(1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Carta 197 de 1896/09/17
«Qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo»
Minha querida irmã, como pode perguntar-me se lhe é possível amar o Bom Deus como eu o amo? […] Os meus desejos de martírio nada são, não são eles que me dão a confiança ilimitada que sinto em meu coração. Na verdade, as riquezas espirituais tornam-nos injustos, quando repousamos nelas com complacência e acreditamos que são algo grande. […] Eu sinto que […] o que agrada ao Bom Deus na minha alminha é Ele ver que amo a minha pequenez e a minha pobreza, é a esperança cega que tenho na sua misericórdia. Esse é o meu único tesouro. […]
Ó minha querida irmã […], perceba que, para amar Jesus, […] quanto mais fraco se é, sem desejos, nem virtudes, mais se está preparado para as operações deste Amor consumidor e transformador. O simples desejo de ser vítima já é suficiente, mas é preciso o consentimento para permanecer pobre e sem poder, e isso é difícil porque «onde encontrar o verdadeiro pobre em espírito? Devemos procurá-lo longe», disse o salmista. Ele não diz que se deve procurar entre as grandes almas, mas «longe», quer dizer, na baixeza, no nada.
Permaneçamos portanto longe de tudo o que brilha, amemos a nossa pequenez, amemos não sentir nada, e então seremos pobres em espírito e Jesus virá procurar-nos; por mais longe que estejamos, Ele nos transformará em labaredas de amor. Oh, como gostaria de poder fazer-lhe entender o que sinto! Só a confiança, e nada mais que a confiança, deve levar-nos ao Amor. O medo não leva à Justiça? (À justiça severa como a que se apresenta aos pecadores, mas não a esta justiça que Jesus terá para aqueles que O amam.) Uma vez que vemos o caminho, caminhemos juntas. Sim, eu sinto-o, Jesus quer dar-nos as mesmas graças, quer dar-nos gratuitamente o seu Céu.
Fonte: Evangelho Quotidiano
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