, a iluminação do espírito, o machado que corta o desespero, a expulsão da tristeza, a redução da ira, o espelho do progresso, a manifestação da nossa medida, o teste ao estado da nossa alma, a revelação das coisas futuras, o anúncio seguro da glória. 

Tem coragem e terás o próprio Deus como mestre de oração. É impossível aprender a ver por meio de palavras, porque ver é um efeito da natureza. Assim também é impossível aprender a beleza da oração através dos ensinamentos de outros. A oração só se aprende na oração e o seu mestre é Deus, que ensina ao homem a ciência [...], que concede o dom da oração àquele que ora, que abençoa os anos dos justos.

São João Clímaco (c. 575-c. 650), monge do Monte Sinai
«A Escada Santa»
Fonte: Evangelho Quotidiano

"Juntemos tesouros eternos" - Por São João Maria Vianney


O mundo passa e nós passamos com ele. Os reis, os imperadores, tudo desaparece, engolfado na eternidade, de onde não se regressa. A única coisa que realmente interessa é salvar a nossa pobre alma. Os santos não estavam presos aos bens da terra; só lhes interessavam os bens do céu. As pessoas mundanas, pelo contrário, só se interessam pelo tempo presente. 

Temos de fazer como os reis, que, quando estão em vias de ser depostos, mandam guardar os seus tesouros noutro local, onde os têm depois à sua espera. Assim também um bom cristão manda as suas boas obras para a porta do céu. [...] 

A terra é uma ponte para atravessar um rio: serve apenas para nos permitir caminhar. [...] Estamos neste mundo, mas não somos deste mundo. Todos os dias dizemos: «Pai nosso, que estás nos céus...»; temos, pois, de esperar a nossa recompensa quando estivermos «em casa», na casa do Pai.


São João-Maria Vianney (1786-1859), presbítero, Cura de Ars
«Pensées choisies du Saint curé d'Ars»

sábado, 11 de novembro de 2017

«Nenhum servo pode servir a dois senhores» - Comentário ao Evangelho (11/11) por São Gregório Magno


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«Nenhum servo pode servir a dois senhores»

Querer pôr a esperança e a confiança em bens passageiros é querer fazer fundações em água corrente. Tudo passa; Deus permanece. Agarrarmo-nos ao que é transitório é desligarmo-nos do que é permanente. Quem é o homem que, levado no turbilhão agitado de um rápido, consegue manter-se firme no seu lugar, no meio dessa torrente fragorosa? Se não quisermos ser levados pela corrente, temos de nos afastar de tudo o que corre; senão, o objeto do nosso amor constranger-nos-á a chegar ao que precisamente queremos evitar. Aquele que se agarra aos bens transitórios será certamente arrastado até onde vão ter essas coisas a que se apega.

A primeira coisa a fazer é pois abstermo-nos de amar os bens materiais; a segunda, não pormos total confiança naqueles bens que nos são confiados para serem usados e não para serem desfrutados. A alma que se prende aos bens perecíveis cedo perde a sua estabilidade. O turbilhão da vida atual arrasta quem nele se deixa ir, e é uma tonta ilusão aquele que é levado nesta corrente querer manter-se de pé.

Créditos: Evangelho Quotidiano

“A permissividade moral não torna os homens felizes” - São João Paulo II

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“O ser humano só se realiza”, lembra-nos o Papa São João Paulo II, “na medida em que sabe aceitar as exigências que provêm da sua dignidade de ser criado à imagem e semelhança de Deus.”

O pequeno texto que disponibilizamos a seguir faz parte de um discurso do Papa São João Paulo II a jovens holandeses, durante sua visita de 1985 aos Países Baixos. Nele, Sua Santidade lança à juventude católica do mundo inteiro o desafio do amor.

Por que destacar esta pregação agora? Porque ela contém o mesmo ensinamento que o Padre Paulo Ricardo tem reforçado em suas pregações de cunho moral: os Mandamentos, o chamado da Igreja à perfeição, não são um “moralismo”, mas um convite à entrega, generosa e abnegada, de quem se sabe amado por Deus e deseja retribuir-lhe o amor.

