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terça-feira, 4 de abril de 2017

Comentário ao Evangelho (04/04) por Santo Agostinho



Comentário do dia 
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
Sermão sobre o evangelho de João, n.º 12

«Quando levantardes o Filho do homem, então sabereis que ‘Eu sou’».

Cristo tomou a morte e pregou-a na cruz, e os homens mortais foram libertados da morte. O Senhor recorda o que aconteceu no passado de forma simbólica: «Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna» (Jo 3,14-15). Mistério profundo! [...] Com efeito, o Senhor ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, a elevasse sobre um poste no meio do deserto, e comunicasse ao povo de Israel que, se alguém fosse mordido por uma serpente, olhasse para a serpente elevada no alto do poste. Os israelitas olhavam para ela e ficavam curados (Nm 21,6-9). 

O que representam as serpentes que mordem? Representam os pecados que provêm da mortalidade da carne. E o que é a serpente que foi elevada? É a morte do Senhor na cruz. Com efeito, como a morte veio pela serpente (Gn 3), foi simbolizada pela efígie de uma serpente. A mordedura da serpente produz a morte; a morte do Senhor dá a vida. O que significa isto? Que, para que a morte deixe de ter poder, temos de olhar para a morte. Mas para a morte de quem? Para a morte da Vida - se se pode falar da morte da Vida; e, como se pode, a expressão é maravilhosa. Hesitarei em referir o que o Senhor Se dignou fazer por mim? Pois Cristo não é a Vida? E, contudo, Cristo foi crucificado. Cristo não é a Vida? E, contudo, Cristo morreu. Na morte de Cristo, a morte encontrou a morte. [...]; a plenitude da vida engoliu a morte, a morte foi aniquilada no corpo de Cristo. É isto que diremos à ressurreição quando cantarmos triunfantes: «Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» (1Cor 15,55).

Fonte: Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 1 de março de 2017

Quarta-feira de Cinzas, início da Quaresma - Padre Paulo Ricardo


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 6, 1-6.16-18)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus.

Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.

Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.

Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa".

O tempo da Quaresma, a que hoje damos início, é um tempo de aprofundamento espiritual especialmente dedicado à nossa santificação pessoal, por meio sobretudo do jejum e de outros exercícios penitenciais, como, por exemplo, a esmola e as pequenas mortificações e renúncias, obras a que a santa mãe Igreja, não só neste período do ano litúrgico, mas a todo instante exorta seus filhos e súditos. A finalidade da Quaresma é, portanto, uma só — santificar-nos —, se bem possa ser articulada em seus dois momentos constitutivos: afastar-nos do pecado, por um lado, e aproximar-nos de Deus, por outro. Trata-se, nesse sentido, de um único movimento de conversão em cujo termo inicial somos impulsionados, de modo mais direto, pela virtude sobrenatural da penitência, pela qual, "num esforço pessoal de retificação de vida e de a viver com mais fidelidade, reparando, por qualquer privação voluntária, as negligências de outros tempos" [1], arrependemo-nos sinceramente das faltas por nós cometidas enquanto ofensas a Deus [2].

Um segundo aspecto da espiritualidade quaresmal, relacionado mais estreitamente com nossa aproximação de Deus e, de maneira geral, um pouco negligenciado pelo comum dos fiéis, é a necessidade de dedicar-se mais à oração. Por isso, um propósito que todos, bem aconselhados por nosso diretor espiritual, podemos fazer é o de comungar com frequência; se possível, todos os dias, pois é este o meio mais eficaz, observadas as prescrições da Igreja, de entrarmos em contato com Aquele que deseja, com sede de amor, unir-se a nós pela virtude teologal da fé. Com efeito, a nossa justificação, em função da qual temos de viver este tempo de Quaresma, consiste não só na infusão da graça santificante e na remissão da culpa, mas também num movimento livre de nossa vontade em direção a Deus, por atos de fé informada pela caridade, e para longe do pecado, por atos de penitência e arrependimento [3].

Peçamos, pois, à Virgem Santíssima, Mater Dolorosa, que nos acompanhe ao longo destes próximos quarenta dias de preparação para Páscoa e, por sua materna intercessão, alcance-nos de seu Filho a graça de vivermos este tempo, não como os hipócritas e vaidosos de que nos fala o Evangelho de hoje, mas como filhos pródigos e humildes, que, desejando voltar o quanto antes à casa paterna, só pensam e querem o que pode agradar e consolar o coração dAquele que nos vê e ama no segredo de nosso coração pecador.

Referências

D. Gaspar Lefebvre (org.), Missal Romano Quotidiano. Trad. port. dos monges beneditinos de Singeverga. Bruges: Biblica, 1963, p. 136.
Cf. A. Royo Marín, Espiritualidad de los Seglares. Madrid: BAC, 1967, p. 211, n. 148.
Cf. Santo Tomás de Aquino, Sum. Th. III, q. 86, a. 6, ad 1.

Fonte: padrepauloricardo.org
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Comentário do dia (09/02) por Guiges, o Cartuxo


Comentário do dia
Guigues o Cartuxo (1083-1136), prior da Grande Cartuxa
Carta sobre a vida contemplativa, 6-7

«Ela veio prostrar-se a seus pés»

«Senhor, Tu que só os corações puros podem ver (Mt 5,8), eu procuro, na leitura e na meditação, encontrar a verdadeira pureza do coração e a forma de a obter para poder, graças a ela, conhecer-Te, por pouco que seja. Procurei o teu rosto, Senhor, procurei o teu rosto (Sl 26,8). Meditei muito dentro do meu coração, e um fogo se iluminou na minha meditação: o desejo de Te conhecer melhor. Quando partes para mim o pão da Sagrada Escritura, eu reconheço-Te nessa fração de pão (Lc 24,30-35). E quanto melhor Te conheço, mais desejo conhecer-Te, não só no sentido do texto, mas no sabor da experiência. 

Não o peço, Senhor, pelos meus méritos, mas por causa da tua misericórdia. Devo confessar que sou, realmente, pecador e indigno, mas "também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças". Dá-me portanto, Senhor, em fiança pela herança futura, ao menos uma gota da chuva celeste para refrescar a minha sede, pois estou sequioso de amor. [...]» 

É através deste tipo de discursos que a alma chama pelo seu Esposo. E o Senhor, que olha pelos justos e que não ouve apenas as suas preces mas está presente nessa oração, não espera pelo final. Ele interrompe o discurso a meio, aparece de repente, vem rapidamente ao encontro da alma que O deseja, fluindo no doce orvalho do céu como o perfume mais precioso. Ele recria a alma fatigada, alimenta a que tem fome, fortifica a sua fragilidade, reaviva-a mortificando-a através de um admirável esquecimento de si própria, torna-a sóbria ao inebriá-la.

Créditos: Evangelho Quotidiano

Comentário ao Evangelho (07/02) por Santo Tomás de Aquino



Cinco Chagas do Senhor - Festa
Comentário do dia
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja
Comentário sobre a Epístola aos Gálatas, 6

O nosso título de glória é o Filho do Homem entregue nas mãos dos homens

«Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo», diz São Paulo (Gal 6,14). Repara, observa Santo Agostinho: onde o sábio segundo este mundo julgou encontrar a vergonha, aí descobriu o apóstolo Paulo um tesouro; pois aquilo que para outro é loucura é para ele sabedoria (1Cor 1,17s) e título de glória. 

Com efeito, cada um retira a sua glória daquilo que, a seus olhos, o torna grande; se julga ser um homem importante por ser rico, glorifica-se nos seus bens. Mas aquele que não encontra grandeza para si senão em Jesus Cristo põe a sua glória apenas em Jesus; assim era o apóstolo Paulo, que dizia: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim»(Gal 2,20). É por isso que apenas se gloria em Cristo, e sobretudo na cruz de Cristo. É que nesta cruz estão reunidos todos os motivos de glória que um homem pode ter. 

Há pessoas que retiram a sua glória da amizade com os grandes e poderosos; Paulo, porém, apenas tem necessidade da cruz de Cristo, onde descobre o sinal mais evidente da amizade de Deus: «Deus demonstra o seu amor para connosco pelo facto de Cristo haver morrido por nós quando ainda éramos pecadores» (Rom 5,8). Não, nada manifesta tão bem o amor de Deus para connosco como a morte de Cristo. «Oh, testemunho inestimável do amor!», exclama São Gregório. «Para resgatar o escravo, entregastes o Filho!»

Créditos: Evangelho Quotidiano

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Homilia de Santo Efrém sobre o Natal



Hoje, Maria, ao levar a divindade, se tornou para nós céu; e Cristo, sem deixar a glória paterna, se encerrou nos apertados limites do ventre materno, para exalçar os homens à dignidade mais elevada. Escolheu só esta Virgem, dentre todas as virgens, para instrumento de nossa salvação.

Nela se realizaram todos os vaticínios de todos os justos e profetas. Dela própria saiu aquele esplendidíssimo astro sob cuja guia o povo que andava em trevas viu grande luz. (Is 9,2)

De diversos nomes pode ser Maria acertadamente designada. E, com efeito, é ela o templo do filho de Deus que dela saiu de modo diverso do que entrou, pois no ventre entrara sem corpo e dele saíra revestido de nossa humanidade.

É ela o místico novo céu (Ap 21,1) em quem habitou, como em sua sede, o Rei dos reis, e donde baixou à terra, levando diante de si forma e semelhança terrenas. É ela a videira de frutificação de suave odor (Ecle 24,23), cujo fruto, embora diferente da natureza da árvore, dela devia ter tomado algo semelhante.

É ela a fonte que brota (Joel 3,18) da casa do Senhor da qual jorraram para os sedentos águas vivas que matarão a sede para sempre (Jo 4,13) de todo aquele que apenas com os lábios as tiver provado.

Erra, portanto, caríssimos, quem julga poder comparar-se o dia de hoje de reparação ao da criação! E, de fato, no princípio, a terra foi criada; hoje, foi renovada. No início, dado o crime de Adão, foi maldita por causa da obra dele (Gn 3,17); hoje, porém, a paz e a segurança lhe foi restituída. No início, pelo delito dos primeiros pais, a morte passou a todos os homens (Rm 5,12); hoje, no entanto, por Maria, passamos da morte à vida (1Jo 3,14) No início, a serpente penetrou nos ouvidos de Eva, donde o veneno infeccionou todo o corpo: hoje, Maria deu ouvidos à afirmação da felicidade perpétua. O que, portanto, fora de morte passou a ser, ao mesmo tempo, instrumento de vida.

Aquele cujo trono assenta sobre os querubins (Sl 98,1) ei-lo sentado nos braços de uma mulher; aquele que o mundo todo não encerra, só Maria o abraça; aquele que os tronos e as dominações reverenciam, a donzela acaricia; aquele cuja sede se acha nos séculos dos séculos (Sl 44,7), eis que se senta nos joelhos virginais; a terra é escabelo de seus pés, tocando-a com as plantas dos pés infantis.

