sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Lei dolorosa, lei de vida! - Beato Maria Eugênio do Menino Jesus

Beato Maria-Eugênio do Menino Jesus - Instituto Hesed
Beato Maria Eugénio do Menino Jesus (1894-1967)

carmelita, fundador de Notre Dame de Vie

  

 Nosso Senhor diz-nos: «Se não fizerdes penitência, perecereis todos» (Lc 13,3) - lei verdadeiramente austera. Jesus especifica a qualidade do esforço que exige: «O Reino de Deus sofre violência e só os violentos o arrebatam» (Mt 11, 12). Todos os discípulos de Cristo devem, portanto, ser pessoas violentas, porque o preceito formal do Mestre não pode ser cumprido sem fazermos violência a nós próprios: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16,24). 

Por isso, não há outro caminho de subida para Deus senão o caminho do Calvário, tão amargo e sangrento como a subida do Carmelo. Aos discípulos de Emaús, ainda escandalizados com o drama do Calvário, Jesus pergunta: «Não era necessário que o Filho do Homem sofresse antes de entrar na glória?» (Lc 24,26), proclamando a lei que impôs a Si próprio e que também eles terão de suportar, pois «o discípulo não está acima do Mestre. Se o mundo Me odiou, também vos odiará a vós; se Me perseguiu, também vos perseguirá a vós. [...] Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos» (Mt 10,24.16; cf Jo 15,18.20) Esta lei dolorosa é uma lei de vida [...]. 

Queremos esquecer que Cristo Jesus não anunciou outra vitória senão a da cruz do Calvário, outra vingança sobre os seus inimigos senão a do dia em que virá sobre as nuvens do céu com a sua cruz para julgar os vivos e os mortos. Nesse dia, só triunfarão com Ele os que tiverem passado pela grande tribulação e tiverem sido purificados com o sangue do Cordeiro (cf Ap 7,14).

 



Ascese Teresiana
Fonte: Evangelho Quotidiano

 

sexta-feira, 17 de março de 2023

As armas do cristão contra o demónio - Por São João Maria Vianney




Um cristão que usa santamente a oração e os sacramentos é tão temível para o demónio como um dragão montado num corcel, de olhos chispantes, armado com a sua couraça, o sabre e as pistolas, diante de um inimigo desarmado: a sua simples presença obriga-o a fazer meia volta e fugir. Mas, se desmontar do cavalo e abandonar as armas, imediatamente o inimigo o derruba, o esmaga aos pés e o domina. [...] Um cristão que reza e que frequenta os sacramentos com as necessárias disposições é mais temível para o demónio que este dragão de que vos falei [...]. 

Porquê? Porque os sacramentos nos dão tanta força para perseverarmos na graça de Deus que nunca se viu um santo afastar-se dos sacramentos e perseverar na amizade com Deus; e a razão é que foi nos sacramentos que encontraram todas as forças para não se deixarem vencer pelo demónio. Quando rezamos, Deus dá-nos amigos, enviando-nos, ora um santo, ora um anjo, para nos consolar [...] e fazendo-nos sentir a sua graça com mais abundância, para nos fortalecer e nos encorajar. Nos sacramentos, porém, não é um santo nem um anjo, é Ele próprio que vem aniquilar o nosso inimigo com os seus raios. Ao vê-lo no nosso coração, o demónio precipita-se desesperadamente nos abismos; é precisamente por isso que o demónio faz tudo quanto pode para nos afastar deles e nos levar a profaná-los. Sim, meus irmãos, quando uma pessoa frequenta os sacramentos, o demónio perde por completo o seu poder.

 

Sermão para o 2.º Domingo depois da Páscoa
Fonte: Evangelho Quotidiano

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Viver de fé, com a ajuda de Maria - Por São Luís Maria Grignion de Montfort



 


 

A Santíssima Virgem vos fará partilhar a sua fé, que foi mais forte que a fé de todos os patriarcas, profetas, apóstolos e todos os santos. [...] 

