quinta-feira, 17 de abril de 2025

Quinta Dor de Maria Santíssima – Morte de Jesus




Segunda Meditação para a Quinta-feira Santa

Et erit vita tua quasi pendens ante te – “A tua vida estará como suspensa diante de ti” (Dt 28, 66)


Sumário. Contemplemos a acerba dor de Maria Santíssima no Calvário, obrigada a assistir a Jesus moribundo e ver todas as penas que Ele padecia, sem, contudo, Lhe poder dar alívio. Então a aflita Mãe não cessou de oferecer a vida do Filho à divina justiça pela nossa salvação. Lembremo-nos que pelo merecimento de suas dores cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça. Por isso todos nós somos seus filhos. Ó, como a Virgem exerceu sempre e ainda exerce bem o ofício de Mãe! Mas como nos vemos nós como filhos?


I. Fogem as mães da presença dos filhos moribundos; e se por acaso alguma mãe se vê obrigada a assistir um filho que está para morrer, procura-lhe todos os alívios que pode dar. Concerta-lhe a cama, para que esteja em posição mais cômoda; serve-lhe refrescos, e assim a própria mãe procura mitigar a própria dor. Ah, mãe a mais aflita de todas as mães, ó Maria! Incumbe-vos o assistir a Jesus moribundo, mas não vos é permitido dar-Lhe algum alívio.


Maria ouviu o Filho dizer: Sitio — tenho sede; mas não lhe foi permitido dar uma gota de água para Lhe mitigar a sede. Só pode dizer-Lhe, como contempla São Vicente Ferrer: Filho, não tenho senão a água de minhas lágrimas. Fili, non habeo nisi aquam lacrimarum. Via que sobre aquele leito de morte, Jesus, pregado com três cravos de ferro, não achava repouso. Queria abraçá-Lo para Lhe dar alívio, ao menos para O deixar expirar entre seus braços; mas não podia. Via o pobre Filho, que naquele mar de aflições buscava quem O consolasse, como Ele já tinha predito pela boca do profeta Isaías (1). Mas quem entre os homens O desejava consolar, se todos eram seus inimigos? Mesmo sobre a cruz um O blasfemava e escarnecia de uma maneira, outro de outra, tratando-O como um impostor, ladrão, usurpador sacrílego da divindade, digno de mil mortes.


O que mais aumentou a dor de Maria e a sua compaixão para com o Filho, foi ouvi-Lo sobre a cruz lamentar-se de o Eterno Pai também O ter abandonado: Deus, Deus meus, ut quid dereliquisti me? (2) — “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Palavras, como disse a Bem-aventurada Virgem à Santa Brígida, que não puderam nunca mais sair-lhe da idéia, enquanto viveu. De modo que a aflita Mãe via o seu Jesus atormentado de todas as partes; queria aliviá-Lo mas não podia. Pobre Mãe!


II. Pasmavam os homens, diz Simão de Cássia, vendo que a divina Mãe guardava o silêncio, sem se queixar no meio da sua grande dor. Mas, se Maria guardava o silêncio com a boca, não o guardava com o coração, porquanto naquelas horas não fazia se não oferecer à justiça divina a vida do Filho pela nossa salvação. Saibamos, pois, que pelo mérito de suas dores ela cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça e por conseguinte somos filhos de suas dores: Mulier, ecce filius tuus (3) — “Mulher, eis aí teu filho”.


Naquele mar de amargura era este o único alívio que então a consolava: o saber que por meio de suas dores nos conduzia à salvação eterna. — Desde então começou Maria a exercer para conosco o ofício de boa Mãe; pois que, como atesta São Pedro Damião, foi pelas súplicas de Maria que o bom ladrão se converteu e se salvou, querendo a divina Mãe recompensá-lo assim pela delicadeza que outrora lhe mostrou na viagem ao Egito. E o mesmo ofício de mãe tem a Bem-aventurada Virgem continuado sempre e continua a exercer. Nós, porém, com as nossas obras mostramo-nos deveras seus dignos filhos?