Ó feliz e afortunado Adão, que, ao nascer o Senhor, recobrou a honra e o esplendor perdidos! Felicíssimos mortais que, vasos de ira para a morte (Rm 9,22) lhe deram o revestimento da própria argila! Redirei felicíssimos aqueles a quem foi dado ver o fogo de nossos corações envolto em seus paninhos!

Tamanhas coisas fez Deus para corrigir a estultície de um só homem! Visto que o servo caíra pela própria soberba, o Senhor o levantara em sua humildade.

Demos, pois, irmãos caríssimos, graças a Deus Pai que, para remir servos, entregou o próprio Filho. Exaltemos igualmente a Jesus com os máximos louvores, pois curou com tanta felicidade as feridas dos homens. E, por fim, veneremos piamente o Espírito de ambos, que nos foi dado (Rm 5,5) para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância. (Jo 10,10)

Santo Efrém, Doutor da Igreja. Sermão III de diversis
 
Cŕeditos: GRAA

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Comentário ao Evangelho (13/08) por Santo Agostinho de Hipona


Comentário do dia 
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja 
1º sermão

«Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos» (Mt 5,12)

Todo o homem é devedor de Deus e tem o seu irmão como seu devedor. Haverá alguém que não deva nada a Deus, senão Aquele em quem não se pode encontrar pecado? E quem é o homem que não tem um irmão como seu devedor, senão aquele a quem ninguém ofendeu? Parece-te possível que haja um único homem a quem não se possa contabilizar qualquer falta para com um irmão?

Portanto, todo o homem é devedor de alguém e tem os seus devedores. Por isso Deus, que é justo, deu-te uma regra para seguires com o teu devedor, e Ele próprio aplicará esta regra para com o seu. Existem, com efeito, duas obras de misericórdia que nos podem libertar; o próprio Senhor as formulou de uma forma breve no seu Evangelho: «Perdoai e ser-vos-á perdoado», «Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6,37ss). A primeira tem a ver com o perdão, a segunda com a caridade.

Tu desejas obter o perdão dos teus pecados e também tens pecados a perdoar a alguém. O mesmo se passa com a caridade: o mendigo pede-te esmola e tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando pedimos, mendigos de Deus. Todos nos prostramos diante da porta do nosso Pai, da sua enorme riqueza. E suplicamos-Lhe gemendo, desejosos de receber dele alguma coisa: ora essa coisa é o próprio Deus. Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes a Deus? Nada menos que o próprio Cristo, que disse: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu» (Jo 6,51). Quereis ser perdoados? «Perdoai e sereis perdoados.» Quereis receber? «Dai e dar-se-vos-á.»

Créditos: Evangelho Quotidiano

domingo, 26 de julho de 2015

Santa Maria Madalena. Das Homilias sobre os evangelhos, de São Gregório Magno, papa



Das Homilias sobre os evangelhos, de São Gregório Magno, papa
(Hom.25,1-2.4-5:PL 76,1189-1193)(Séc.VI)

Sentia o desejo ardente de encontrar a Cristo,
que julgava ter sido roubado

Maria Madalena, tendo ido ao sepulcro, não encontrou o corpo do Senhor. Julgando que fora roubado, foi avisar aos discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que a mulher lhes dissera. Sobre eles está escrito logo em seguida: Os discípulos voltaram então para casa (Jo 20,10). E depois acrescenta-se: Entretanto, Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando (Jo 20,11).

Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade daquele que julgava ter sido roubado. Por iso, só ela o viu então, porque só ela o ficou procurando. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10,22).

Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a procurar, e conseguiu encontrar. Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar. Pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos. Quem experimentou este amor ardente, pôde alcançar a verdade. Por isso afirmou Davi: Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Também a Igreja diz no Cântico dos Cânticos: Estou ferida de amor (Ct 5,8). E ainda: Minha alma desfalece (cf.Ct 5,6).

Mulher, por que choras? A quem procuras? (Jo 20,15). É interrogada sobre o motivo de sua dor, para que aumente o seu desejo e, mencionando o nome de quem procurava, se inflame ainda mais o seu amor por ele.

Então Jesus disse: Maria (Jo 20,16). Depois de tê-la tratado pelo nome comum de mulher sem que ela o tenha reconhecido, chama-a pelo próprio nome. Foi como se lhe dissesse abertamente: Reconhece aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti. Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: Rabuni, que quer dizer Mestre (Jo 20,16). Era ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era ele que a impelia interiormente a procurá-lo.

Fonte: O Camponês

sábado, 25 de julho de 2015

Amor à Virgem, Amor ao Cristo


Com um só decreto Deus Todo-Poderoso estabeleceu a Encarnação do Verbo e a existência de Maria Santíssima; por conseguinte, tudo o que se refere à Virgem Maria é profundamente cristocêntrico, e tudo o que se refere a Cristo Jesus, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, é intrinsecamente mariano! Que Mistério grandioso, comovente e maravilhoso! Quanto mais amamos e adoramos a Beatíssima Trindade, por meio da Pessoa Maravilhosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, mais profunda e reverente é a nossa veneração à Soberana Virgem, Sua Mãe Imaculada. Da mesma forma, quanto mais honrarmos e amamos à Santíssima Virgem Nossa Senhora, mais estaremos honrando ao Cristo Senhor.

Que esta reflexão sirva para que cresçamos em devoção e Amor à Virgem Mãe, Suserana Nossa, e para que procuremos uma identificação, cada dia maior, com a Consagração Total a Ela - que muitos de nós já fizemos ou estamos prestes a fazer.

Christian dos Santos Claudino

domingo, 31 de maio de 2015

Comentário ao Evangelho (31/05, Solenidade da Santíssima Trindade) feito por Santo Antônio de Lisboa



Comentário do dia
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos


«Um só Deus, um só Senhor, na trindade das pessoas e na unidade da natureza» (Prefácio)

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são de uma só substância e de uma inseparável igualdade. A unidade está na essência, a pluralidade nas pessoas. O Senhor indica abertamente a unidade da essência divina e a trindade das pessoas quando diz: «Baptizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.» Não diz «nos nomes», mas «em nome», mostrando assim a unidade da essência. Em seguida, porém, emprega três nomes, para mostrar que há três pessoas.

Nesta Trindade se encontra a origem suprema , a beleza perfeita, a alegria bem-aventurada de todas as coisas. A origem suprema, afirma Santo Agostinho no seu livro sobre a verdadeira religião, é Deus Pai, de quem provêm todas as coisas, de quem procedem o Filho e o Espírito Santo. A beleza perfeita é o Filho, a verdade do Pai, que em nada se distingue dele, que veneramos com o Pai e no Pai, que é o modelo de todas as coisas, porque tudo foi feito por Ele e tudo se refere a Ele. A alegria bem-aventurada, a soberana bondade, é o Espírito Santo, que é o dom do Pai e do Filho; e devemos crer e manter que este dom é exactamente como o Pai e o Filho.

Ao contemplar a criação, concluímos pela Trindade de uma só substância. Apreendemos um só Deus: Pai, de quem somos, Filho, por quem somos, Espírito Santo, em quem somos. Príncipe, a quem recorremos; modelo, que seguimos; graça, que nos reconcilia.

Créditos: Evangelho Quotidiano

São Luís Maria de Montfort ensina como rezar o Santo Rosário


O Santo Rosário, na forma como é rezado presentemente, foi inspirado à Igreja, e dado pela Santíssima Virgem a São Domingos, no ano de 1214, para converter os albigenses e os pecadores, conforme relatou o Beato Alano de la Roche.

São Domingos, inspirado pelo Espírito Santo, instruído pela Santíssima Virgem e por sua própria experiência, pregou o Rosário todo o resto de sua vida.

Desde o estabelecimento do Rosário por São Domingos, até 1460, quando o Beato Alano o restabeleceu por ordem do Céu, ele foi chamado de Saltério de Jesus e da Virgem, porque contém 150 Ave-Marias — o mesmo número dos Salmos de Davi.

AS ORAÇÕES VOCAIS DO ROSÁRIO

1. Credo, ou Símbolo dos Apóstolos, é rezado na Cruz do Rosário.
Contém ele um resumo das verdades cristãs e é uma oração de grande mérito, porque a fé é o fundamento e o princípio de todas as virtudes cristãs e de todas as orações que agradam a Deus. “Creio em Deus” contém os atos das três virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade, e têm uma eficácia maravilhosa para santificar a alma e aterrorizar o demônio.

2. O Pai Nosso, ou Oração Dominical (de Dominus, Senhor), tira sua primeira excelência de seu Autor, Jesus Cristo, o próprio Rei dos Anjos e dos homens.

“Era necessário, diz São Cipriano, que Aquele que nos veio dar a vida da graça como Salvador, nos ensinasse como Mestre a maneira de rezar”.

O Pai-Nosso contém todos os deveres que nós temos em relação a Deus; contém ademais os atos de todas as virtudes e os pedidos para todas as nossas necessidades espirituais e corporais.

Ele é o resumo do Evangelho, como diz Tertuliano. Ele ultrapassa, diz Tomás de Kempis, todos os desejos dos Santos; compreendia todas as doces sentenças dos salmos e dos cânticos; pede tudo o que nos é necessário; louva a Deus de modo excelente; e eleva a alma da terra ao céu, unindo-a estreitamente a Deus.

Devemos recitar a Oração Dominial na certeza de que o Pai Eterno a atenderá, pois é a oração de seu Filho, que Ele sempre atende.

Santo Agostinho assegura que o Pai-Nosso bem rezado apaga os pecados veniais.

Dizendo: “Pai nosso, que estais no Céu”, formulamos atos de fé, de adoração e de humildade. Desejando que seu Nome seja santificado e glorificado, manifestamos zelo por sua glória.
Pedindo-Lhe que venha a nós o seu Reino, fazemos um ato de esperança. Desejando que sua vontade seja feita na terra como no céu, fazemos um ato de perfeita obediência.
Pedindo-Lhe o pão nosso de cada dia, praticamos a pobreza de espírito e o desapego dos bens terrenos.
Pedindo que nos perdoe as nossas ofensas, realizamos um ato de arrependimento; e perdoando aqueles que nos ofendem, exercitamos a misericórdia na sua mais alta perfeição.
Pedindo seu socorro para não cairmos em tentação, fazemos atos de humildade, de prudência e de fortaleza. Esperando que Ele nos livre do mal, praticamos a paciência.
Enfim, pedindo todas essas coisas, não somente para nós, mas também para o nosso próximo e para todos os membros da Igreja, cumprimos o dever de verdadeiros filhos de Deus, pois O imitamos na sua caridade, que abarca todos os homens, e cumprimos o mandamento do amor ao próximo.

c) A Ave Maria. A Ave Maria, também conhecida como “Saudação Angélica”, é tão sublime e elevada, que o Beato Alano de la Roche julgou que nenhuma criatura pode compreendê-la e que somente Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, pode explicá-la.

