3.3 - SEJA FEITA A
TUA VONTADE
Com isto estamos
tocando no terceiro sinal
da filiação
divina: Ser um com Deus, foi o primeiro. Que
todos sejam um
em Deus,
foi o segundo. O terceiro:
“Nisto
reconheço que vós me amais, se observardes os
meus mandamentos”.
Ser filho de
Deus significa: andar apoiado na
mão de Deus, na
vontade de Deus; não fazer a vontade
própria, colocar
todo cuidado e toda a esperança
nas mãos de
Deus, não se preocupar consigo e com seu
futuro. Nisto
consiste a liberdade e a alegria dos filhos
de Deus. Tão
poucos as possuem, mesmo entre os
realmente
piedosos, mesmo entre os heroicamente dispostos
ao sacrifício.
Sempre andam encurvados sob o
peso dos
cuidados e obrigações.
Todos conhecem a
parábola dos pássaros do
céu e dos lírios
do campo. Mas quando encontram uma
pessoa que não
tem herança, nem pensão e nem seguro
e, mesmo assim,
vive tranqüilo quanto ao seu futuro,
aí meneiam a
cabeça como se fosse algo incomum.
Contudo, quem
esperar do Pai do céu, que
cuide a toda
hora de seu dinheiro e da condição de
vida que ele
gostaria de ter, por certo, vai se enganar.
A confiança em
Deus vai se firmar inabalavelmente,
quando incluir a
disposição de aceitar tudo das mãos
do Pai. Pois,
somente Ele sabe o que é bom para nós.
E, se a
necessidade e a privação forem mais convenientes
do que uma renda
folgada e segura, ou insucesso e
humilhação,
melhor do que honra e reputação, então
se deve estar
preparado para isso. Se assim fizermos,
podemos viver
despreocupados com o futuro e com o O “seja feita a vossa vontade”, em toda a
sua amplitude, deve
ser o fio condutor da vida cristã. Ele
deve nortear o
correr do dia, da manhã até a noite, o
correr do ano e
de toda a vida. Será a única preocupação
do cristão.
Todos os outros cuidados, o Senhor assume.
Mas, esta única
preocupação pertence a nós, enquanto
vivermos.
Objetivamente, não somos definitivamente
firmes para
permanecermos sempre nos caminhos
de Deus. Assim
como os primeiros pais perderam
a filiação
divina pelo distanciamento de Deus,
assim cada um de
nós está sempre entre o nada e a
plenitude da
vida divina. Mais cedo ou mais tarde isto
se torna também
uma experiência subjetiva. No começo
da vida
espiritual, quando começamos a nos entregar
à direção de
Deus, é que sentimos bem forte e
firme a mão que
nos conduz; de forma clara aparece
para nós, o que
devemos fazer ou deixar de fazer. Mas
isto não é
sempre assim. Quem pertence a Cristo,
deve viver a
vida de Cristo. Deve-se amadurecer até à
idade adulta de
Cristo, ele deve iniciar a via-sacra para
o Getsêmane e o
Gólgota. E todos os sofrimentos que
vêm de fora, são
nada comparados com a noite escura
da alma, quando
a luz divina cessa de clarear e a voz
do Senhor se
cala. Deus está presente, porém, escondido
e silencioso.
Por que acontece isto? São os mistérios
de Deus, dos
quais falamos, ele não se deixa penetrar
completamente.
Só podemos vislumbrar algumas
facetas desse
mistério e, por isso, Deus se fez homem;
para voltar e
fazer-nos participar da sua vida. Esse é o
começo e a meta
final. Mas, no meio se encontra ainda
outra coisa.
Cristo é Deus e homem e, quem quer partilhar
a sua vida, deve
fazer parte de sua vida divina e
humana. A
natureza humana que Ele aceitou, deu-lhe
a possibilidade
de sofrer e morrer; a natureza divina,
que Ele possui
desde toda a eternidade, deu à sua paixão e morte um valor infinito e uma força
redentora.
A paixão e morte
de Cristo continuam no seu corpo
místico e em
todos os seus membros. Todo homem
tem que sofrer e
morrer. Porém, se ele for membro
vivo no corpo de
Cristo, então, o seu sofrimento e sua
morte adquirem
pela divindade de seu corpo, força
salvadora. Esta
é a causa objetiva por que todos os santos
desejam sofrer.
Não se trata de um prazer doentio
de sofrer. Aos
olhos da razão natural, isto pode parecer
perversidade. À
luz do mistério da redenção, contudo,
isto se revela
de maneira sublime. E assim a pessoa -
ligada - a
Cristo, mesmo na noite escura do distanciamento
subjetivo de
Deus e abandono, persistirá; talvez
a divina
providência permita o tormento, para libertar
a pessoa
objetivamente aprisionada. Por isto:
“Seja feita a
Vossa vontade”, mesmo quando na noite
mais escura.
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