Ó Mãe, a mais aflita de todas as mães! Morreu, enfim, vosso Filho, tão amável e que tanto vos amava! Chorai; que tendes razão para chorar. Quem jamais poderá consolar-vos? Só vos pode consolar o pensamento que Jesus com sua morte venceu o inferno, abriu o céu fechado aos homens, e ganhou tantas almas. Do trono da cruz reinará sobre tantos corações que, vencidos pelo amor, com amor Lhe servirão. Não recuseis entretanto, ó minha Mãe, que vos acompanhe a chorar convosco, já que mais que vós tenho razão de chorar pelas ofensas que tenho feito a Vosso Filho. Ah, Mãe de Misericórdia! Em primeiro lugar pela morte de seu Redentor, e depois pelos merecimentos de vossas dores, espero o perdão e a salvação eterna.


Referências:


(1) Is 63, 5

(2) Mt 27, 46

(3) Jo 19, 26



(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 413-415)

Créditos: Rumo à Santidade 

Quinta-feira Santa - O Dia do Amor (por Santo Afonso Maria de Ligório)





Sciens Iesus quia venit hora eius, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in funem dilexit eos – “Sabendo Jesus que era chegada a hora de passar deste mundo para o Pai, como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1)

Sumário. Embora Jesus Cristo em todo o curso de sua vida mortal nos tivesse amado ardentemente e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente pela instituição do Santíssimo Sacramento. Aí o Senhor se faz não só nosso constante companheiro, mas ainda nosso sustento e se nos dá todo inteiro. Com muita razão, portanto, Santa Maria Madalena de Pazzi chamava a quinta-feira santa o Dia do Amor

I. Um pai amoroso nunca patenteia melhor a sua ternura e o seu afeto para com o filhos do que no fim da sua vida, quando os vê em torno do seu leito, aflitos e com os olhos em pranto, e pensa que em breve deve abandoná-los. Tira do seu coração e põe sobre os seus lábios o resto de sua vida prestes a extinguir-se, abraça aqueles penhores queridos do seu amor, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes no rosto os mais ternos beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, lança-lhes a sua bênção. Depois manda trazer o que mais precioso possui e dando a cada um uma última lembrança: Tomai, diz, e lembrai-vos sempre do amor que vos tenho dedicado.


Foi exatamente assim que quis fazer conosco Jesus Cristo, verdadeiro Pai da nossa alma e Pai tão amante, que na terra não tem havido, nem jamais haverá outro igual. Embora em todo o curso da sua vida mortal nos tivesse amado com amor ardente, e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento. E por isso, na mesma noite em que devia ser traído, reuniu os seus discípulos ao redor de si, instituiu a Santíssima Eucaristia, e disse-lhes para os consolar de sua próxima partida:


Filhos meus, vou morrer por vós, para vos mostrar o amor que vos tenho. Posto que, escondido debaixo das espécies sacramentais, deixo-vos o meu corpo, a minha alma, a minha divindade, a mim mesmo todo. Numa palavra, não quero nunca estar separado de vós, enquanto estiverdes na terra: Ecce ego vobiscum sum, usque ad consummationem saeculi (1) – “Eis que estou convosco, até a consumação dos séculos”.

– Meu irmão, que tal te parece esta extrema fineza de Jesus Cristo? Não tinha razão Santa Maria Madalena de Pazzi de chamar a quinta-feira santa o dia do amor?

II. Jesus Cristo não satisfez o seu amor, fazendo-se nosso constante companheiro; quis ainda fazer-se nosso sustento, afim de se unir intimamente à nossa alma, e santificá-la com a sua presença. E nesta manhã, qual amante apaixonado, que deseja ser correspondido, de dentro da Hóstia consagrada, onde nos observa sem ser visto, está espreitando todos os que se preparam para alimentar-se com a sua carne divina, observa em que pensam, o que amam, o que desejam e as ofertas que irão apresentar-lhe.

