Conheça o modo próprio do consagrado a Virgem Maria viver esta devoção na santa
comunhão.
São Luís Maria Grignion de Montfort, ensina como os consagrados a Nossa
Senhora devem participar da comunhão eucarística, no final do seu
extraordinário livro “Tratado da Verdadeira Devoção a
Santíssima Virgem”. Apesar deste ser o último tema do Livro, não é o
menos importante. Ao contrário, o grande Santo nos fala da comunhão
separadamente das práticas interiores e exteriores justamente por causa da sua importância na santa escravidão a Jesus Cristo pelas
mãos da Virgem Maria. Podemos dizer que esta última parte do Tratado
é um coroamento da devoção que São Luís Maria nos ensinou. Não poderia ser
diferente, pois participar bem da Santa Missa, principalmente da comunhão,
recebendo o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo devotamente, em estado de graça e
com um coração bem disposto, faz toda a diferença para o crescimento na vida
espiritual.
A participação no sacrifício eucarístico de Jesus Cristo é a fonte e o
centro de toda a vida cristã. Mais ainda, a Eucaristia é o ápice, o ponto mais
alto, do mistério de nossa comunhão com Cristo e, n’Ele, com o Pai e com o
Espírito Santo. Sendo assim, para participar bem do momento mais sublime e
elevado de nossa fé, que é a Eucaristia, uma boa preparação é necessária. São
Luís Maria sabia muito bem disso, tanto que, como grande pedagogo que é, de
forma extraordinária, nos ensina não somente a nos preparar bem para receber a
comunhão, mas também a comungar devotamente e a viver bem o momento de ação de
graças.
A devoção a Virgem
Maria antes da comunhão
A preparação para a comunhão começa antes mesmo da celebração da Santa
Missa, ou da Palavra com comunhão, com o jejum eucarístico de pelo menos de uma
hora antes – que tem como finalidade não somente
de abster-nos de comida e de bebida, mas principalmente de despertar em nós
“fome” e “sede” de Deus – e a busca do silêncio e do recolhimento interior.
Além disso, as práticas seguintes, ensinadas por São Luís Maria para antes da
comunhão, podem ser feitas durante a celebração, mas é muito salutar se forem
vividas antes, ainda que num breve momento de meditação e oração. De qualquer
forma, nesta preparação para a comunhão, devemos:
1º – Humilhar-nos
profundamente diante de Deus;
2º – Renunciar ao
nosso fundo mau, todo corrompido, e às nossas más disposições, embora o nosso
amor próprio as faça parecer boas;
3º – Renovar a nossa
consagração dizendo: “’Todo Vosso sou, ó querida Mãe, e tudo o que tenho é
Vosso!‘ (Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt!)”;
4º – Suplicar a
Virgem Maria que nos empreste o seu Coração de Mãe, para nele receber seu Filho
com as disposições dela. Pois, a glória de seu Filho exige que não seja
recebido num coração tão manchado e tão inconstante como o nosso. Se recebermos
o Senhor em nosso coração, este não demorará em fazer-nos perdê-Lo, ou em
privar-nos da Sua glória. Mas, se Nossa Senhora quiser vir habitar em nosso
coração para receber seu Filho, poderá fazê-lo pelo domínio que tem sobre os
corações. Dessa forma, seu Filho será bem recebido, sem mancha nem perigo de
ser ultrajado ou perdido. Então, digamos confiantemente a Mãe de Deus que tudo
o que lhe oferecemos dos nossos bens é bem pouca coisa para honrá-la. Por isso,
desejamos dar-lhe, pela santa comunhão, o mesmo presente que o Pai Eterno lhe
deu: seu Filho Jesus Cristo. Deste modo, a Virgem Maria será mais honrada do
que se lhe oferecêssemos todos os bens do mundo. Podemos dizer a Virgem de
Nazaré que seu Filho Jesus a ama muito particularmente, e que ainda quer ter
nela as suas alegrias e o seu repouso, mesmo que agora seja em nossa alma, mais
suja e pobre que o estábulo, onde Jesus não pôs dificuldades em vir, porque ela
lá estava. Enfim, peçamos a Nossa Senhora o seu Coração, com estas ternas
palavras: “Tomo-Vos como toda a minha riqueza. Dai-me o Vosso Coração, ó
Maria!”.
