Muitos santos e bons escritores já têm falado no grande bem que se
encontra no exercício da oração, digo da oração mental. Glória a Deus
por esse benefício! Se não o tivessem feito, jamais me atreveria sobre
tal assunto. Embora eu seja pouco humilde, contudo, minha soberba não
chega a tanto. Posso dizer apenas o que sei por experiência, isto é:
quem começou a se entregar à oração, não a deixe, por mais pecados que
faça. Com ela terá meios de se recuperar, ao passo que sem ela será
muito mais difícil.
A ninguém tente o demônio como a mim, fazendo abandonar a oração sob
pretexto de humildade. É certo que as palavras do Senhor não podem
faltar, se nos arrependemos sinceramente com propósito de não o ofender
mais. Ele nos acolhe com a mesma amizade, e faz as graças que antes
concedia, e às vezes muito mais, se o arrependimento tal merece. A quem
ainda não começou, rogo, por amor do Senhor, que não se prive de tanto
bem.
Não há que temer aqui, senão que esperar. Suponhamos que não progrida
nem se esforce por adquirir a perfeição necessária para merecer as
delícias e consolações que o Senhor dá aos perfeitos, pelo menos irá
aprendendo o caminho para o céu. Se perseverar neste santo exercício,
espero tudo da misericórdia de Deus, sabendo que ninguém o tomou por
amigo sem ser amplamente recompensado. A meu ver, a oração não é outra
coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e
estar muitas vezes conversando a sós com ele.
Talvez ainda não o ameis, porque para ser verdadeiro o amor e duradoura a
amizade, os gênios devem combinar. Sendo a sua condição tão diferente
da vossa, não podeis resolver-vos a amá-lo tanto. A do Senhor - já se
sabe - é de não incorrer em falta, ser perfeito, enquanto nós, por
natureza, somos viciosos, sensuais e ingratos. Contudo, considerando o
muito que ele vos ama, e o quanto importa sua amizade, suportai o
constrangimento de permanecer muito tempo com quem é tão diferente de
vós.
Oh! bondade infinita de meu Deus! Desta sorte parece-me estar vendo a
vós e a mim! Oh! delícia dos anjos! Quando isto vejo, quisera
desfazer-me toda em vosso amor! Como é certo que tolerais a quem não vos
quer tolerar junto de si! Que bom amigo sois, Senhor meu! Como tendes
paciência acariciando a alma, à espera de que se amolde à vossa
condição. Até que o consigais, vós suportais a sua! Levais em conta, meu
Senhor, o breve instante em que ela procura amar-vos, e por um
vislumbre de arrependimento de sua parte olvidais quanto vos tem
ofendido.
Isso claramente vi por mim. Não entendo, Criador meu, o motivo pelo qual
o mundo todo não procura chegar-se a vós para travar particular
amizade. Até os que são maus e não têm vossa condição, deviam
aproximar-se de vós para que os façais bons.
Assim acontecerá se consentirem que, ao menos duas horas cada dia, vós
estejais em sua companhia, muito embora não fiquem em vossa companhia,
mas agitados com mil preocupações, cuidados e pensamentos do mundo, como
eu fazia. Na verdade, devem fazer esforço para estar em tão boa
convivência. Nos princípios, e mesmo depois, algumas vezes, é só o que
conseguem. Em recompensa, vós impedis os demônios de atacá-los, ao passo
que aumentais a força da alma de modo a vencer o inimigo. Sim, vida de
todas as vidas! Dos que se fiam de vós e vos querem por amigo, a nenhum
matais, antes lhes sustentais o corpo com melhor saúde e dais vida à
alma
Sta Teresa D'Avila, Livro da Vida
Fonte: Blog GRAA
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