domingo, 16 de dezembro de 2012

Santa Edith Stein, O Mistério do Natal - Parte II: O Seguimento do Filho de Deus feito Homem



        Cada um de nós talvez já tenha experimentado
tal felicidade natalina. Mas, até aqui, o céu e a terra
não se uniram. Também hoje a estrela de Belém é uma
estrela na noite escura. Já, no segundo dia, a Igreja
tira as vestes festivas e se reveste com a cor do sangue
e, no quarto dia, de cores enlutadas. Estêvão, o protomártir,
que primeiro seguiu o Senhor para a morte, e
os santos inocentes, as criancinhas de Belém de Judá,
mortas cruelmente por mãos de algozes, estão ao redor
da criança no presépio. O que quer dizer isto? Onde
está o júbilo das potências celestes? Onde está a tranqüila
bem-aventurança da noite santa? Onde está a
paz na terra? “Paz na terra aos homens de boa vontade”.
Mas, nem todos têm boa vontade.
Por isso, o Filho do Pai Eterno nasceu da glória
celeste, pois o mistério do mal encobriu a terra com a
escuridão.
Trevas cobriram a terra e Ele veio como a luz,
que iluminou as trevas, mas as trevas não O conheceram.
Àqueles que O acolheram, Ele trouxe a luz e a
paz; a paz com o Pai do céu, a paz com todos que, com
Ele, são filhos da luz e filhos do Pai do céu, e a profunda
paz do coração; mas, não a paz com os filhos das
trevas. Para eles, o Príncipe da paz não traz a paz e
sim, a espada. Para eles o Senhor é a pedra de tropeço,
contra quem atacam e na qual serão destruídos. Esta é
uma grande e séria verdade, que não podemos encobrir
por causa do encanto poético da criança no presépio.
O mistério da encarnação e o mistério do mal vão
juntos. Contra a luz que vem do alto, contrasta a noite
do pecado e a torna escura e tenebrosa. A criança no
presépio estende as mãos e o seu sorriso parece dizer, o
que mais tarde pronunciaram os lábios do Filho do
Homem: “Vinde a mim todos os que estais cansados
sob o peso do vosso fardo”. E aqueles que seguem o
seu chamado, os pobres pastores, aos quais nos campos
de Belém o resplendor do céu e a voz do anjo anunciaram
a Boa Nova e que responderam confiantes: “Vamos
a Belém”, e se puseram a caminho; os reis, vindos
do oriente longínquo seguiram, na mesma fé simples,
a estrela milagrosa para eles, através das mãos da
criança, correu o orvalho da graça e “eles exultaram
com grande alegria”. Estas mãos dão e, ao mesmo
tempo, cobram: vós, sábios, despojai-vos de vossa sabedoria
e tornai-vos simples como crianças; vós, reis,
entregai vossas coroas e vossos tesouros e inclinai-vos,
humildemente, diante do Rei dos reis; aceitai, sem
hesitação, os fardos, dores e pesares, exigidos pelo vosso
serviço; de vós crianças, que não podeis ainda oferecer
nada gratuitamente, tiram a vossa tenra vida, antes
dela ter propriamente começado: ela não pode servir
melhor do que ser sacrificada ao Senhor da vida.
“Siga-me”, dessa maneira se expressaram as mãos
do menino, como mais tarde repetirá com os lábios o
Mestre. Assim foi dito ao discípulo, a quem o Senhor
amava. E São João, o jovem com o coração puro de
criança, seguia sem perguntas: Para onde? E para quê?
Ele deixou a barca do pai e seguiu o Senhor em todos
os caminhos até ao gólgota.
“Siga-me” - também entendeu o jovem Estêvão.
Ele seguiu o Senhor na luta contra os poderes das trevas,
a cegueira da descrença obstinada; ele deu testemunho
do Senhor com sua palavra e com seu sangue;
ele O seguiu também em seu Espírito, no Espírito do
Amor, que combate contra o pecado, mas que ama o
pecador, e ainda na morte intercede diante de Deus
pelos assasssinos.
São personagens de luz, que rodeiam o presépio:
os santos tenros inocentes, os simples e fiéis pastores,
os reis humildes, Estêvão, o discípulo entusiasmado e
João, o discípulo predileto. Todos eles seguiram o chamado
do Senhor. Em oposição a eles se encontram na
noite da dureza e cegueira incompreensíveis os doutores
da lei, que podem dar informações sobre o tempo e
o lugar onde devia nascer o Salvador do mundo, mas
não deduzem daí: “Vamos a Belém”; o rei Herodes
pretende matar o Senhor da vida.
Diante da criança no presépio, os espíritos se dividem.
Ele é o rei dos reis e o Senhor da vida e da
morte. Ele fala o seu: “Siga-me”, e quem não for a seu
favor, é contra Ele. Ele o diz também para nós e nos
coloca diante da decisão entre luz e trevas.

Fonte: Santa Edith Stein, O Místério do Natal, Editora da Universidade doSagrado Coração 


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