São José chegara ao fim de seus dias. Ninguém como ele, entre tantos
varões veneráveis que o precederam na santidade, fora incumbido de missão tão
alta. Ele era o guarda e protetor do Filho de Deus feito homem e de sua Mãe
santíssima.
Deus Pai o escolhera pessoalmente para esse mister, elevado entre todos.
E São José cumprira sua missão com tanta perfeição, tanta dignidade, tanta
humildade junto a seus inefáveis protegidos, tanta força e astúcia contra os
inimigos de Jesus, insuflados por toda parte pelo demônio, que esteve
inteiramente à altura dos desígnios divinos. Tanto quanto é possível a uma
simples criatura, ele teve proporção com o sublime encargo de ser esposo da
Santíssima Virgem e pai adotivo do Verbo de Deus encarnado. Quanto isto
significa!
Aproximava-se porém o tempo em que Jesus iria iniciar sua missão
pública; a Virgem Maria não mais se encontrava na situação de uma jovem mãe que
precisa de proteção diante de um mundo hostil e de línguas aleivosas. A missão
de São José chegara magnificamente a seu termo, e ele agonizava placidamente.
De um lado e de outro da cama, Nosso Senhor e Nossa Senhora,
emocionados, o contemplavam com amor e gratidão, tristes porque ele partia, mas
supremamente consolados por saber que o aguardava a melhor das recompensas
celestes.
Do lado de fora, como quer uma antiga tradição, a morte impaciente mas
temerosa não ousava entrar para recolher sua presa, pois esperava um sinal do
Altíssimo, postado ao lado do moribundo.
São José tivera sempre uma tal veneração pela Virgem Santíssima, uma
idéia tão elevada de seus méritos e virtudes, um tal respeito por sua
virgindade imaculada, que jamais ousara tocar sequer um fio de seu cabelo.
Agora, posto ele em seu leito de morte, a Santíssima Virgem, como
recompensa por tanta dedicação, segura-lhe a mão, num supremo ato de
reconhecimento e amizade.
Aquele toque quase divino comunicou a São José, ainda lúcido, uma tal
alegria sobrenatural, que ele, varão castíssimo, sentiu sua alma invadida por
uma graça de superior virginalidade, como se a inundasse um rio de águas
puríssimas, cristalinas e benfazejas.
Essa sensação inefável –– até então para ele desconhecida, porque acima
do que a natureza humana pode alcançar –– o elevou a um patamar de indizível
união com Deus, inacessível à nossa compreensão atual, mas que um dia no Céu
ele poderá nos contar.
Estava São José nesse verdadeiro êxtase, quando sentiu pousar sobre seu
ombro direito a mão amiga do Filho de Deus. Incontinenti viu-se submerso em Deus,
e Deus nele. Era a visão beatífica, não concedida até então a nenhum mortal,
pois o acesso ao Céu fora fechado pelo pecado de Adão, e lhe era comunicada por
antecipação, ainda que fugazmente.
São José notou em seguida que uma coorte de pessoas se aproximava dele.
Reconheceu na primeira fila o patriarca Abraão e o profeta Moisés, seguidos de
todos os justos que o haviam precedido com o sinal da fé. Só então ele se deu
conta de que não estava mais nesta Terra, e que adentrara os umbrais do Limbo.
Todos os habitantes daquele lugar o interrogavam atropeladamente: Quando
se consumará a Redenção? Quando nos será aberto o Paraíso celeste que tanto
esperamos, alguns há milhares de anos? Como é o Filho de Deus? E sua Mãe
Santíssima, como é a sua presença?
São José a todos respondia com atenção e bondade, mas já começando a
sentir uma saudade imensa daqueles dois seres perfeitíssimos, com quem conviveu
tão proximamente nesta Terra de exílio.
Autor: Gregorio Vivanco Lopes
Fonte: Catolicismo
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