Irmão meu, prepara-te para recebê-lo com as devidas disposições. Aviva a tua fé na presença real de Jesus Cristo neste inefável mistério; dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te que te pode fazer todo o bem, muito te amam e vem a ti exatamente para te enriquecer com as suas graças. Humilha-te profundamente diante da sua divina majestade, e lembrando-te que no passado, em vez de amares um Deus tão bom, o tens magoado, voltando-lhe as costas e desprezando a sua amizade, pede-lhe perdão e toma a resolução de que para o futuro antes quererás morrer do que tornar a ofendê-lo. – Mas prepara-te sobretudo para receber Jesus Cristo com amor, e convida-o pelo desejo.


Vinde, ó meu Jesus, vinde depressa e não tardeis. Ó meu paraíso, meu amor, meu tudo, quisera receber-Vos com aquele amor com que Vos receberam as almas mais santas e mais amantes, com que Vos recebeu Maria Santíssima. Uno a minha comunhão de hoje com as suas. – Santíssima Virgem e minha Mãe Maria, eis que vou receber o vosso Filho. Quisera ter o vosso coração e o amor com que recebeis a santa comunhão. Dai-me hoje o vosso Jesus, assim como o destes aos pastores e aos santos Magos. Desejo recebê-lo de vossas mãos puríssimas. Dizei-lhe que sou vosso servo devoto, porque assim me olhará com olhar mais amoroso e me apertará mais estreitamente contra o seu Coração, quando vir a mim.



Referências:

(1) Mt 28, 20




(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 410-413)

 
Créditos: Rumo à Santidade

Como os Anjos oram por nós durante a Santa Missa




É certo que os Anjos estão presentes à Santa Missa. A Igreja o afirma. Já o Profeta Real canta:

"Ordenou a seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos. (Sl 90 (91), 11)” 

Segue-se disto que os Anjos nos acompanham os passos. Quando, porém, nos dirigimos para o altar do Senhor, é, com mais alegria, com maior satisfação, que desempenham o seu ofício, afugentando os maus espíritos que querem perturbar-nos a devoção, impondo silêncio ao seu cochichar dissipado que chamamos de distrações. Há, pelo menos, o mesmo número de Anjos presentes à Santa Missa que de pessoas, visto que cada assistente tem seu Anjo da Guarda, que lhe ajuda a orar e adorar a Jesus Cristo sobre o altar. Pede, pois, ao teu que ouça a Santa Missa por ti e contigo e sua oração inflamada suprirá as misérias da tua. 

Além dos Anjos da Guarda, príncipes da milícia celeste estão igualmente presentes no altar, porque o Rei dos Anjos, descendo do céu, em pessoa, convém que seus ministros rodeiem e lhe prestem homenagens. 

Assistindo à Santa Missa, podemos, pois, dizer a Deus com o Rei Davi: 

“Adorar-vos-ei, no vosso santo tabernáculo, cantarei vossos louvores, na presença dos espíritos celestes e bendirei vosso santo nome. (Sl 137 (138), 1-2).” 

Estás, portanto, ajoelhado no meio destes espíritos puros que ouvem a Santa Missa contigo e oram, ardentemente, por tua salvação. 

Diz São João Crisóstomo: 

“Lembra-te, ó homem, junto de quem te achas, durante este misterioso Sacrifício. Estás entre Querubins e Serafins, entre as Potências Celestiais. Comporta-te, pois, de modo a não entristecê-los com a tua impiedade, pelo contrário, regozija-os com o teu fervor.”


Quando o sacerdote celebra o sublime e temível Sacrifício, os Anjos assistem-no, e, em coro, elevam a voz para cantar a glória d’Aquele que se imola sobre o altar. Neste momento, não oram somente os homens, mas os próprios Anjos dobram de joelhos ante Deus e intercedem por nós; e esta oração dos Anjos é mais poderosa do que a nossa. É o tempo propício, pois, o Santo Sacrifício está ao dispor destas potências celestes. Entretanto, unidos os nossos rogos aos dos Anjos, os nossos pedidos atravessam as nuvens e são mais facilmente ouvidos do que se tivéssemos orado em casa, sozinhos. 