Ela tira principalmente sua excelência da Santíssima Virgem à qual foi dirigida; da finalidade da Encarnação do Verbo para a qual foi trazida do céu; e do Arcanjo São Gabriel, que a pronunciou pela primeira vez. A Saudação Angélica resume toda a teologia cristã sobre Maria Santíssima.

A Santíssima Trindade revelou a primeira parte da Ave Maria; Santa Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, acrescentou a segunda; e a Igreja, no I Concílio de Éfeso (ano 430), pôs a conclusão, após ter definido que Nossa Senhora é verdadeiramente Mãe de Deus. Esse Concílio ordenou que Ela fosse invocada com as seguintes palavras: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Deus Pai é glorificado quando honramos a mais perfeita de suas criaturas. Deus Filho é glorificado porque louvamos sua puríssima Mãe. O Espírito Santo é glorificado porque admiramos as graças com as quais Ele cumulou sua Esposa.

Assim como a Virgem, em seu belo cântico Magnificat, remeteu a Deus os louvores e as bençãos que Lhe dirigiu Santa Isabel, assim também Ela remete prontamente a Deus os elogios e as bençãos que Lhe damos pela Saudação Angélica.

No momento em que Santa Isabel ouviu a saudação que lhe deu a Mãe de Deus, ela foi comulada pelo Espírito Santo, e a criança que levava no seio estremeceu de alegria.

Maria é a nossa Mãe e nossa amiga. Ela é a Imperatriz do universo, e nos ama mais do que todas as mães e rainhas juntas amaram um homem mortal. Pois, diz Santo Agostinho, a caridade da Virgem Maria excede todo o amor natural de todos os homens e de todos os Anjos.

Tenhamos sempre a Ave Maria no coração e nos lábios para honrar a Santíssima Trindade, para honrar a Jesus Cristo, nosso Salvador, e sua santa Mãe.

Ademais, no fim de cada dezena acrescentemos:
“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém”.

A ORAÇÃO MENTAL (meditação) — OS QUINZE MISTÉRIOS DO ROSÁRIO
Mistério é uma coisa sagrada e difícil de compreender. As obras de Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque Ele é Deus e Homem ao mesmo tempo. As da Santíssima Virgem são santíssimas, porque Ela é a mais perfeita de todas as puras criaturas.
Chamam-se mistérios as obras de Jesus Cristo e de sua santa Mãe, porque são repletas de maravilhas, perfeições e instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo revela aos humildes e às almas simples que Os honram.

São Domingos dividiu a vida de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem em quinze mistérios que nos representam suas virtudes e suas principais ações, como quinze quadros, cujas cenas devem nos servir de regra e de exemplo para conduzirmos nossa vida.

Nossa Senhora ensinou a São Domingos esse excelente método de oração e lhe ordenou que o pregasse, a fim de reacender a piedade dos cristãos e de fazer reviver em seus corações o amor de Jesus Cristo.

O Rosário sem a meditação dos mistérios sagrados de nossa salvação não seria senão um corpo sem alma, uma excelente matéria sem a forma que é a meditação.

A primeira parte do Rosário contém cinco mistérios, o primeiro dos quais é a anunciação do Arcanjo São Gabriel à Santíssima Virgem; o segundo, a visitação da Virgem a Santa Isabel; o terceiro, o nascimento de Jesus Cristo; o quarto, a apresentação do Menino Jesus no Templo e a purificação da Virgem; o quinto, o encontro de Jesus no
Templo, entre os doutores. Chamam-se esses mistérios gozosos por causa da alegria que deram a todo o universo.

A segunda parte do Rosário se compõe também de cinco mistérios, que se chamam dolorosos, porque nos representam Jesus Cristo acabrunhado de tristeza, coberto de chagas, sobrecarregado de opróbrios, de dores e de tormentos.
O primeiro desses mistérios é a oração de Jesus e sua agonia no Horto das Oliveiras; o segundo, sua flagelação; o terceiro, sua coroação de espinhos; o quarto, o carregamento da Cruz; e o quinto, sua crucifixão e morte sobre o Calvário.

A terceira parte do Rosário contém cinco outros mistérios, que se chamam gloriosos, porque neles contemplamos a Jesus e Maria no triunfo e na glória.
O primeiro é a ressurreição de Jesus Cristo; o segundo, sua ascensão ao céu; o terceiro, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; o quarto, a assunção da gloriosa Virgem; e o quinto, sua coroação.

Essas são as quinze flores perfumadas do Rosário místico, sobre as quais as almas piedosas pousam como sábias abelhas, para colher o néctar admirável e dele compor o mel de uma sólida devoção.

Nossa vida é uma guerra e uma tentação contínuas, na qual não temos que combater inimigos de carne e de sangue, mas as próprias potências do inferno.

Armai-vos, pois, com a arma de Deus que é o santo Rosário. Esmagareis assim a cabeça do demônio e permanecereis inabaláveis diante de todas as suas tentações.

Santo Agostinho assegura que não há exercício mais frutuoso e mais útil para a salvação do que pensar frequentemente nos sofrimentos de Nosso Senhor.

Santo Alberto Magno, mestre de Santo Tomás de Aquino, soube por revelação que a simples lembrança ou meditação da paixão de Jesus Cristo é mais meritória ao cristão do que jejuar a pão e água todas as sextas-feiras de um ano inteiro, ou recitar todos os dias os cento e cinquenta Salmos.

Ah! qual não será, em consequência, o mérito do Rosário que rememora toda a vida e paixão de Nosso Senhor?

COMO SE DEVE REZAR O ROSÁRIO
Não é o prolongamento de uma oração que agrada a Deus e lhe conquista o coração, mas o seu fervor. Uma só Ave-Maria bem rezada tem mais mérito do que cento e cinquenta mal rezadas.

Em primeiro lugar, é preciso que a pessoa que reza o Rosário esteja em estado de graça, ou pelo menos na resolução de sair do seu pecado, porque a Teologia nos ensina que as boas obras e as orações feitas em pecado mortal são obras mortas, que não agradam a Deus nem podem merecer a vida eterna.

Deus ouve antes à voz do coração que à da boca. Rezar a Deus com distrações voluntárias seria uma grande falta de respeito, que tornaria os nossos Rosários infrutíferos.

Para isso, colocai-vos na presença de Deus, pensando que Ele e sua santa Mãe têm os olhos postos sobre vós.

Pensai que vosso Anjo da Guarda está à vossa direita, colhendo as Ave-Marias que rezais, quando elas são bem rezadas, como se fossem rosas, para com elas tecer uma coroa para Jesus e Maria; e que, pelo contrário, o demônio está à vossa esquerda e ronda em torno de vós para devorar vossas Ave-Marias e as anotar no seu livro da morte, se elas são rezadas sem atenção, devoção e modéstia.

Sobretudo, não deixeis de fazer os oferecimentos das dezenas em honra dos mistérios, e de vos representar na imaginação a Nosso Senhor e à sua Santíssima Mãe no mistério que estais honrando.

Se for preciso combater, durante o Rosário, contra as distrações, combatei valentemente de armas na mão, ou seja, prosseguindo o Rosário, ainda que sem nenhum gosto nem consolação sensível.

É um combate terrível, mas é salutar à alma fiel.

“Quem é fiel nas pequenas coisas também o será nas grandes” (Lc 16,10)

Coragem pois, bom e fiel servidor de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, que tomastes a resolução de rezar o Rosário todos os dias! Que a multidão das moscas (chamo assim as distrações que vos fazem guerra enquanto rezais) não vos faça deixar covardemente a companhia de Jesus e de Maria, na qual estais quando dizeis vosso Rosário. A partir daqui indicarei os meios para diminuir as distrações.

Invocai inicialmente o Espírito Santo para bem rezar o vosso Rosário, e colocai-vos em seguida um momento na presença de Deus.

Antes de começar cada dezena, parai um pouco para considerar o mistério que estais celebrando, e pedi sempre, pela intercessão de María Santíssima, uma das virtudes que mais ressaltam naquele mistério ou da qual tendes mais necessidade.

Tende, pois, sempre em vista, ao rezar o Rosário, alguma graça a pedir, alguma virtude a a imitar ou algum pecado a evitar.

É importante rezar o Rosário com atenção e devoção.

Deve-se rezar o Rosário com modéstia, tanto quanto possível de joelhos e com as mãos postas, tendo o Rosário nas mãos.

Pode-se rezá-lo na cama, se está doente; se em viagem, pode-se rezá-lo caminhando.

Pode-se até mesmo rezar o Rosário trabalhando, quando não se pode deixar o trabalho por causa dos deveres profissionais; pois o trabalho manual nem sempre é contrário à oração vocal.

Se não tendes tempo para rezar o terço do Rosário de uma só vez, rezai uma dezena aqui, uma dezena acolá, de tal forma que, apesar das vossas ocupações e negócios, tenhais o Rosário inteiro rezado antes de vos deitardes à noite.

De todas as maneiras de rezar o Rosario, a mais gloriosa a Deus, mais salutar á alma e mais terrível ao demônio, é salmodiá-lo ou rezá-lo publicamente em dois coros.

O Rosário cotidiano tem tantos inimigos, que eu considero um dos mais assinalados favores de Deus a graça de perseverar nele até à morte.

Perseverai nele e terei a coroa admirável que está preparada nos ceus para a vossa fidelidade: “Permanece fiel até à morte e te darei a coroa” (AP 2,10).

***

Fonte: MONTFORT, Luís Maria Grignion de. A eficácia maravilhosa do Santo Rosário. São Paulo: Artpress, 2000
Créditos: O Camponês

terça-feira, 21 de abril de 2015

Comentário ao Evangelho (21/04) por Balduíno de Ford


Balduíno de Ford (?-c. 1190), abade cisterciense, depois bispo
O sacramento do altar III, 2; PL 204, 768-769

«É o meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do Céu»


Deus, cuja natureza é bondade e cuja substância é amor, em quem toda a vida é benevolência, querendo mostrar-nos a doçura da sua natureza e a ternura que tem pelos seus filhos, enviou ao mundo o seu Filho, o Pão dos Anjos (Sl 78,25), «pelo amor imenso com que nos amou» (Ef 2,4). Pois «tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16).

