(Bento XVI, Papa de 2005 a 2013)
"Um só Senhor", 1965
«Se morrer dará muito fruto»
Ser cristão é, antes de mais e sempre, arrancar-se ao egoísmo que vive exclusivamente para si, para entrar numa grande orientação inabalável de vida de uns para os outros. No fundo, todas as grandes imagens escriturais traduzem esta realidade. A imagem da Páscoa [...], a imagem do êxodo [...], que começa com Abraão e se torna uma lei fundamental ao longo de toda a história sagrada: tudo isso é a expressão desse mesmo movimento fundamental que consiste em repudiar uma existência virada para si mesma.
O Senhor Jesus enunciou esta realidade da maneira mais profunda na comparação do grão de trigo, que mostra simultaneamente que essa lei essencial não só domina toda a História, como marca, desde o princípio, a criação inteira de Deus: «Em verdade vos digo, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer, dará muito fruto.»
Na sua morte e ressurreição, Cristo cumpriu a lei do grão de trigo. Na Eucaristia, no pão de trigo, tornou-Se verdadeiramente o fruto cêntuplo (Mt 13,8) de que vivemos ainda e sempre. Mas, no mistério da sagrada Eucaristia, onde continua a ser para sempre Aquele que é verdadeira e plenamente «para nós», convida-nos a entrar, dia após dia, nessa lei que mais não é do que a expressão da essência do amor verdadeiro [...]: sair de si mesmo para servir os outros. O movimento fundamental do cristianismo é, em última análise, o simples movimento do amor pelo qual participamos no próprio amor criador de Deus.
Fonte: Evangelho Quotidiano
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