Os Anjos não somente estão presentes à Santa Missa, como também oferecem ao Altíssimo o Santo Sacrifício e as nossas orações. São João viu-os nesta sublime função e no-lo refere assim: 

“Veio então o Anjo e se pôs ante o altar, trazendo um turíbulo de ouro; e lhe foram dados muitos perfumes, a fim de que fizesse a oferta das orações de todos os Santos sobre o altar de outro, que está diante do trono de Deus. E a fumaça dos perfumes, emanados das orações dos santos, subiu da mão do Anjo até a presença de Deus. (Ap 8, 3-4)” 

Assim os Anjos apressam-se em recolher tuas orações durante a Santa Missa, para levá-las ao céu e espalhá-las, como perfume, em presença de Deus. E, se estas orações são unidas às de Jesus Cristo e dos Anjos, seu perfume é infinitamente agradável à Divina Majestade e tem uma eficácia muito maior, que todas as orações feitas fora da Santa Missa. Novo motivo, pois, para assistires, todos os dias, ao Santo Sacrifício, onde tão poderosos Anjos te esperam e transmitem-te os votos a Deus, vivificando-os com os seus santos ardores.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, por Frei Martinho de Cochem)

terça-feira, 15 de abril de 2025

A Santa Missa é a maior alegria dos Santos

Devemos ainda expor de que vantagem a Santa Missa é para os outros Santos. Devemos homenagem aos Santos. Eles são amigos de Deus que os honra; seguem Cristo vestidos de branco, porque disso são dignos (Ap 3, 5); e é deles que Nosso Senhor diz: “Quem vos glorifica, a mim glorifica.”

Durante a vida fugiram das honras, desprezaram-se a si próprios, sofreram com paciências as injúrias, os insultos, as perseguições dos maus. Por essa razão Deus manifesta-lhes a inocência e a virtude e quer que sejam reverenciados por toda a cristandade.

A história de Mardoqueu, que nos refere a Sagrada Escritura, é disso um exemplo. O piedoso servo de Deus viu-se cruelmente perseguido pelo orgulhoso Amã. Deus, porém, desfez as intenções perversas do favorito do Rei Assuero e glorificou a Mardoqueu diante de todo o povo. Quando o rei perguntou a Amã: Que se deve fazer para honrar aquele que o Rei deseja cumular de honra? Este, pensando que se tratava de sua pessoa, respondeu: É preciso que traga vestidos reais; que, montado no mesmo cavalo que o rei costuma montar, tenha, na cabeça, um diadema real; que o primeiro príncipe da corte lhe conduza o cavalo e, percorrendo as praças e as ruas da cidade, exclame: 

É assim que será honrado aquele a quem o rei deseja honrar. 

O rei lhe respondeu:  Depressa, toma um vestido e uma montada e trata, como disseste, ao judeu Mardoqueu que está à porta do palácio, e cuida em não omitir coisa alguma de quanto acabas de dizer (Es 6). 

Se um rei pagão remunerou assim o serviço de um homem, que glória não reservará Deus aos seus servos fiéis?! De que magnificência não os cercará no dia de sua feliz entrada no céu e quando a Igreja celebra a sua festa na terra! 

Sob inspiração do Espírito Santo, a Igreja exprime a admiração por seus filhos vitoriosos com os ofícios próprios do breviário, com cânticos, prédicas, procissões, peregrinações, mas, principalmente, pelo Sacrifício da Missa. Assim será honrado a quem o Rei dos Céus quiser honrar. 

Na verdade, a honra mais excelente é prestada aos Santos pelo Santo Sacrifício do Altar, se mandamos celebrá-lo ou, se o assistimos, com a intenção de aumentar-lhes a honra acidental. 

Para honrar um príncipe dá-se, às vezes, uma representação teatral, e, se bem que, na peça não se faça menção dele, o príncipe nisto experimenta prazer. Da mesma maneira, apesar de, na Santa Missa, representar-se só a vida e paixão do Divino Salvador, os Santos sentem grande alegria e delícias singulares, quando este espetáculo se realiza em sua honra, e todo o céu se regozija. 