Tal é o maná verdadeiro que o Senhor fez chover para que o comêssemos […], o que Deus, na sua bondade, preparou para os seus pobres (cf Sl 68,9ss). Pois Cristo, que veio para todos os homens e desceu até ao nível de cada um, tudo atrai a Si pela sua indizível bondade; a ninguém rejeita e admite todos os homens à penitência, tendo para todos os que O recebem um sabor delicioso. Só Ele basta para cumular todos os desejos […] e adapta-Se de modo diferente a uns e outros, segundo as tendências, os desejos e os apetites de cada um. […]

Cada um experimenta nele um sabor diferente. […] Pois Ele não tem o mesmo sabor para o penitente e o principiante, para aquele que caminha e para aquele que está a chegar à meta. Ele não tem o mesmo gosto na vida activa e na vida contemplativa, para aquele que se serve do mundo e para aquele que não o faz, para o celibatário e para o homem casado, para o que jejua e faz distinção dos dias e para aquele que os considera a todos iguais (cf Rom 14,5). […] Este maná tem um doce sabor, porque liberta das preocupações, cura as doenças, adoça as provações, secunda os esforços e reafirma a esperança. […] Aqueles que o provaram continuam com fome (cf Ecl 24,29); os que têm fome serão saciados.

Créditos: Evangelho Quotidiano

domingo, 29 de março de 2015

A AGONIA DE JESUS - Padre Pio



A AGONIA DE JESUS

Padre Pio


Espírito Divino iluminai a minha inteligência, inflamai o meu coração, enquanto medito na Paixão de Jesus. Ajudai-me a penetrar nesse mistério de amor e sofrimento do meu Deus, que, feito homem sofre, agoniza, morre por mim.

Ó Eterno, ó Imortal, descei até nós para sofrer um martírio inaudito, a morte infame sobre a cruz no meio dos insultos, de impropérios e ignomínias, a fim de salvar a criatura que o ultrajou e continua a atolar-se na lama do pecado.

O homem saboreia o pecado e, por causa do pecado, Deus está mortalmente triste; os tormentos duma agonia cruel fazem-no suar sangue!...

Não, não posso penetrar neste oceano de amor e de dor sem a ajuda da vossa graça, ó meu Deus. Abri-me o acesso à mais íntima profundidade do coração de Jesus, para que eu possa participar da amargura que o conduziu ao Jardim das Oliveiras, até às portas da morte — para que me seja dado consolá-lo no seu extremo abandono. Ah! Pudesse eu unir-me a Cristo, abandonado pelo Pai e por Si próprio, a fim de expirar com Ele!

Maria, Mãe das Dores, permiti que eu siga Jesus e participe intimamente da sua Paixão e do seu sofrimento!

Meu Anjo da guarda velai para que as minhas faculdades se concentrem todas na agonia de Jesus e nunca mais se desprendam... No termo da sua vida terrestre, depois de se nos ter inteiramente entregue no Sacramento do seu amor, o Senhor dirige-se ao Jardim das Oliveiras, conhecido dos discípulos, mas de Judas também. Pelo caminho ensina-os e prepara-os para a sua Paixão iminente convida-os, por Seu amor, a sofrer calúnias, perseguições até à morte, para os transfigurar à semelhança dele, modelo divino. No momento de começar a sua Paixão amaríssima, não é nele que pensa; pensa em ti.

Que abismos de amor não contém o seu Coração! A sua Santa Face é toda tristeza, toda ternura. As suas palavras jorram da profundidade mais íntima do seu coração, e são todas palpitação de amor.

— Ó Jesus, o meu coração perturba-se quando penso no amor que vos obriga a correr ao encontro da vossa Paixão. Ensinastes-nos que não há amor maior que dar a vida por aqueles a quem se ama. Eis que estáis prestes a selar estas palavras com o vosso exemplo.

No Jardim da Oliveiras, o Mestre afasta-se dos discípulos e só leva três testemunhas da sua Agonia: Pedro, Tiago e João. Eles, que o viram transfigurado sobre o Tabor, terão força para reconhecer o Homem-Deus neste ser, esmagado pela angústia da morte?

Ao entrar no Jardim disse-lhes: “Ficai aqui! Velai e rezai para não cairdes em tentação. Acautelai-vos, porque o inimigo não dorme. Armai-vos antecipadamente com as armas da oração para não serdes surpreendidos e arrastados para o pecado. É a hora das trevas”. Tendo-os exortado, afastou-se à distância de uma pedrada e prostrou-se com a face em terra. A sua alma está mergulhada num mar de amargura e extrema aflição. É tarde. Na lividez da noite agitam-se sombras sinistras. A Lua parece injetada de sangue. O vento agita as árvores e penetra até aos ossos. Toda a natureza como que estremece de secreto pavor!

Ó noite, como nunca houve outra semelhante.

Eis o lugar onde Jesus vem orar. Ele despoja a sua santa Humanidade da força à qual tem direito pela sua união com a Divina Pessoa, e mergulha-a num abismo de tristeza, de angústia, de abjeção. O seu espírito parece submergir-se...

Via antecipadamente toda a sua Paixão.

Vê Judas, seu apóstolo tão amado, que o vende por alguns dinheiros. Ei-lo a caminho de Getsêmani, para o trair e entregar! Todavia, ainda há pouco não o alimentou com a sua carne, não lhe deu a beber o seu sangue? Prostrado diante dele, lavou-lhe os pés, apertou-os contra o coração, beijou-os com os seus lábios. Que não fez ele para o reter à beira do sacrilégio, ou pelo menos para o levar a arrepender-se! Não! Ei-lo que corre para a perdição... Jesus chora. Vê-se arrastado pelas ruas de Jerusalém onde ainda há alguns dias o aclamavam como Messias. Vê-se esbofeteado diante do sumo-sacerdote. Ouve os gritos: À morte! Ele, o autor da vida, é arrastado como um farrapo de um para outro tribunal. O povo, o seu povo tão amado, tão cumulado de bênçãos, vocifera contra Ele, insulta-o, reclama aos gritos a sua morte, e que morte, a morte sobre a cruz. Ouve as suas falsa acusações. Vê-se flagelado, coroado de espinhos, escarnecido, apupado como falso rei.

Vê-se condenado à cruz, subindo ao Calvário, sucumbindo ao peso do madeiro, trêmulo, exausto...

Ei-lo chegado ao Calvário, despojado das roupas, estendido sobre a cruz, impiedosamente trespassado pelos pregos, ofegante entre indizíveis torturas... Meu Deus! Que longa agonia de três horas, até sucumbir no meio dos apupos da gentalha, ébria de cólera!

Ei-lo com a garganta e as entranhas, devoradas por sede ardente. Para estancar essa sede, dão-lhe vinagre e fel.

Vê o Pai que o abandona, e a Mãe, aniquilada pela dor.

Para acabar, a morte ignominiosa no meio de dois ladrões. Um reconhece-o, e pôde salvar-se; o outro blasfema e morre réprobo.

Vê Longuinhos, que se aproxima para lhe trespassar o coração.

Ei-la, consumada, a extrema humilhação do corpo e da alma, que separam...

Tudo isto, cena após cena, passa diante dos seus olhos, apavora-o, acabrunha-o

Recusará?

Desde o primeiro instante tudo avaliou, tudo aceitou. Porque, pois, este terror extremo? É que expôs a sua santa humanidade como escudo, captando os ataques da Justiça, ultrajada pelo pecado.

Sente vivamente no espírito, mergulhado na maior solidão, tudo o que vai sofrer.

Para tal pecado, tal pena... Está aniquilado, porque se entregou, ele próprio, ao pavor, à fraqueza, à angústia.

Parece ter chegado ao auge da dor. Está de rastos, com a face em terra, diante da Majestade do Pai. Jaz no pó, irreconhecível, a santa Face do Homem-Deus, que goza da visão beatífica. Meu Jesus! Não sois Deus? Não sois o Senhor do Céu e da Terra, igual ao Pai? Para que haveis de abaixar-vos até perder todo o aspecto humano?

Ah, sim... Compreendo! Quereis ensinar-me, a mim, orgulhoso, que para entender o Céu devo abismar-me até ao fundo da Terra. É para expiar a minha arrogância que vos deixais afundar no mar da agonia. É para reconciliar o Céu com a Terra que vos abaixais até à terra como se quisesseis dar-lhe o beijo da paz...

Jesus ergue-se, volve para o céu um olhar suplicante, ergue os braços, reza. Cobre-lhe o rosto mortal palidez! Implora o Pai que se desviou dele. Reza com confiança filial, mas sabe bem qual o lugar que lhe foi marcado. Sabe-se vítima a favor de toda a raça humana, exposta à cólera de Deus ultrajado. Sabe que só ele pode satisfazer a Justiça infinita e conciliar o Criador com a criatura. Quer, reclama que seja assim. A sua natureza, porém, está literalmente esmagada. Insurge-se contra tal sacrifício. Todavia, o seu espírito está pronto à imolação e o duro combate continua. Jesus, como podemos pedir-vos para sermos fortes, quando vos vemos tão fraco e acabrunhado?

Sim, compreendo! Tomastes sobre vós a nossa fraqueza. Para nos dardes a vossa força, vos tornastes a vítima expiatória. Quereis ensinar-nos como só em vós devemos depositar confiança, até quando o céu nos parece de bronze.

Na sua Agonia, Jesus clama ao Pai: “Se é possível, afasta de mim este cálix”. É o grito da natureza que, prostrada, recorre cheia de confiança ao Céu. Embora saiba que não será atendido, porque não deseja sê-lo, contudo ora. Meu Jesus, por que pedis o que não podeis obter? Que mistério vertiginoso! A mágoa que vos dilacera vos faz mendigar a ajuda e conforto, mas o vosso amor por nós e o desejo de nos levar a Deus vos faz dizer: “Não se faça a minha vontade, mas a tua”.

O seu coração desolado tem sede de ser confortado, tem sede de consolação. Docemente, Ele levanta-se, dá alguns passos vacilantes; aproxima-se dos discípulos; eles, pelo menos, os amigos de confiança, hão de compreender e partilhar da sua mágoa...

Encontra-os mergulhados no sono. De súbito sente-se só, abandonado! “Simão, dormes?” pergunta docemente a Pedro. Tu, que há pouco me dizias que querias seguir-me até à morte!

Vira-se para os outros. “Não podeis velar uma hora comigo?”. Uma vez mais, esquece os sofrimentos, não pensa senão nos discípulos: “Velai e orai para não cairdes em tentação!”. Parece dizer “Se me esquecestes tão depressa, a mim, que luto e sofro, pelo menos no vosso próprio interesse, velai e orai!”.

Mas eles, tontos de sono, mal o ouvem.

Ó meu Jesus, quantas almas generosas, tocadas pelos vossos lamentos, vos fazem companhia no Jardim da Oliveiras, compartilhando da vossa amargura e da vossa angústia moral. Quantos corações têm respondido generosamente ao vosso apelo através dos séculos! Possam eles vos consolar e, comparticipando do vosso sofrimento, possam eles cooperar na obra da salvação! Possa eu próprio ser desse número e vos consolar um pouco, ó meu Jesus!