 

Assim, pois, quanto mais conquistardes a benevolência desta augusta Princesa e Virgem fiel, mais fé pura tereis nas vossas ações: uma fé pura que fará com que não vos preocupeis grandemente com as coisas sensíveis e extraordinárias; uma fé viva e animada pela caridade, graças à qual tudo fareis por puro amor; uma fé firme e inabalável como uma rocha, pela qual permanecereis firmes e constantes no meio das tempestades e tormentas; uma fé ativa e penetrante, que, qual misteriosa chave universal, vos permitirá entrar nos mistérios de Cristo, nos fins últimos do homem e no coração do próprio Deus; uma fé corajosa, que vos fará empreender sem hesitar e levar a bom termo grandes coisas por Deus e pela salvação das almas; em suma, uma fé que será uma tocha acesa, uma vida divina, um tesouro escondido da Sabedoria divina e uma arma omnipotente, que utilizareis para iluminar os que se encontram na sombria região da morte, para abrasar os que estão mornos e têm necessidade do ouro aceso da caridade, para dar vida aos mortos pelo pecado, para tocar e mover, com as vossas palavras suaves e poderosas, os corações de mármore e os cedros do Líbano, e finalmente para resistir ao diabo e a todos os inimigos da salvação.



«Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem», § 214

 

sábado, 26 de junho de 2021

Encontrar o Senhor todos os dias...- Por São Josemaria Escrivá

Meus filhos: aí onde estão os nossos irmãos,  os homens, aí onde estão as nossas aspirações, o nosso trabalho, os nossos amores, aí está o lugar do nosso encontro cotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da terra que nós devemos santificar-nos, servindo a Deus e a todos os homens.

Tenho-o ensinado constantemente com palavras da Escritura Santa: o mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus, porque é criatura dEle, porque Javé olhou para ele e viu que era bom. Nós,  os homens, é que o fazemos ruim e feio, com os nossos pecados e as nossas infidelidades.  Não duvidem, meus filhos: qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é para os homens e mulheres do mundo coisa oposta à vontade de Deus.

Pelo contrário,  devem compreender agora - com uma nova clareza - que Deus os chama a servi-lO em e a partir das tarefas civis, materiais, seculares da vida humana. Deus espera-nos cada dia: no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do lar e em todo o imenso panorama do trabalho. Não esqueçam nunca: há algo de santo,  de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir. 

Eu costumava dizer àqueles universitários e àqueles operários que me procuravam lá pela década de 1930, que tinham de saber materializar a vida espiritual. Queria afastá-los, assim, da tentação,  tão frequente então como agora, de levar uma vida dupla: A vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e, por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas.

Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla, não podemos ser como esquizofrênicos, se queremos ser cristãos. Há uma única vida, feita de carne e espírito,  e essa é a que tem de ser - na alma e no corpo - santa e plena de Deus. Esse Deus invisível,  nós O encontramos nas coisas visíveis e materiais. 

Não há outro caminho, meus filhos: ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, ou não O encontraremos nunca. Po der isso, posso afirmar que a nossa época precisa devolver à matéria e às situações aparentemente mais vulgares o seu nobre e original sentido: pondo-as ao serviço do Reino de Deus, espiritualizando-as, fazendo delas meio e ocasião para o nosso encontro contínuo com Jesus Cristo. [...]

Eu lhes asseguro, meus filhos, que, quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias, está desempenhando algo de onde transborda a transcendência de Deus. Por isso tenho repetido, com um insistente martelar, que a vocação cristã consiste em transformar em poesia heroica a prosa de cada dia. Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir -se o céu e a terra. Mas não: onde de verdade se juntam é no coração,  quando se vive sabiamente a vida diária...


São Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, 4° ed., Quadrante, São Paulo, 2016.

Retirado do livro Anjos e Santos, de Scott Hahn.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

«Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação» (2Cor 6,2)

 

São Leão Magno (IV Sermão para a Quaresma, 1-2)


«Este é o dia da salvação!». É certo que não há período nenhum que não esteja cheio de dons divinos, pois a graça de Deus proporciona-nos, em todo o tempo, o acesso à sua misericórdia. Nesta época, porém, os corações devem ser estimulados ainda com mais ardor ao progresso espiritual, e animados com mais confiança, porque o dia em que fomos resgatados convida-nos a praticar obras espirituais. Deste modo, celebraremos de corpo e alma purificados o mistério que ultrapassa todos os outros: o sacramento da Páscoa do Senhor. [...] 