Quando o sacerdote pronuncia o nome dos Santos, o coração se lhes enternece, porque, observa São João Crisóstomo, tendo o rei alcançado a vitória, o povo, querendo lhe exaltar os feitos, nomeará também os companheiros de armas do herói que, valentemente, destroçou o inimigo. Da mesma forma, é uma grande honra para os Santos serem nomeados, em presença de seu Divino Mestre, do qual se celebram, como em triunfo, a paixão e a morte, ouvindo louvar as vitórias alcançadas sobre o inimigo infernal.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, Frei Martinho de Cochem)


A Santa Missa é a maior alegria da Mãe de Deus





A Mãe de Deus e todos os Santos gozam de uma felicidade dupla: da bem-aventurança essencial e da bem-aventurança acidental. A primeira consiste na vista e na posse de Deus, conforme o grau de glória, na qual foram confirmados, no momento de sua entrada no céu. Esta bem-aventurança essencial não pode aumentar nem diminuir. A bem-aventurança acidental consiste nas honras particulares que Deus, os outros Santos e os homens rendem aos felizes habitantes do céu. Podemos acreditar, por exemplo, que, quando celebramos sua festa aqui na terra, eles recebem no céu honras particulares e que todas as nossas orações e boas obras feitas em sua honra lhes sejam apresentadas por nossos Anjos como um ramalhete de perfume delicioso. 

As revelações de Santa Gertrudes confirmam esta crença, e o Evangelho a indica, claramente, por estas palavras de Nosso Senhor: 

“Assim vos digo que haverá mais júbilo entre os Anjos de Deus por um pecador que faz penitência. (Lc 15, 10)” 

Esta alegria se renova pelo Bom Pastor, pelos Anjos e pelos Santos a cada volta de uma ovelha desgarrada, porém, cessa logo que o pecador deixa de novo o aprisco por uma recaída no pecado. 

Este curto esclarecimento fará compreender em que sentido a Santa Missa é a maior alegria de Maria Santíssima: é a maior alegria acidental e ultrapassa todas as outras felicidades desta ordem.

Se, em honra da Rainha do Céu, recitasses o terço, o ofício, as ladainhas, ou entoasses cânticos, enquanto um outro assistisse, piedosamente, à Santa Missa, este último cumpriria um ato de religião muito superior e, de mais, causaria um prazer infinitamente maior à Santíssima Virgem. 

O que torna ainda a Santa Missa muito cara à Mãe de Deus, é o zelo que tem pela glória de Deus, que a Divina Majestade faz consistir, sobretudo, na salvação das almas. Pelo Santo Sacrifício do Altar, prestamos à Augusta Trindade a única homenagem digna d’Ela e lhe oferecemos, ao mesmo tempo, o preço da redenção do gênero humano. Ainda uma vez, que prazer agradável, suave, perfeito para Maria Santíssima ver-nos cercar o altar, onde seu amado Filho é adorado, onde choramos os nossos pecados, onde contemplamos a Dolorosa Paixão e onde o Precioso Sangue é derramado sobre nossas almas! 

Daí compreenderás facilmente com que benevolência a Santa Virgem acolhe a prece dos cristãos devotos do Santo Sacrifício da Missa. Refere Barônio: 

“Em 989, Roberto, Rei da França, sitiava o castelo de São Germano. Os moradores defenderam-se, heroicamente, e muito sofreu o exército do rei. No sexto dia, Roberto exasperado ordenou o assalto; era para tudo temer. Os sitiados amedrontados dirigiram-se ao Bem-Aventurado Gilberto, monge beneditino. Este os exortou a confiar em Maria Santíssima e celebrou a Santa Missa em honra da Mãe de Deus, em seu altar, com piedosa assistência dos guerreiros do castelo. Ora, enquanto todos estavam em oração, um nevoeiro espesso envolveu a fortaleza e seus arredores. O ataque tornou-se impossível, ao passo que, do alto das torres, a guarnição, perfeitamente livre, seguia todos os movimentos dos assaltantes e lhes infligia perdas consideráveis. 