* * *

Jesus volta ao local da oração e apresenta-se-lhe diante dos olhos um outro quadro bem mais terrível. Desfilam diante dele todos os nossos pecados, nos seus mais ínfimos pormenores. Vê a extrema vulgaridade dos que os cometem. Sabe a que ponto ultrajam a divina Majestade. Vê todas as infâmias, todas as obscenidades, todas as blasfêmias que mancham os corações e os lábios, criados para cantar a glória de Deus. Vê os sacrilégios que desonram padres e fiéis. Vê o abuso monstruoso dos sacramentos, instituídos por Ele para nossa salvação, e que facilmente podem ser causa de nos perdermos.

Tem de cobrir-se com toda a lama fétida da corrupção humana. Tem de expiar cada pecado à parte, e restituir ao Pai toda a glória roubada. Para salvar o pecador, tem de descer a esta cloaca. Mas, isto não o detém. Vaga monstruosa, essa lama rodeia-o, submerge-o, oprime-o. Ei-lo em frente do Pai, Deus da Justiça, Ele, Santo dos Santos, vergado ao peso dos nossos pecados, tornando-se igual aos pecadores. Quem poderá sondar o seu horror e a sua extrema repugnância? Quem compreenderá a extensão da horrível náusea, do soluço de desgosto? Tendo tomado todo o peso sobre ele, sem exceção alguma sente-se esmagado por monstruoso fardo, e geme sob o peso da Justiça divina, em face do Pai que permitiu ao Seu filho se oferecesse como vítima pelos pecados do mundo, e se transformasse numa espécie de maldito.

A sua pureza estremece diante desta massa infame mas ao mesmo tempo vê a Justiça ultrajada, o pecador condenado... No seu coração defrontam-se duas forças, dois amores. Vence a Justiça ultrajada. Mas, que espetáculo infinitamente lamentável! Este homem, carregado com todos os nossos crimes. Ele, essencialmente Santidade, confundido, embora exteriormente, com os criminosos... Treme como um folha.

Para poder afrontar esta terrível agonia abisma-se na oração. Prostrado diante da Majestade do Pai, diz: “Pai, afasta de mim este cálice”. É como se dissesse: “Pai, quero a tua glória! Quero o cumprimento da tua justiça. Quero a reconciliação do gênero humano. Mas não por este preço! Que eu, santidade essencial, seja assim salpicado pelo pecado, ah! não... isso não! Ó pai, a quem tudo é possível, afasta de mim este cálice e encontra outro meio de salvação nos tesouros insondáveis da tua sabedoria. Porém, se não quiseres, que a tua vontade, e não a minha, se faça!

* * *

Desta vez ainda, fica sem efeito a prece do Salvador. Sente a angústia mortal, ergue-se a custo em busca de consolação. Sente como as forças o abandonam. Arrasta-se penosamente até junto dos discípulos. Uma vez mais, encontra-os a dormir. A sua tristeza torna-se mais profunda. E contenta-se simplesmente em os acordar. Sentiram-se confusos? Sobre isto nada sabemos. Só vemos Jesus indizivelmente triste. Guarda para ele toda a amargura deste abandono.

Mas Jesus, como é grande a dor que leio no teu coração, transbordante de tristeza. Vos vejo afastando-vos dos vossos discípulos, ferido, todo magoado! Pudesse eu dar-vos algum reconforto, consolar-vos um pouco... mas, incapaz de mais nada, choro aos vossos pés. Unem-se às vossas as lágrimas do meu amor e da minha compunção. E elevam-se até ao trono do Pai, suplicando que tenha piedade de nós, que tenha piedade de tantas almas, mergulhadas no sono do pecado e da morte.

Jesus volta ao lugar onde rezara, extenuado e em extrema aflição. Cai, sim, mas não se prostra. Cai sobre a terra. Sente-se despedaçado por angústia mortal e a sua prece torna-se mais intensa.

O Pai desvia o olhar, como se Ele fosse o mais abjeto dos homens.

Parece-me ouvir os lamentos do Salvador:

Se, ao menos as criaturas por causa de quem eu tanto sofro quisessem aproveitar-se das graças obtidas através de tantas dores! Se, ao menos reconhecessem pelo seu justo valor, o preço pago por mim para resgatar e dar-lhes a vida de filhos de Deus! Ah! este amor despedaça-me o coração, bem mais cruelmente do que os carrascos que irão, em breve, despedaçar-me a carne...

Vê o homem que não sabe, porque não quer saber; e blasfema do Sangue Divino e, o que é bem mais irreparável, serve-se desse Sangue para sua condenação.

Quão poucos o hão de aproveitar, quantos outros correrão ao encontro do próprio extermínio!

Na grande amargura do Seu coração, continua a repetir: “Quæ utilitas in sanguine meo? Quão poucos aproveitaram o meu Sangue!

O pensamento, porém, deste pequeno número basta para afrontar a Paixão e morte.

Nada existe, não há ninguém que possa dar-lhe sombra de consolação. O Céu fechou-se para Ele. O homem, embora esmagado ao peso dos pecados, é ingrato e ignora o seu amor. Sente-se submerso num mar de dor e grita no estertor da agonia: “A minha alma está triste até a morte”.

Sangue Divino, que jorras, irresistivelmente do Coração de Jesus, corres por todos os seus poros para lavar a pobre Terra ingrata. Permite-me que eu te recolha, Sangue tão precioso, sobretudo estas primeiras gotas. Quero guardar-te no cálice do meu coração.

És prova irrefutável deste Amor, única causa de teres sido vertido. Quero purificar-me através de ti, Sangue preciosíssimo! Quero com ele purificar todas as almas, manchadas pelo pecado. Quero oferecer-te ao Pai.

É o sangue do seu Filho Bem-Amado que caiu sobre a Terra para a purificar. É o Sangue do seu Filho que ascende ao Seu trono para reconciliar a Justiça ultrajada. A alegria é na verdade muito mais veemente do que a dor.

Jesus chegou então ao fim do caminho doloroso?

Não. Ele não quer limitar a torrente do seu amor! É preciso que o homem saiba quanto ama o Homem-Deus. É preciso que o homem saiba até que abismos de abjeção pode levar amor tão completo. Embora a Justiça do Pai esteja satisfeita com o suor do Sangue preciosíssimo, o homem carece de provas palpáveis deste amor.

Jesus seguirá pois até ao fim: até à morte ignominiosa sobre a cruz. O contemplativo conseguirá talvez intuir um reflexo desse amor que o reduz aos tormentos da santa agonia no Jardim das Oliveiras. Aquele, porém, que vive, entorpecido pelos negócios materiais, procurando muito mais o mundo do que o Céu, deve vê-lo também pelo aspecto externo, pregado à cruz, para que, ao menos, o comova a visão do seu Sangue e a Sua cruel agonia.

Não. o Seu coração, transbordante de amor, não está ainda contente! Domina-o a aflição, e ora de novo: “Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu bebe, faça-se a Tua vontade”.

A partir deste instante, Jesus responde do fundo do seu coração abrasado de amor, ao grito da humanidade que reclama a sua morte como preço da Redenção. À sentença de morte que seu Pai pronuncia no Céu, responde a Terra reclamando a sua morte. Jesus inclina a sua adorável cabeça: “Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu o beba, faça-se a Tua vontade”.

E eis que o Pai lhe envia um anjo de consolação. Que alívio pode um anjo oferecer ao Deus da força, ao Deus invencível, ao Deus Todo-Poderoso? Mas este Deus quis tornar-se inerme. Tomou sobre os ombros toda a nossa fraqueza. É o Homem das Dores, em luta com a agonia.

Ora ao Pai por Si e por nós. O Pai recusa atendê-lo, pois deve morrer por nós. Penso que o anjo se prostra profundamente diante da Beleza eterna, manchada de pó e sangue, e com indizível respeito suplica a Jesus que beba o cálice, pela glória do Pai e pelo resgate dos pecadores.

Rezou assim, para nos ensinar a recorrer ao Céu, unicamente quando as nossas almas estão desoladas como a Sua.

Ele, a nossa força, virá ajudar-nos, pois que consentiu em tomar sobre os ombros todas as nossas angústias.

Sim, meu Jesus, é preciso que bebais o cálice até ao fundo! Estais votado à morte mais cruel. Jesus, que nada possa separar-me de vós, nem a vida nem a morte! Se, ao longo da vida, só desejo unir-me ao vosso sofrimento, com infinito amor, ser-me-á dado morrer convosco no Calvário e convosco subir à Glória. Se vos sigo nos tormentos e nas perseguições tornar-me-eis digno de vos amar um dia, no Céu, face a face, convosco, cantando eternamente o vosso louvor em ação de graças pela cruel Paixão.

Vede! Forte, invencível, Jesus ergue-se do pó! Não desejou Ele o banquete de sangue com o mais forte desejo? Sacode a perturbação que o invadira, enxuga o suor sangrento da face, e, em passo firme dirige-se para a entrada do Jardim.

Onde ides, Jesus? Ainda há instantes, não estavas empolgado pela angústia e pela dor? Não vos vi eu, trêmulo, e como que esmagado sob o peso cruel das provações que vão tombar sobre vós? Aonde ides nesse passo intrépido e ousado? A quem vais entregar-vos?

— Escuta, meu filho. As armas da oração ajudaram-me a vencer; o espírito dominou a fraqueza da carne. A força foi-me transmitida, enquanto orava, e agora eis-me pronto a tudo desafiar. Segue o meu exemplo e arranja-te com o Céu, como eu fiz. Jesus aproxima-se dos apóstolos. Continuam a dormir! A emoção, a hora tardia, o pressentimento de alguma coisa horrível e irreparável, a fadiga — e ei-los mergulhados em sono de chumbo. Jesus tem piedade de tanta fraqueza. “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

Jesus exclama. “Dormi agora e repousai”. Detém-se por instante. Ouvem que Jesus se vai aproximando, e entreabrem os olhos...

Jesus continua a falar: “Basta. É chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que me há de entregar”. Jesus vê todas as coisas com os seus olhos divinos. Parece dizer: Meus amigos e discípulos, vós dormis, enquanto que os meus inimigos velam e se aproximam para virem prender-me! Tu, Pedro, que há pouco te julgavas bastante forte para me seguir até na morte, também tu dormes agora! Desde o princípio tens-me dado provas da tua fraqueza! Está, porém, tranqüilo. Aceitei sobre mim a tua fraqueza e rezei por ti. Depois de confessares a tua falta, serei a tua força e apascentará os meus rebanhos...

E tu, João, também tu dormes? Tu, que acabavas de sentir as pulsações do meu coração, não pudeste velar uma hora comigo!

Levantai-vos, vamos partir, já não há tempo para dormir. O inimigo está à porta! É a hora do poder das trevas! Partamos. De livre vontade, vou ao encontro da morte. Judas acorre para trair-me, e eu vou ao seu encontro. Não impedirei que se cumpram à risca as profecias. Chegou a minha hora: a hora da misericórdia infinita.

Ressoam os passos; archotes acesos enchem o jardim de sombras e púrpura. Intrépido e calmo, Jesus avança seguido pelos discípulos.