Tais mistérios exigem de nós um esforço espiritual sem quebras [...], a fim de permanecermos sempre sob o olhar de Deus: era assim que a festa da Páscoa devia encontrar-nos. Contudo, são poucos os dotados desta força espiritual; para nós, que nos encontramos no meio das atividades desta vida, devido à fraqueza da carne, o zelo abranda. [...] Por isso, para nos devolver a pureza de alma, o Senhor previu o remédio de um treino de quarenta dias, no decurso dos quais possamos resgatar as nossas faltas com boas obras e consumi-las com santos jejuns [...]. Tenhamos, pois, o cuidado de obedecer ao apóstolo Paulo: «Purificai-vos de toda a mancha da carne e do espírito» (2Cor 7, 1). Mas que a nossa maneira de viver esteja de acordo com a nossa abstinência. O jejum não consiste apenas na abstenção de alimentos; de nada aproveita subtrair os alimentos ao corpo, se o coração se não desviar da injustiça, se a língua se não abstiver da calúnia [...]. Este é um tempo de suavidade, de paciência, de paz [...]; uma altura em que a alma forte se habitua a perdoar as injustiças, a contar em nada as afrontas, a esquecer as injúrias [...]. 

Mas que a moderação espiritual não seja triste; que seja santa. Que não se oiça o murmúrio das queixas, porque àqueles que assim vivem nunca faltará o consolo de uma alegria santa.

 

Fonte: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Ó AMOR INFINITO...

 


Dedi te in lucem gentium, ut sis

salus mea usque ad extremum terrae.

Eu te estabeleci para luz das gentes,

a fim de seres a salvação que eu envio

até a última extremidade da terra (Is 49,6).

Considera o Pai celeste dizendo estas palavras a Jesus Menino no momento de sua conceição: Meu Filho, eu te estabeleci para luz das gentes e a vida das nações, a fim de que lhes procureis a salvação, que desejo tanto como se fosse a minha própria. É pois necessário que vos dediqueis inteiramente ao bem do gênero humano: “Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em benefício dele”. É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o vosso nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut tua inopia dites. É necessário que sejais vendido como um escravo para pagardes a liberdade do homem, e que, como escravo, sejais flagelado e crucificado a fim de satisfazer à minha justiça pelas penas devidas aos homens. É necessário que deis vosso sangue e vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei que não sois mais vosso mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um filho. Assim, meu caro Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a mim, ao ver que vos dou todo a ele, vós meu único Filho, e que me não resta mais nada a dar-lhe. Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus amou de tal modo o mundo que deu por ele seu unigênito Filho.

A essa proposta Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com amor e exulta: Dá saltos como gigante para percorrer o seu caminho. Desde o primeiro instante de sua encarnação, Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas as dores e humilhações que deve sofrer no mundo por amor dos homens. Essas foram, diz S. Bernardo, as montanhas e as colinas escarpadas que Jesus Cristo teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo aí vem saltando sobre os montes, atravessando os outeiros.

Notemos bem: enviando-nos seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os homens, Deus Padre obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o Pai e o Filho interveio um pacto em virtude do qual o Pai devia receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfaça por nós à divina justiça, de seu lado, o Verbo, digo, também se obrigou a amar-nos, não por causa do nosso mérito, mas para cumprir a misericordiosa vontade de seu Pai.

Afetos e Súplicas.

Meu caro Jesus, se é verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela doação, vós me pertenceis porque o vosso Pai vos deu a mim: é por mim que nascestes, a mim fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Posso pois dizer: Meu Jesus e meu tudo. Já que sois meu, todos os bens me pertencem. O vosso apóstolo me assegura: Como não nos dará também com ele todas as coisas? Por isso, meu é o vosso sangue, meus os vossos méritos, minha a vossa graça, meu o vosso paraíso. E se sois meu, quem poderá jamais arrancar-vos de mim? Ninguém poderá tirar-me o meu Deus. Assim dizia com júbilo S. Antão Abade; assim também quero dizer no futuro. É verdade que vos posso perder ainda e afastar-me de vós pelo pecado; mas, ó meu Jesus, se no passado vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de toda a minha alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que tornar a perder-vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma. — Agradeço-vos, Pai eterno, por me terdes dado vosso Filho; e já que mo destes todo, eu miserável dou-me todo a vós. Pelo amor desse Filho adorável, aceitai-me e prendei-me com cadeias de amor a meu Redentor, mas prendei-me tão estreitamente que possa dizer com o apóstolo: Quem me poderá ainda separar de meu Jesus? — E vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que me pertence como vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma coisa a um Deus que me não recusou o seu sangue e a sua vida?

Maria, minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.

 

Santo Afonso Maria de Ligório: Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

MEDITAÇÃO V PARA OS DIAS DO ADVENTO - POR SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

 


Formam servi accipiens.

Ele tomou a forma e a natureza de servo (Fl 2,7).

