Secundum multitudinem dolorum meorum in corde meo,
consolationes tuae laetificaverunt animam meam — «Segundo as muitas dores que
provou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma» (Sl 93, 19).
Sumário. Era de justiça que Maria Santíssima, que mais do
que qualquer outro tomou parte na Paixão de Jesus Cristo, fosse também a
primeira a gozar da alegria de sua ressurreição. Imaginemos vê-la no momento em
que lhe aparece o divino Redentor glorificado, acompanhado de grande multidão
de Santos, entre os quais se achavam São José, São Joaquim e Santa Ana. Oh! que
ternos abraços! que doces colóquios! Alegremo-nos com nossa querida Mãe e
digamos-lhe: Regina coeli, laetare, allelluia — «Rainha dos céus, alegrai-vos,
aleluia!»
I. Entre as muitas coisas que Jesus Cristo fez, e os
Evangelistas passaram em silêncio, deve, com certeza, ser contada a sua
aparição a Maria Santíssima logo em seguida à sua ressurreição. Nem necessidade
havia de referi-la, porquanto é evidente que o Senhor, que mandou honrar os
pais, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando sua Mãe com sua presença
visível. Demais, era de inteira justiça que o divino Redentor glorificado
fosse, antes de mais ninguém, visitar à Santíssima Virgem; afim de que, antes
dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da ressurreição quem
mais do que os outros participara da paixão.
Um dia e duas noites a divina Mãe ficou entregue è dor pela
morte do Filho, mas firme e imóvel na fé da ressurreição; e quando começou a
alvorecer o terceiro dia, posta em altíssima contemplação começou com ardentes
suspiros a suplicar ao Filho que abreviasse a sua vinda. Enquanto está assim
absorta em seus veementíssimos desejos, eis que seu divino Filho se lhe
manifesta em toda a sua glória e claridade; fortalecendo-lhe a vista, tanto a
do corpo como a da alma, para que fosse capaz de ver e de gozar a divindade.
Oh! com tão bela aparição como não devia sentir-se satisfeita e contente! Quão
ternamente não deviam abraçar-se Filho e Mãe! quão doces e sublimes não deviam
ser os colóquios que trocavam!
Avizinhemo-nos, em espírito, de Nossa Senhora, que é também
nossa Mãe, e roguemos-lhe que nos permita beijar as chagas glorificadas de
Jesus Cristo. — Colhamos deste mistério, como são bem recompensados por Deus
aqueles que acompanham Jesus até o Calvário, quer dizer, que lhe são fieis nas
tribulações. Cada um pode fazer suas as palavras da Bem-Aventurada Virgem:
Secundum multitudinem dolorum meorum, consolationes tuae laetificaverunt animam
meam — «Segundo as minhas muitas dores, as tuas consolações alegraram a minha
alma».
II. Em companhia de Jesus, seu Filho, a divina Mãe viu um
grande número de Santos, entre os quais o seu Esposo São José, e os seus santos
pais, Joaquim e Ana. — Alegraram-se todos com ela, reconhecendo-a por
verdadeira Mãe de Deus e agradecendo-lhe os trabalhos e dores sofridas pela
Redenção de todos. — Oh! que satisfação não devia sentir a Virgem, vendo o
fruto da Paixão do Filho em tantas almas resgatadas do limbo. Enquanto ela se
regozija com Jesus Cristo por tão grande conquista, os anjos ali presentes,
ledos e jubilosos, solenizam o dia cantando com melodia celeste: Regina coeli,
laetare, allelluia — «Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia». Unamo-nos aos coros
dos anjos, unamo-nos com todos os fieis da Igreja, para nos congratularmos com
a divina Mãe, e cantemos também: Regina coeli, laetare, allelluia.
«Rainha do céu, alegrai-vos; porque o que merecestes trazer
em vosso puríssimo seio, ressuscitou como disse. Alegrai-vos, mas ao mesmo
tempo, rogai por nós, para que sejamos dignos de ir cantar um dia no reino da
glória o eterno allelluia.
«É o que Vos peço também, ó Eterno Pai. Sim, meu Deus, Vós
que Vos dignastes alegrar o mundo com a ressurreição de vosso Filho e Senhor
nosso Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, que pela Virgem Maria, sua
Mãe, alcancemos os prazeres da vida eterna. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus
Cristo.»[1]
[1] Antífona do tempo pascal.
LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e
Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana
depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p.17-19.
Fonte: Blog Mulher Católica
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