Roberto, vendo suas tropas muito enfraquecidas, levantou o sítio, e retirou-se apressadamente.” 

Sem dúvida, Maria nem sempre responde com milagres estrondosos aos nossos clamores de angústia, porém, nunca a invocamos em vão; e como ela está, por sua dignidade de Mãe de Deus, incomparavelmente mais próxima da Santíssima Trindade do que os outros Santos, sua intercessão é também mais poderosa do que a deles.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, por Frei Martinho de Cochem)

segunda-feira, 14 de abril de 2025

A importância da Santa Missa...




Jesus Cristo reservou a Santa Missa somente para si, porque só Ele, Verbo Eterno, pode oferecê-la de maneira soberanamente agradável à Santíssima Trindade! Segue-se daí que toda Missa é de um valor infinito, pois é celebrada pelo próprio Jesus Cristo com uma devoção, um respeito, um amor acima do entendimento dos Anjos e dos homens. 

Jesus Cristo mesmo revelou esta verdade a Santa Matilde, disse: 

“Só eu compreendo perfeitamente de que forma me imolo, todos os dias, sobre o altar pela salvação dos fiéis; os querubins e os serafins, nenhuma potestade celeste, saberiam compreendê-la inteiramente.”

Ó meu Jesus! Que impenetrável mistério e que felicidade para nós pobres pecadores, sermos admitidos à Santa Missa, onde efetuais essa salutar oblação! 

Caro leitor, considera bem estas palavras e quanto te é vantajoso assistir à Santa Missa, Nosso Senhor se oferece nela por ti; faz-se o mediador entre tua culpabilidade e a justiça divina, e retém o castigo que merecem cada dia os teus pecados. Ó, se abrisse bem os olhos a esta verdade, como amarias a Santa Missa; como suspirarias pela felicidade de assisti-la; como a ouvirias devotamente; como te lastimarias por faltar a uma só! Para poupar um tal prejuízo à tua alma, suportarias, de boa vontade, qualquer dano temporal. 

Os primeiros cristãos nos deixaram o exemplo disto; preferiam perder a vida a deixar de assistir à Santa Missa.” 

(“A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa” por Frei Martinho de Cochem)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

«De onde Lhe vem tudo isto? [...] Não é Ele o carpinteiro, o Filho de Maria?» (Comentário por São Boaventura)



    O Senhor Jesus, regressando do Templo e de Jerusalém a Nazaré com seus pais, viveu com eles até aos trinta anos «e era-lhes submisso» (Lc 2,51). As Escrituras não nos dizem o que Ele fez durante todo este tempo, o que é bastante surpreendente. [...] Mas, se olharmos com atenção, veremos claramente que, não fazendo nada, fazia maravilhas. Com efeito, todos os seus gestos revelam o seu mistério. E, assim como agia com poder, também Se calou com poder, permanecendo recolhido na obscuridade com poder. O Mestre soberano, que veio ensinar-nos os caminhos da vida, começa desde a sua juventude a fazer obras poderosas, mas de uma forma surpreendente, incógnita e inconcebível, parecendo aos olhos dos homens inútil, ignorante e a viver no opróbrio. [...]

    Ele apreciava esta maneira de viver, para ser julgado por todos como um ser pequeno e insignificante como fora anunciado pelo profeta, que dissera em seu nome: «Sou um verme e não um homem» (Sl 22,7). Era isso que Ele fazia, não fazendo nada: tornar-Se desprezível [...]; parece-te pouca coisa? Não era Ele que tinha necessidade disso, evidentemente, somos nós, pois não conheço coisa mais difícil nem mais grandiosa. Parece-me que chegaram ao mais alto grau aqueles que, de todo o seu coração e sem fingimento, se possuem o suficiente para não quererem de outrem senão o desprezo, não contar para coisa alguma e viver em abaixamento extremo. É uma vitória maior que a tomada de uma cidade.


Fonte: Evangelho Quotidiano


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