 

O Verbo eterno desce à terra para salvar o homem. Donde desce Ele? A sua saída é do mais alto dos céus, diz o Salmista. Desde do seio de Deus seu Pai, onde foi gerado desde a eternidade entre os esplendores dos Santos. — E aonde desce? desde ao seio duma Virgem, filha de Adão, isto é, a um lugar que, comparado ao seio de Deus, não é senão um horror; daí o cântico da Igreja: “Não tivestes horror do seio da Virgem”. Sim, porque o Verbo, estando no seio do Pai, é Deus como Pai, é imenso, onipotente, infinitamente feliz, soberano Senhor do universo, em tudo igual a Seu Pai; mas no seio de Maria, ele é criatura, é pequeno, fraco, padecente, servo, inferior a seu Pai: Ele tomou, diz S. Paulo, a forma de servo.

Contam de S. Aleixo, como grande prodígio de humildade, que sendo filho dum senhor romano, quis viver como servo na casa de seu pai. Mas que é a humildade desse Santo em comparação da de Jesus Cristo? Entre filho e servo do pai de S. Aleixo havia alguma diferença de condição; mas entre Deus e servo de Deus há uma distância infinita. Ademais, fazendo-se o Filho de Deus servo de seu Pai, se fez também, para lhe obedecer, servo de suas criaturas, isto é, de Maria e de José; pois o Evangelho atesta que lhes estava sujeito. Ainda mais, obedeceu até a Pilatos que o condenou à morte, pois que se submeteu a essa injusta sentença, obedeceu aos carrascos quando o quiseram flagelar, coroar de espinhos e crucificar; submeteu-se humildemente a todos e entregou-se às mãos de seus inimigos.

Oh! Deus, recusaremos diante disso pôr-nos ao serviço desse amável Senhor que para salvar-nos se sujeitou a tantas servidões dolorosas e humilhantes? E para não sermos servos desse Senhor tão grande e amante, consentiremos em tornar-nos escravos do demônio, que, longe de amar os seus servos, os odeia e tiraniza, os torna infelizes nesta e na outra vida? Ah! se cometemos essa loucura no passado, por que não saímos imediatamente dessa miserável escravidão? Coragem pois! Já que pela graça de Jesus Cristo fomos libertados da escravidão do inferno, abracemos logo e apertemos com amor as doces cadeias que nos fazem servos e amigos do Filho de Deus, e que nos obterão uma coroa no reino eterno entre os bem- aventurados do paraíso.

Afetos e Súplicas.

Meu amado Jesus, sois o Rei do céu e da terra; mas por amor de mim vos fizestes servo; obedecestes aos vossos próprios carrascos que vos despedaçaram as carnes, traspassaram a fronte e vos pregaram na cruz para morrerdes de dor. Adoro-vos como seu Senhor e meu Deus, e me acanho de aparecer diante de vós ao lembrar-me que por miseráveis satisfações rompi tantas vezes os vossos santos laços e vos disse em face que não queria mais servir-vos; sim, com justiça me lançais em rosto: Quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços, e disseste: Não servirei. Mas, ó meu Salvador, o que me faz esperar o perdão, são os vossos méritos e a vossa bondade, que não despreza um coração contrito e humilhado: Não, meu Deus, não desprezeis um coração que se arrepende e se humilha. Meu Jesus, confesso que fiz mal desgostando-vos; reconheço que mereço mil infernos pelas ofensas que vos fiz; castigai-me como quiserdes, mas não me priveis da vossa graça e do vosso amor. Arrependo-me sobretudo de vos haver desprezado. Amo-vos de toda a minha alma. Tomo a resolução de no futuro servir e amar só a vós. Ah! pelos vossos méritos ligai-me pelas cadeias de vosso santo amor, e não permitais que eu as torne a sacudir de mim. Amo-vos sobre todas as coisas, ó meu Libertador, prefiro ser vosso servo a ser senhor de todo o universo: de que serve o mundo inteiro a quem está privado da vossa graça? Dulcíssimo Jesus, não permitais que me separe de vós, não permitais que me separe de vós. Essa graça eu vo-la peço e quero pedi-la sempre; rogo-vos me concedais hoje a graça de repetir-vos em toda a minha vida esta súplica: Meu Jesus, não permitais que me separe mais de vós e do vosso amor.

Essa graça peço também a vós, ó Maria minha Mãe; ajudai-me com vossa intercessão a não mais me separar de meu Deus.

Santo Afonso Maria de Ligório: Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
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