— Ó meu Jesus, dai-me a vossa força quando a minha pobre natureza se revolta diante dos males que a ameaçam, para que possa aceitar com amor as penas e aflições desta vida de exílio. Uno-me com toda a veemência aos vossos méritos, às vossas dores, à vossa expiação, às vossas lágrimas, para poder trabalhar convosco na obra da salvação. Possa eu ter a força de fugir ao pecado, causa única da vossa agonia, do vosso suor de sangue, e da vossa morte.

Afasteis de mim o que vos desagrada, e imprimi no meu coração com o fogo do vosso santo amor todos os vossos sofrimentos. Abraçai-me tão intimamente, em abraço tão forte e tão doce, que nunca eu possa deixar-vos sozinho no meio dos vossos cruéis sofrimentos.

Só desejo um único alívio: repousar sobre o vosso coração. Só desejo uma única coisa: partilhar da vossa Santa Agonia. Possa a minha alma inebriar-se com o vosso Sangue e alimentar-se com o pão da vossa dor!

Amém.

Fonte: Permanência

domingo, 17 de agosto de 2014

A Assunção de Nossa Senhora - São Josemaria Escrivá


 A Assunção de Nossa Senhora

 Textos de São Josemaria:

Assumpta est Maria in coelum gaudent angeli! – Maria foi levada por Deus, em corpo e alma, para o Céu. E os Anjos rejubilam!

Assim canta a Igreja. – E é assim, com este clamor de regozijo, que começamos a contemplação, desta dezena do Santo Rosário.

Adormeceu a Mãe de Deus. – Em volta do seu leito encontram-se os doze Apóstolos.
– Matias substituiu Judas.

E nós, por graça que todos respeitam, estamos também a seu lado.

Mas Jesus quer ter Sua Mãe, em corpo e alma, na Glória. – E a Corte celestial ostenta todo o seu esplendor, para receber a Senhora. – Tu e eu – crianças, afinal – pegamos na cauda do esplêndido manto azul da Virgem e assim podemos contemplar aquela maravilha.

A Trindade Santíssima recebe e cumula de honras a Filha, Mãe e Esposa de Deus... – E é tamanha a majestade da Senhora, que os Anjos perguntam Quem é esta?
Santo Rosário, 4º mistério glorioso

Assumpta est Maria in coelum gaudent angeli! Maria foi levada por Deus, em corpo e alma, para os Céus. Há alegria entre os anjos e os homens. Qual a razão desta satisfação íntima que descobrimos hoje, com o coração que parece querer saltar dentro do peito e a alma cheia de paz?. Celebramos a glorificação da nossa Mãe e é natural que nós, seus filhos, sintamos um júbilo especial ao ver como é honrada pela Trindade Beatíssima.

Cristo, seu Filho Santíssimo, nosso irmão, deu-no-la por Mãe no Calvário, quando disse a S. João: eis aqui a tua Mãe (Jo 19, 27). E nós recebêmo-la, com o discípulo amado, naquele momento de imenso desconsolo. Santa Maria acolheu-nos na dor, quando se cumpriu a antiga profecia: e uma espada trespassará a tua alma (Lc 2, 35). Todos somos seus filhos; ela é Mãe de toda a Humanidade. E agora, a Humanidade comemora a sua inefável Assunção: Maria sobe aos céus, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo. Mais do que Ela, só Deus.
Cristo que passa, 171

A festa da Assunção de Nossa Senhora apresenta-nos a realidade dessa feliz esperança. Somos ainda peregrinos, mas a Nossa Mãe precedeu-nos e aponta-nos já o termo do caminho. Repete-nos que é possível lá chegar e que, se formos fiéis, lá chegaremos, pois a Santíssima Virgem não é só nosso exemplo, mas também auxílio dos cristãos. E perante a nossa petição – Monstra te esse Matrem (mostra que és Mãe) – não pode nem quer negar-se a cuidar dos seus filhos com solicitude maternal.
Cristo que passa, 177

Quando se dá a debandada dos Apóstolos, e o povo enraivecido rasga as gargantas em ódio a Cristo, Santa Maria segue de perto o seu Filho pelas ruas de Jerusalém. Não a arreda o clamor da multidão, nem deixa de acompanhar o Redentor enquanto todos os do cortejo, no anonimato, se fazem covardemente valentes para maltratar Cristo.

Invoca-a com força – «Virgo fidelis!», Virgem fiel! – e roga-lhe que os que nos dizemos amigos de Deus o sejamos deveras e a toda a hora.
Sulco, 51

Fonte: http://www.pt.josemariaescriva.info/

sábado, 28 de junho de 2014

Para rezar o Santo Terço

"Quando nos decidimos a rezar o terço, temos de avivar a Fé de que vamos falar com Nossa Senhora que está presente, que nos escuta e nos ama. Começamos por dirigir-Lhe a conhecida saudação do Anjo: Ave Cheia de Graça. Alegramo-nos com Ela e felicitamo-La porque Deus todo poderoso, o Senhor do universo, o Único que pode fazer as pessoas verdadeiramente felizes, A ama infinitamente: o Senhor é convosco. E por esta razão, Ela é bendita entre as mulheres. Mas, não somente Ela é feliz por sentir em Si, ao vivo, a amizade de Deus; também o é Aquele que há de nascer d'Ela: e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus."

Padre Antônio Maria Martins, S. J., Mensagem de Fátima - Fátima e o Corpo Místico.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Jesus ora no Horto e sua sangue Santo Afonso



Tunc venit Iesus cum illis in villam, quae dicitur Gethsemani — "Então foi Jesus com eles a uma herdade, que é chamada Gethsemani" (Matth 26, 36)

Sumário. O Filho de Deus, para nos ensinar o modo de orar, pede no horto a seu Pai divino, que O exima de beber o cálice de sua Paixão; com resignação, porém, acrescenta que se conforma em tudo à divina vontade. Prostra-se com a face na terra, e é tão grande o temor, o aborrecimento e a tristeza que Lhe sobrevém pela previsão dos seus padecimentos e da nossa ingratidão, que chega a suar sangue vivo. Ah, meu pobre Senhor, se eu menos houvera pecado, Vós menos teríeis sofrido.

I. Finda que foi a ação de graças depois da Ceia, Jesus sai do cenáculo com os seus discípulos, entra no horto de Getsêmani e se põe em oração. Mas, ai! No mesmo instante assaltam-No juntos grande temor, grande aborrecimento e grande tristeza. Com o coração oprimido pela dor, o nosso Redentor diz que a sua alma bendita está triste até à morte: Tristis est anima mea usque ad mortem (1). — Jesus quis que então Lhe fosse presente aos olhos toda a funesta cena dos tormentos e opróbrios que Lhe estavam preparados. Na Paixão, estes tormentos afligiram-No um após outro; mas ali no horto vieram cruciá-Lo todos juntos, as bofetadas, os escarros, os açoites, os espinhos, os cravos e os vitupérios, que depois deveria sofrer. Submisso, aceita-os todos; mas, aceitando-os treme, agoniza e ora.

Mas, meu Jesus, quem Vos constrange a sofrer tantas penas? Constrange-me, responde, o amor que tenho aos homens. — Ah! Que assombro devia causar no céu o ver a força feita fraqueza! Um Deus aflito! E para que? Para salvação dos homens, suas criaturas! Naquele horto foi oferecido o primeiro sacrifício: Jesus foi a vítima, o amor, o sacerdote e o ardor de seu afeto para com os homens foi o fogo sagrado que consumiu o sacrifício.

Pater mi, si possibile est, transeat a me calix iste (2) — “Pai meu, se é possível, passe de mim este cálice”. Assim ora Jesus: Meu Pai, se é possível, isenta-me de beber este cálice tão amargoso. Mas Jesus ora assim, não tanto para ficar isento, como para nos fazer compreender a pena que padece e aceita por nosso amor. Ora assim também para nos ensinar que nas tribulações nos é permitido pedir a Deus que nos livre; mas ao mesmo tempo devemo-nos conformar em tudo com a vontade divina, e dizer o que Ele disse: Verumtamen non sicut ego volo, sed sicut tu (3) — “Todavia não seja como eu quero, mas sim como tu”.

Sim, meu Senhor, por vosso amor abraço todas as cruzes que me queiras enviar. Vós, embora inocente, padecestes tanto por meu amor, e eu, pecador como sou, depois de haver tantas vezes merecido o inferno, me recusei a sofrer para Vos agradar e obter de Vós o perdão e a graça! Non sicut ego volo, sed sicut tu; seja feita não a minha vontade, mas, sim, sempre a Vossa!

II. Procidit super terram (4). Durante a sua oração, Jesus prostrou-se com a face em terra, porquanto, vendo-se coberto com a vestidura sórdida de todos os nossos pecados, parece que se envergonhava de levantar os olhos ao céu. — Ó meu amado Redentor, não me animaria a Vos pedir perdão de tantas injúrias que Vos fiz, se as vossas penas e os vossos merecimentos não me dessem confiança. Eterno Pai: Respice in faciem Christi tui (5) — “Ponde os olhos no rosto de vosso Cristo"; olhai, não para as minhas iniqüidades, mas para esse vosso Filho dileto, que treme, que agoniza e sua sangue a fim de obter para mim o vosso perdão. Vede-O e tende piedade de mim.

Que! Jesus meu, não há nesse jardim para Vos suplicar nem algozes, nem açoites, nem espinhos, nem cravos; que é então que faz correr o vosso sangue? Ah! compreendo agora: não foi a previsão de vossos tormentos próximos a causa de vossa aflição, pois espontaneamente Vos oferecestes a sofrê-las. Foi a vista de meus pecados; eles foram o cruel lagar que fez correr o sangue de vossas sagradas veias. De sorte que não Vos foram desumanos os algozes, nem cruéis os açoites, os espinhos, a cruz; desumanos e cruéis vos foram, ó meu dulcíssimo Jesus, os meus pecados, que tanto Vos afligiram no horto. Se eu menos houvera pecado, menos houvéreis Vós padecido. Eis então, ó meu Jesus, como correspondi ao amor que vos trouxe a morrer por mim: não fiz mais que ajuntar novas penas e tantas outras que tivestes de sofrer.

Ó meu amado Senhor, pesa-me de Vos ter ofendido; sinto dor, mas não bastante; quisera conceber uma dor capaz de me tirar a vida. Ah! pela cruel agonia que sofrestes no horto, dai-me uma parte do horror que tivestes de meus pecados. Se outrora Vos afligi por minha ingratidão, fazei que Vos agrade daqui em diante por meu amor. — Ó Maria, Mãe das dores, recomendai-me a vosso Filho aflito e triste por meu amor. (I 606.)
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1. Marc. 14, 34.
2. Matth. 26, 39.
3. Ib.
4. Marc. 14, 35.
5. Ps. 83, 10.


(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 382-384.)