A devoção a
Santíssima Virgem durante a comunhão
Segundo a devoção ensinada por São Luís Maria, quando se aproximar o
momento sublime de receber Jesus Cristo, depois do “Pai-Nosso”, diremos três
vezes: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma
só palavra e serei salvo!”, cada uma delas por uma pessoa da Santíssima
Trindade:
1ª – A primeira vez
será para dizer ao Pai Eterno que não somos dignos de receber seu Filho
Unigênito, por causa dos nossos maus pensamentos e ingratidões para com um Pai
tão bom. Mas eis que Maria, a Serva do Senhor, está conosco, representa-nos e
dá-nos confiança e esperança singulares junto da Divina Majestade;
2ª – A segunda vez,
diremos ao Filho que não somos dignos de recebê-Lo por causa das nossas inúteis
e más palavras, por causa da nossa infidelidade ao Seu serviço. Suplicaremos a
Jesus que tenha piedade de nós, porque O introduziremos na casa da sua própria
Mãe e nossa. Diremos que não O deixaremos partir sem que venha morar na casa de
Maria: “Detive-o e não o deixarei até o introduzir na casa de minha Mãe e no
quarto daquela que me gerou”. Pediremos a Cristo que se levante e venha
descansar no lugar do seu repouso, na arca da sua santificação: “Levantai-Vos,
Senhor, entrai no Vosso repouso, tu e a arca da tua santidade”. Não colocaremos
nenhuma confiança nos nossos méritos, em nossas forças e na nossa preparação,
como Esaú, mas nas mãos de Maria, nossa querida Mãe, como o jovem Jacó se
colocou aos cuidados de Rebeca. Embora pecador e Esaú que somos, ousamos
aproximar-nos da santidade do Filho de Deus apoiados e revestidos dos méritos e
virtudes de sua Santa Mãe;
3ª – Na terceira vez,
diremos ao Espírito Santo que não somos dignos de receber a obra-prima da sua
caridade, por causa da tibieza e iniquidade das nossas ações e das nossas
resistências às suas inspirações, mas que toda a nossa confiança está em Maria,
sua Fiel Esposa. Com São Bernardo, exclamaremos: “Ela é a minha grande
confiança, é toda a razão da minha esperança!” Neste momento, podemos pedir ao Espírito de Deus que venha mais uma vez
a Virgem Maria, sua esposa inseparável; que seu seio é tão puro e seu Coração
tão abrasado como sempre; e que sem que Ele desça à nossa alma, Jesus e Maria
nela não poderão ser bem acolhidos, nem bem formados.
A devoção a Nossa
Senhora depois da comunhão
Depois da santa comunhão, interiormente recolhidos, com os olhos
fechados, introduziremos espiritualmente Jesus Cristo no Coração de Maria. Nós
O daremos “à sua Mãe, que O receberá amorosamente, O instalará honorificamente,
O adorará profundamente, O amará perfeitamente, O abraçará com amor e Lhe
tributará, em espírito e verdade, várias homenagens que nos são desconhecidas,
a nós, envoltos nessas densas trevas”. Ou então, permaneceremos profundamente
humilhados em nosso coração, na presença de Jesus fazendo sua morada em Maria.
Ou ficaremos como um escravo à porta do palácio do Rei, onde Ele está a falar
com a Rainha e, enquanto Eles falam, sem precisar de nós, iremos em espírito ao
Céu e pela Terra inteira para pedir a todas as criaturas que agradeçam, adorem
e amem Jesus em Maria, por nós. “Vinde, adoremos, vinde!”. Ou então, nós mesmos
pediremos a Jesus, em união com Maria, a vinda do seu Reino sobre a Terra, por
intermédio de sua Santa Mãe. Ou pediremos a Sabedoria Divina, ou o Amor Divino,
ou o perdão dos nossos pecados, ou qualquer outra graça, mas sempre por Maria e
em Maria. Então diremos, considerando-nos com desconfiança: Senhor, não olheis
para os nossos pecados, mas que os Vossos olhos só vejam em nós as virtudes e
os méritos de Maria. E, recordando-nos dos nossos pecados, acrescentaremos:
“Foi o inimigo que fez isto!”. Pois, nós mesmos somos o maior inimigo com quem
temos que lutar; fomos nós que cometemos estes pecados. Ou então: Livrai-nos,
Senhor, do homem perverso e mentiroso, que somos nós mesmos. Podemos dizer
ainda: meu Jesus, é necessário que vós cresçais na minha alma e que nós
diminuamos. Ó Maria, é necessário que cresçais em nós, e que sejamos menores do
que nunca! “Crescei e multiplicai-vos”: ó Jesus e Maria, crescei em nós, e
multiplicai-Vos fora de nós nos outros.
O segredo de Maria na
comunhão eucarística
Assim, o Espírito Santo nos inspirará uma infinidade de pensamentos, se
formos interiores, mortificados e fiéis a esta grande e sublime devoção
ensinada por São Luís Maria. Não tenhamos medo de clamar a presença de Nossa
Senhora antes de receber Jesus Cristo na comunhão. Recordemos que, quanto mais
deixarmos agir Maria na nossa comunhão, mais Jesus será glorificado. Além
disso, tanto mais deixaremos agir Maria por Jesus e Jesus em Maria, quanto mais
profundamente nos humilharmos e os escutarmos em paz e silêncio, sem procurar
ver, gostar ou sentir. “Pois o justo vive, em tudo, da Fé, e particularmente na
Sagrada Comunhão, que é um ato de fé: ‘O meu justo viverá da Fé!’”. Neste ato
de fé, está o segredo para viver bem a comunhão e deixar que Jesus e Maria
realizem a obra da Santíssima Trindade em nós. Na comunhão, não devemos buscar
visões, consolações ou sensações, senão permaneceremos no exterior e
praticamente impediremos a ação de Deus. Pois, é em nosso interior, no mais profundo
de nossas almas, que Jesus e Maria realizam as maiores maravilhas da graça. Que
Nossa Senhora nos ajude a acolher Jesus Cristo, a Palavra de Deus que se fez
carne, em nosso interior, no mais íntimo do nosso coração. Ó Virgem Maria, Mãe
de Deus, rogai por nós!
Natalino Ueda - Blog Todo de Maria
Links relacionados:
Referências:
3 Cf. PAPA JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico,
Cânon 919 — § 1. Quem vai receber a santíssima Eucaristia, abstenha-se, pelo
espaço de ao menos uma hora antes da sagrada comunhão, de qualquer comida ou
bebida, exceto água ou remédios.
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