(354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
«Seja-vos feito segundo a vossa fé»
As multidões seguem Jesus e os povos crêem nele. E eis dois cegos, sentados à beira da estrada (Mt 20,29ss): eles são a imagem dos fiéis que O seguem acreditando nos mistérios da sua humanidade. Eles desejam a luz do alto, eles pedem alguns raios de luz sobre o Verbo eterno. A humanidade de Cristo é a via que conduz à salvação. É à passagem de Jesus, é pela fé na Encarnação e na Paixão do Filho de Deus, que eles se esforçam por obter o que desejam. Com efeito, Jesus passa, por assim dizer, no mistério da sua vida mortal; é a obra que Ele realiza que mede a sua passagem no tempo.
Para nos fazermos ouvir por Ele, precisamos de levantar a voz com força, de dominar o barulho e o tumulto da multidão, de orar com insistência e perseverança. Os impulsos da carne, qual multidão desordenada, assaltam a alma quando esta deseja contemplar a luz eterna, e opõem-se aos seus esforços. A influência do turbilhão da sociedade dos homens carnais perturba a meditação do espírito. É necessário um vigor espiritual muito grande para ultrapassar todos estes obstáculos.
Jesus disse: «Pois quem pede recebe e quem procura encontra, e ao que bate abrir-se-á» (Mt 7,8). Assim, quando ouve aqueles que, no ardor do seu desejo, se aproximam dele, Jesus detém-Se no caminho, toca nestes cegos que pedem luz e ilumina-os. Mistério admirável!
Jesus passa: o seu aparecimento na enfermidade da carne é momentâneo. Jesus detém-Se: a eternidade do Verbo é estável e tudo renova, permanecendo imutável em Si mesma. A fé na encarnação no tempo prepara-nos para a inteligência do mistério eterno de Deus.
Fonte: Evangelho Quotidiano
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