1. Jesus: Filho, vou agora te ensinar o caminho da paz e da
verdadeira liberdade.
2. A alma: Fazei, Senhor, o que dizeis, que muito grato me é
ouvi-lo.
3. Jesus: Filho, trata de fazer antes a vontade alheia que a
tua. Prefere sempre ter menos que mais. Busca sempre o último lugar e
sujeita-te a todos. Deseja sempre e roga que se cumpra plenamente em ti a
vontade de Deus. O homem que assim procede penetra na região da paz e
do descanso.
4. A alma: Senhor, este vosso discurso é breve, mas encerra
muita perfeição. Poucas são as palavras, cheias, porém, de sabedoria e de
copioso fruto. Se eu as praticasse fielmente, não me deixaria perturbar com
tanta facilidade. Pois, todas as vezes que me sinto inquieto e aflito, verifico
que me desviei desta doutrina. Vós, porém, que tudo podeis e desejais sempre o
progresso da alma, aumentai em mim a graça, para que possa guardar vossos
ensinamentos e levar a efeito minha salvação.
1. Senhor, meu Deus, não vos aparteis de mim, meu Deus
dignai-vos socorrer-me (Sl 70,13). Pois me invadem vários pensamentos, e
grandes temores afligem minha alma. Como escaparei ileso, como poderei
vencê-los?
2. Diante de ti, são palavras vossas, irei eu e humilharei os
soberbos da terra (Is 14,1); abrir-te-ei as portas do cárcere e te revelarei
mistérios recônditos.
3. Fazei Senhor, conforme dizeis e dissipe vossa presença
todos os maus pensamentos. Esta é a minha única esperança e consolação: a vós
recorrer em toda tribulação, em vós confiar, invocar-vos de todo o coração e
com paciência aguardar a vossa consolação. Amém.
1. Iluminai-me, ó bom Jesus, com a claridade da luz interior e
dissipai todas as trevas que reinam em meu coração. Refreai as dissipações
nocivas e rebatei as tentações, que me fazem violência. Pelejai valorosamente
por mim, e afugentai as más feras, essas traiçoeiras concupiscências, para que se
faça a paz por vossa virtude, e ressoe perene louvor no templo santo, que é a
consciência pura. Mandai aos ventos e às tempestades; dizei ao mar: aplaca-te,
e ao tufão: não sopres; e haverá grande bonança.
2. Enviai vossa luz e vossa verdade (Sl 42,3), para que
resplandeçam sobre a terra; porque sou terra vazia e estéril, enquanto não me
iluminais. Derramai sobre mim vossa graça e banhai o meu coração com o orvalho
celestial; abri as fontes de devoção, que reguem a face da terra, para que
produza frutos bons e perfeitos. Erguei meu espírito abatido pelo peso dos
pecados e dirigi meus desejos paras as coisas do céu, para que, antegozando a doçura
da suprema felicidade, me aborreça em pensar nas coisas da terra. Desprendei-me
e arrancai-me de toda transitória consolação das criaturas, porque nenhuma
coisa criada pode consolar-me plenamente ou satisfazer meus desejos. Uni-me
convosco pelo vínculo indissolúvel do amor, porque só vós bastais a quem vos
ama, e sem vós tudo o mais é vaidade. Amém.
(Tomás de Kempis - Imitação de Cristo)
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