Fonte: Blog São Pio V

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Conselho dos Judeus e traição de Judas - Santo Afonso Maria de Ligório



Expedit vobis, ut unus moriatur homo pro populo, et non tota gens pereat — “Convém que morra um homem pelo povo e que não pereça toda a nação (Io. 11, 50).

Sumário. Tendo os iníquos pontífices decretado a morte de Jesus Cristo, tiveram grande satisfação ao ver que Judas, um dos discípulos, se oferecia a traí-Lo e entregar-Lho nas mãos. O Senhor conhece perfeitamente a felonia de Judas e todavia não deixa de tratá-lo como amigo na mesma forma que d´antes; olha-o com benevolência, não recusa a sua companhia e chega a prostrar-se-lhe aos pés para os lavar. Ó inefável benignidade! Que belo exemplo para nós, se o quisermos aproveitar!

I. No mesmo tempo em que Jesus andava derramando graças e fazendo milagres para benefício de todos, reúnem-se os primeiros personagens da cidade de Jerusalém a fim de tramarem a morte do Autor da vida. Refere São João que se ajuntaram os pontífices e os fariseus em conselho e diziam: Que fazemos nós? Este homem faz muitos milagres; se o deixamos assim livre, todos crerão nele. Mas um deles, por nome Caifás, respondeu que lhes convinha que um homem morresse pelo povo, e não perecesse a nação toda. “E desde aquele dia”, diz o mesmo São João, “pensavam em como haviam de o fazer morrer.” — Ah, Judeus! Não temais; vosso Redentor não fugirá, porquanto veio à terra exatamente para morrer, e pela sua morte livrar-vos a vós e a todos os homens da morte eterna.

Entretanto Judas apresenta-se aos pontífices e diz: Quid vultir mihi dare, et ego vobis eum tradam? (1) — “Que me quereis dar, e eu vô-Lo entregarei?” Oh! Que alegria deviam sentir os Judeus, pelo ódio que devotavam a Jesus Cristo, ao verem que um dos seus discípulos o queria trair e entregar-Lho nas mãos! Consideremos nisso o júbilo que, por assim dizer, reina no inferno, quando uma alma, depois de servir a Jesus Cristo por muitos anos, vem a traí-Lo por qualquer miserável bem ou vil satisfação.

Mas, ó Judas, já que estás resolvido a vender o teu Deus, exige pelo menos o preço que Ele vale. É um bem infinito, merecedor portanto de um preço infinito. Porque, pois, concluis o negócio por trinta dinheiros? At illi constituerunt ei triginta argenteos (2) — “E eles prometeram-lhe trinta dinheiros de prata”. — Minha alma, deixa Judas, e fixa em ti mesma os teus pensamentos. Dize-me, por que preço vendeste tu mesma tantas vezes a graça divina ao demônio?

Ah, meu Jesus, quantas vezes Vos virei as costas, e a Vós preferi um capricho, um empenho, um prazer passageiro e vil! Sabia que, pecando, perdia a vossa amizade e voluntariamente a troquei por um nada. Tivesse morrido antes de fazer-Vos tão grande ultraje! Ó meu Jesus, arrependo-me de todo o coração e quisera morrer de dor.

II. Contemplemos agora a benignidade de Jesus Cristo, que, sabedor do ajuste feito por Judas, contudo, vendo-o, não o repele de si, nem o olha com maus olhos; admite-o em sua companhia, e ainda à sua mesa; repreende-o pela sua traição com o único intuito de chamá-lo à resipiscência; e vendo-o obstinado, chega a prostrar-se diante dele e a lavar-lhe os pés para desta arte o enternecer.

Ah, meu Jesus, é assim também que fizestes comigo. Eu Vos desprezei e traí, e não me repelis; não deixais de olhar-me com amor, e me admitis à vossa mesa da santa comunhão. Meu amado Salvador, nada mais podeis fazer para me obrigar a Vos amar. E eu terei ânimo de continuar a ofender-Vos e pagar-Vos com a minha ingratidão? Não, meu Deus, não quero mais abusar da vossa misericórdia. Agradeço-Vos a luz com que me iluminais e prometo que mudarei de vida. Vejo que já não me podeis suportar mais tempo. Porque, pois, esperarei até que Vós mesmo me mandeis ao inferno, ou me abandoneis em minha vida de perdição, castigo este maior do que a própria morte?

Meu Jesus, eis que me prostro aos vossos pés. Peço-Vos perdão das ofensas a que Vos fiz e rogo-Vos que me recebais em vossa graça. Quem me dera poder recomeçar os anos passados; quisera empregá-los unicamente em vosso serviço, ó Senhor meu. Os anos, porém, não voltam mais; por piedade, fazei ao menos que empregue o que me resta de vida, unicamente em amar-Vos e fazer que outros também Vos amem. — Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, socorrei-me com a vossa intercessão, pedi a Jesus que me faça todo seu. Peço-vos esta graça pela parte que tomastes na Paixão de vosso divino filho. (I 603.)
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1. Matth. 26, 15.
2. Matth. 26, 15.


(Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 377-379.)

Fonte: Blog São Pio V

(Obs.: Quando Santo Afonso usa a expressão 'pontífices', no texto acima, é óbvio que ele não está se referindo aos Papas, mas sim aos sumo-sacerdotes judeus Anás e Caifás - fariseus que foram líderes da religião judaica na época de Nosso Senhor. Achei importante ressaltar isso aqui, pois há uma ridícula e estúpida teoria defendida pelos hereges Testemunhas de Jeová, que inventaram que seria a Igreja Católica (sic!!) que teria condenado Jesus (!!!), que por sinal, para eles teria morrido numa estaca, e não na cruz!! Até onde vai a malícia, e a perfídia, de almas que inventam uma calúnia diabólica como essa e tantas outras, com o intuito de enganar toscamente pessoas muito ignorantes!)

segunda-feira, 31 de março de 2014

São Tomás de Aquino - Os efeitos da Eucaristia



S. Tomás de Aquino

OS EFEITOS DA EUCARISTIA

- Summa Theologiae IIIa. Pars Qs. 79-80 -
- Sermão sobre o Corpo do Senhor -

01.
No Sacramento da Eucaristia, em virtude das palavras da instituição, as espécies simbólicas se mudam em corpo e sangue; seus acidentes subsistem no sujeito; e nele, pela consagração, sem violação das leis da natureza, o Cristo único e inteiro existe Ele próprio em diversos lugares, assim como uma voz é ouvida e existe em vários lugares, continuando inalterado e permanecendo inviolável quando dividido, sem sofrer diminuição alguma. Cristo, de fato, está inteira e perfeitamente em cada e em todo fragmento de hóstia, assim como as aparências visíveis que se multiplicam em centenas de espelhos.

02.
O efeito deste Sacramento deve ser considerado, portanto, primeira e principalmente em função daquilo que nele está contido, que é o Cristo.

Ele, vindo ao mundo em forma visível, trouxe ao mundo a vida da graça, segundo nos diz o Evangelho de João:

"A graça e a verdade, porém,
vieram por meio de Jesus Cristo".

Assim, da mesma forma, vindo Cristo ao mundo em forma sacramental, opera a vida da graça, segundo ainda outra passagem do mesmo Evangelho:

"Quem me come,
viverá por mim",

03.
O efeito deste Sacramento deve, ademais, ser considerado também pelo que ele representa, que é a Paixão de Cristo. Por isto, o efeito que a Paixão de Cristo realizou no mundo, este Sacramento também realiza no homem.

04.
O efeito deste Sacramento também deve ser considerado pelo modo através do qual ele é trazido aos homens, que é por modo de comida e bebida. E por isto todo efeito que a bebida e a comida material realizam quanto à vida corporal, isto é, sustentar, crescer, reparar e deleitar, tudo isto realiza este Sacramento quanto à vida espiritual. E é por isto que se diz:

"Este é o pão da vida eterna,
pelo qual se sustenta
a substância de nossa alma".

De onde que o próprio Senhor diz, no Evangelho de São João:

"Minha carne é verdadeiramente comida,
e meu sangue é verdadeiramente bebida".

05.
Finalmente, o efeito do Sacramento da Eucaristia deve ser considerado pelas espécies em que este Sacramento nos é oferecido. Foi por causa disto que escreveu Santo Agostinho:

"O Senhor confiou-nos
o Seu Corpo e o Seu Sangue
em coisas tais que são reduzidas à unidade
a partir de muitas outras,
porque o pão é um,
embora conste de muitos grãos,
e o vinho é feito
a partir de muitas uvas".

E por isso ele também escreveu em outro lugar:

"Ó Sacramento da piedade,
ó sinal da unidade,
ó vínculo da caridade!".

06.
E porque Cristo e sua Paixão são causa da graça, e uma refeição espiritual e a caridade não podem existir sem a graça, por todas estas coisas é manifesto que este Sacramento confere a graça.

07.
Mas, conforme diz São Gregório na homilia de Pentecostes,

"o amor de Deus não é ocioso;
opera grandes coisas,
se de fato existe".

Por isto, por meio deste Sacramento, o quanto pertence a seu efeito próprio, não somente é conferido o hábito da graça e da virtude, mas também esta é conduzida ao ato, segundo o que está escrito na Segunda Epístola aos Coríntios:

"O amor de Cristo
nos impele".

Daqui é que provém que pela virtude do Sacramento da Eucaristia a alma faz uma refeição espiritual por deleitar-se e inebriar-se pela doçura da bondade divina, segundo o que diz o Cântico dos Cânticos:

"Comei, amigos, e bebei;
e inebriai-vos, caríssimos".

08.
Este Sacramento também tem virtude para a remissão dos pecados veniais, o que pode ser visto pelo fato de que ele é tomado sob a espécie de alimento nutritivo. A nutrição proveniente do alimento é necessária ao corpo para restaurar aquilo que em cada dia é desperdiçado pelo calor natural. Espiritualmente, porém, em nós também é desperdiçado a cada dia algo pelo calor da concupiscência pelos pecados veniais que diminuem o fervor da caridade. E por isto compete a este Sacramento a remissão dos pecados veniais. De onde que Santo Ambrósio diz, no livro Dos Sacramentos, que este pão de cada dia é tomado

"como remédio
da enfermidade de cada dia".

09.
Ademais, a coisa deste Sacramento é a caridade, não somente quanto ao hábito, mas também quanto ao ato, ao qual é conduzida neste Sacramento, pelo qual os pecados veniais se dissolvem. De onde que é manifesto que pela virtude deste Sacramento ocorre a remissão dos pecados veniais. Os pecados veniais, ao contrário dos mortais, não contrariam a caridade quanto ao hábito, mas contrariam a caridade quanto ao fervor do ato, ao qual é conduzida por este Sacramento. É por esta razão que os pecados veniais são perdoados pelo Sacramento da Eucaristia.