No site da Santa Sé, esse discurso se encontra somente nas línguas italiana e holandesa. Servimo-nos em grande parte da tradução oferecida pelo site português “Senza Pagare” — ao qual agradecemos — e acrescentamos ao fim, também, uma outra parte do discurso que achamos conveniente traduzir.
Equipe Christo Nihil Praeponere

***
Queridos jovens, fizestes-me saber que muitas vezes considerais a Igreja como uma instituição que apenas promulga regulamentos e leis. E concluís que há um profundo hiato entre a alegria que emana da palavra de Cristo e o sentimento de opressão que suscita em vós a rigidez da Igreja.

Mas o Evangelho apresenta-nos um Cristo muito exigente, que convida a uma conversão radical do coração, ao abandono dos bens da Terra, ao perdão das ofensas, ao amor para com o inimigo, à paciente aceitação das perseguições e mesmo ao sacrifício da própria vida por amor ao próximo.

No que diz respeito ao domínio particular da sexualidade, é conhecida a posição firme que Jesus tomou em defesa da indissolubilidade do matrimônio e a condenação que pronunciou até a propósito do simples adultério cometido no coração. Poderá alguém não ficar impressionado diante do preceito de arrancar um olho ou de cortar uma mão se esses órgãos forem ocasião de escândalo?

A permissividade moral não torna os homens felizes. Tal como a sociedade de consumo não traz alegria ao coração. O ser humano só se realiza na medida em que sabe aceitar as exigências que provêm da sua dignidade de ser criado “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1, 27). Por isso, se hoje a Igreja diz coisas que não agradam, é porque se sente obrigada a fazê-lo. Ela o faz por dever de lealdade.

Mas então não é verdade que a mensagem evangélica é uma mensagem de alegria? Pelo contrário, é absolutamente verdade! E como é isso possível? A resposta encontra-se numa palavra, numa só palavra, numa palavra curta mas com um conteúdo vasto como o mar. Essa palavra é: amor. O rigor do preceito e a alegria do coração podem perfeitamente conciliar-se. Quem ama não receia o sacrifício. Antes procura no sacrifício a prova mais convincente da autenticidade do seu amor.

Não é esta porventura a experiência que vós mesmos fazeis em relação à pessoa que amais? Por mais exigentes que sejam as demandas que ela vos propõe, vós não experimentais fadiga em cumpri-las, e o próprio sacrifício que tal cumprimento vos custa se converte para vós em fonte mesma de alegria.

Eis o segredo, caríssimos jovens, de uma vida cristã ao mesmo tempo coerente e alegre: o segredo está em um amor sincero, pessoal e profundo a Cristo. O meu desejo é que cada um de vós descubra um amor semelhante, porque assim os valores que se encontram na base da norma ser-vos-ão revelados em sua própria verdade e as dificuldades que encontrais em praticá-la tornar-se-ão mais leves. Diz Agostinho: Nam in eo, quod amatur, aut non laboratur, aut et labor amatur, isto é, “Naquilo que se ama, ou não se cansa, ou se ama o próprio cansaço” (De Bono Viduitatis, 21, 26).
Jovens, esta é, portanto, a minha resposta: amai a Cristo e aceitai as exigências que a Igreja em seu nome vos coloca, porque são as exigências que provêm de Deus, Criador e Redentor do homem. Aceitai estas exigências na vossa vida e descobri-lhes o valor. Para tanto, faz-se necessário que escuteis sempre a palavra de Deus e que encontreis com frequência o Ressuscitado na Eucaristia. Aconselho-vos ainda a não subestimar, nesse sentido, o valor do sacramento da Confissão. Deste modo podereis viver com força as exigências que haveis assumindo recebendo a Crisma.


Referências

Retirado do “Discurso durante encontro com os jovens holandeses em Amersfoort”, de 14 de maio de 1985.

Fonte: Site Padre Paulo Ricardo
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