10.
O Sacramento da Eucaristia pode também perdoar toda a pena devida ao pecado. Este efeito pode ocorrer tanto por ele ser sacrifício, como por ser sacramento. A Eucaristia possui razão de sacrifício na medida em que é oferecido; possui razão de sacramento na medida em que é tomado.

11.
Como Sacramento, a Eucaristia possui diretamente aquele efeito para o qual foi instituído. Não foi, porém, como Sacramento, instituído para satisfazer, mas para alimentar espiritualmente pela união a Cristo e aos seus membros, assim como o alimento se une ao alimentado. Mas porque esta união se realiza pela caridade, por cujo fervor alguém pode conseguir a remissão não apenas da culpa, mas também da pena, daqui ocorre que por conseqüência, por uma certa concomitância ao efeito principal, o homem alcança a remissão também para a pena. Não, porém, de toda a pena, mas de acordo como o modo de sua devoção e fervor.

12.
Mas, na medida em que é Sacrifício, a Eucaristia possui virtude satisfatória. Entretanto, também na satisfação mais deve se considerar o afeto do oferente do que a quantidade da oblação, de onde que o Senhor disse, no Evangelho de São Lucas, da viúva que ofereceu apenas duas moedas, que

"ofereceu mais do que todos".

Embora, portanto, a oblação eucarística pela sua própria quantidade seja suficiente para a satisfação de toda a pena, todavia torna-se satisfatória para aqueles pelos quais é oferecida, ou também para os próprios oferentes, de acordo com a quantidade de sua devoção, e não por toda a pena.

13.
A Eucaristia também preserva o homem dos pecados futuros, pelo mesmo modo em que o corpo é preservado da morte futura. O pecado é uma certa morte espiritual da alma. Ora, a natureza corporal do homem é preservada da morte pela comida e pelo remédio na medida em que a natureza humana é interiormente fortificada contra o que pode corrompê-la interiormente. É deste modo que este Sacramento preserva o homem do pecado, porque através dele, unindo-se a Cristo pela graça, é fortalecida a vida espiritual do homem, ao modo de uma comida espiritual e um remédio espiritual. É assim que diz o Salmo 103:

"O pão confirma
o coração do homem".

 14.
A Eucaristia preserva o homem dos pecados futuros também defendendo-o contra as impugnações exteriores. Pois é sinal da Paixão de Cristo, pela qual foram vencidos os demônios, de modo que este Sacramento repele toda a impugnação dos demônios.

15.
Ainda que este Sacramento não diretamente se ordene à diminuição do incitamento do pecado, diminui, porém, este incitamento por uma certa conseqüência, na medida em que aumenta a caridade, porque, segundo diz Agostinho no Livro das 83 Questões,

"O aumento da caridade
é a diminuição da cobiça".

Diretamente, porém, a Eucaristia confirma o homem no bem, pelo que também é preservado o homem do pecado.

16.
Este Sacramento, ademais, é de proveito para muitos outros além dos que o recebem porque, conforme foi dito, este Sacramento não é apenas sacramento, mas é também sacrifício. Na medida em que neste Sacramento é representada a Paixão de Cristo, pela qual Cristo se ofereceu a Si mesmo como hóstia a Deus, possui razão de sacrifício. Na medida, porém, em que neste Sacramento é trazida invisivelmente a graça sob uma espécie visível, possui razão de sacramento.

17.
Assim, pois, este Sacramento é, para os que o recebem, de proveito não só por modo de sacramento, como também por modo de sacrifício, porque é oferecido por todos os que o recebem.

18.
Mas também é de proveito para os que não o recebem, embora apenas por modo de sacrifício, na medida em que é oferecido pela salvação deles. É por isso que no cânon da Missa se diz:

"Lembrai-vos, Senhor,
dos vossos servos e servas,
pelos quais nós Vos oferecemos,
e eles Vos oferecem também,
este Sacrifício de louvor,
por si e por todos os seus,
pela redenção de suas almas,
pela esperança de sua salvação
e sua segurança".

19.
O próprio Senhor, ademais, expressou que a Eucaristia seria de proveito para outros além dos que a recebem, quando disse, na última Ceia:

"Este cálice é o meu sangue,
que por vós",

isto é, os que o recebem,

"e por muitos"

outros,

"será derramado
para o perdão dos pecados".

20.
Pode-se, porém, argumentar que sendo o efeito deste Sacramento a obtenção da graça e da glória e a remissão da culpa, pelo menos da venial, se este Sacramento realmente tivesse efeito em outros além dos que o recebem poderia acontecer que alguém alcançasse a glória, a graça e a remissão das culpas sem ação nem paixão própria, por algum outro ter oferecido ou recebido este Sacramento.

Responde-se a isto dizendo que assim como a Paixão de Cristo é de proveito para todos para a remissão da culpa, e a obtenção da graça e da glória, mas não produz efeito senão naqueles que se unem à Paixão de Cristo pela fé e pela caridade, assim também este sacrifício que é a Eucaristia, memorial da Paixão do Senhor, não produz efeito senão naqueles que se unem a este Sacramento pela fé e pela caridade. De onde que no Cânon da Missa não se ora por aqueles que estão fora da Igreja. Aos que nela estão, porém, o Sacrifício Eucarístico é de proveito maior ou menor de acordo com o modo de sua devoção.

21.
Mas, assim como deve-se dizer que o Sacramento da Eucaristia obtém a remissão dos pecados veniais, assim devemos também dizer que os pecados veniais impedem o efeito deste Sacramento. Pois diz São João Damasceno:

"O fogo do seu desejo que há em nós,
acendendo-se mediante
aquele fogo que há no carvão",

isto é, neste Sacramento,

"queimará nossos pecados
e iluminará nossos corações
para que ardamos e nos deifiquemos
pela participação do fogo divino".

Mas o fogo do nosso desejo ou do nosso amor é impedido pelos pecados veniais, que impedem o fervor da caridade. Portanto, os pecados veniais impedem o efeito deste Sacramento.

22.
Os pecados veniais podem ser considerados de dois modos. De um primeiro modo, na medida em que são passados. De um segundo modo, na medida em que estão sendo exercidos em ato.

Segundo o primeiro modo, os pecados veniais de nenhum modo impedem o efeito deste Sacramento. De fato, pode acontecer que alguém, depois de ter cometido muitos pecados veniais, se aproxime devotamente a este Sacramento e alcance plenamente o seu efeito.

Porém, de acordo com o segundo modo, os pecados veniais não impedem totalmente o efeito deste Sacramento, mas apenas em parte. De fato, foi dito que o efeito deste Sacramento não é apenas a obtenção da graça habitual ou da caridade habitual, mas também uma certa refeição atual de espiritual doçura. A qual, na verdade, é impedida se alguém se aproximar a este Sacramento com a mente distraída pelos pecados veniais. O aumento da graça habitual ou da caridade habitual, porém, não é tirado.

23.
Aquele que com o ato do pecado venial se aproxima deste Sacramento come espiritualmente segundo o hábito, mas não segundo o ato. E por isto recebe o efeito deste Sacramento segundo o hábito, não segundo o ato.

24.
Nisto o Sacramento da Eucaristia difere do Batismo, porque o Batismo não se ordena a um efeito atual, isto é, ao fervor da caridade, do modo como ocorre com o Sacramento da Eucaristia. O Batismo é uma regeneração espiritual, pelo qual se adquire uma primeira perfeição, que é um hábito ou forma; mas a Eucaristia é uma refeição espiritual que possui uma deleitação atual.

25.
Quem está em pecado mortal comete sacrilégio ao receber a Eucaristia, porque há duas coisas sacramentais na Eucaristia. A primeira, significada e contida, é o próprio Cristo; a segunda, significada mas não contida, é o Corpo Místico de Cristo, isto é, a sociedade dos santos. Quem quer que, pois, receba este Sacramento, só por isto significa estar unido a Cristo e aos seus membros. Ora, isto se realiza pela fé formada pela caridade, que ninguém pode possuir juntamente com o pecado mortal. E por isto é manifesto que quem quer que receba este Sacramento em pecado mortal comete nele falsidade. Incorre, por este motivo, em sacrilégio, como violador do Sacramento. Peca, por causa disto, mortalmente.

26.
Os pecadores, porém, que tocavam o Corpo de Cristo não sob a espécie sacramental, mas em sua substância própria, não pecavam. Às vezes até alcançavam o perdão dos pecados, como se lê no Evangelho de São Lucas a respeito da mulher pecadora. Isto acontecia porque o Cristo, aparecendo sob a sua espécie própria, não se exibia para ser tocado pelos homens em sinal de união espiritual com Ele, como é o caso quando se oferece para ser recebido neste Sacramento. Foi por isso que os pecadores que o tocavam em sua própria espécie não incorriam no crime de falsidade contra a divindade, como o fazem os pecadores que recebem este Sacramento.

27.
O pecador que recebe o Corpo de Cristo pode ser comparado, quanto à semelhança do crime, a Judas que beijou Cristo, porque ambos ofendem a Cristo sob um sinal de caridade.

Esta semelhança compete a todos os pecadores em geral, porque por todos os pecados mortais age-se contra a caridade de Cristo, de que é sinal este Sacramento, e tanto mais quanto os pecados são mais graves.

Mas sob um aspecto especial os pecados contra o sexto mandamento tornam o homem mais inepto para o recebimento deste Sacramento, na medida em que, a saber, por este pecado o espírito é maximamente submetido à carne, e desta maneira é impedido o fervor do amor que é requerido neste Sacramento.

28.
Que ninguém, pois, se aproxime desta Mesa sem reverente devoção e fervente amor, sem verdadeiro arrependimento, ou sem lembrar-se de sua Redenção.

Maravilhoso é este Sacramento em que uma inefável eficácia inflama os afetos com o fogo da caridade. Que revigorante maná é aqui oferecido para o viajante! Ele restaura o vigor dos fracos, a saúde para os doentes, confere o aumento da virtude, faz a graça superabundar, purga os vícios, refresca a alma, renova a vida dos aflitos, vincula uns aos outros todos os fiéis na união da caridade. Este Sacramento da fé também inspira a esperança e aumenta a caridade. É o pilar central da Igreja, a consolação dos que falecem, e o acabamento do Corpo Místico de Cristo. A fé amadurece, e a devoção e a caridade fraterna são aqui saboreadas. Que estupenda provisão para o caminho é esta, que conduz o viajante até à montanha das virtudes! Este é o pão verdadeiro que é comido e não consumido, que dá força sem perdê-la. É a nascente da vida e a fonte da graça. Perdoa o pecado e enfraquece a concupiscência. Os fiéis encontram aqui a sua refeição, e as almas um alimento que ilumina a inteligência, inflama os afetos, purga os defeitos, eleva os desejos. Ó cálice de doçura para as almas devotas, este sublime Sacramento, ó Senhor Jesus, declara para os que crêem Tuas maravilhosas obras.


Fonte: Cristianismo.org.br
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