Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt — «Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus» (Mt 5, 8)
Sumário. O Coração de Jesus consagra afeto especial às virgens e às almas puras: elas lhe são tão caras como os anjos. Uma alma casta é a esposa predileta de Jesus. Esta virtude é que formou a união mais íntima entre Jesus e Maria, a Virgem das virgens, que mereceu a São José a glória incomparável de ser escolhido para pai nutrício de Jesus. Se queres também tornar-te caro ao Coração de Jesus, e merecer as suas ternas consolações, procura primar na castidade.
I. O Coração de Jesus consagra afeto especial às virgens e almas puras; elas lhe são tão caras como os anjos. Tais são os atrativos da virtude da castidade; também, diz Santo Ambrósio, aquele que a guarda, é um anjo, aquele que a perde, é um demônio. Uma alma casta é a esposa predileta de Jesus. Eu prometi a Jesus Cristo, diz São Paulo, apresentar-lhe as vossas almas como esposas castas (2 Cor 11, 2). Escrito está que o Esposo divino se nutre entre os lírios — Qui pascitur inter lilia (Cant 2, 16). Estes lírios são as almas que se conservam puras para agradar a Deus. Um intérprete nota sobre esta passagem, que, como o demônio se sustenta das manchas da impudicícia, assim o Coração de Jesus se nutre dos lírios da castidade.
Esta virtude, alcançada em grau supremo, é que formou a união mais íntima entre Jesus e Maria, a Virgem das virgens. Esta união de amor foi tal, que seu coração não formava senão um com o coração de Jesus. Esta Virgem incomparável pareceu tão bela aos olhos do Senhor, que ele ficou arrebatado pela sua beleza, e por isso lhe chama a sua única pomba, a sua única perfeita (Cant 6, 8). Quanto mais um coração é puro, diz Alberto Magno, tanto mais se enche de amor divino. Daí vem que o amor sagrado feriu e transpassou de tal modo o coração de Maria, que não ficou parte alguma dele que não fosse abrasada.
A grande pureza de São José é que lhe mereceu a glória incomparável de ser escolhido para pai nutrício de Jesus; sua pureza mereceu-lhe a felicidade de viver na intimidade do Filho de Deus. Ah! que afetos deviam penetrar o coração de José, quando levava nos seus braços este amável Menino e lhe fazia ou recebia ternas carícias, e ouvia sair da sua boca as palavras de vida eterna, que, como outros tantos dardos inflamados, abrasavam a sua bela alma! É assim que Deus recompensou a virtude da castidade.
II. Meu irmão, se queres também tornar-te caro ao Coração de Jesus e merecer as suas ternas consolações, procura primar na castidade, sabendo que todas as riquezas da terra não são nada em comparação de uma alma casta (Eclo 26, 20). Por ser maior o valor desta virtude, mais terrível é a guerra que a carne faz ao homem para lhe arrebatar este tesouro. Para conservá-la, pois, é necessário empregar toda vigilância possível.
É necessário fugir das ocasiões. Quasi a facie colubri, fuge peccata (Eclo 21, 2) — «Foge do pecado», diz o Espírito Santo «como se foge de uma serpente». Importa ainda, se queres ser casto, fugir da ociosidade. «O trabalho», diz Santo Isidoro, «amortece o fogo da concupiscência». Pratica também a humildade e mortificação. A castidade conserva-se no meio das mortificações, mas, como diz São Bernardo, pela humildade é que se obtém. O mais necessário, porém, é a oração. É pela oração que os santos venceram todas as tentações de que foram acometidos.
Terno Redentor meu, eu Vos agradeço me terdes dado tantos meios para vencer as tentações que me assaltam cada dia. Vejo que quereis a minha felicidade eterna: eu também a quero, principalmente para agradar ao vosso Coração que deseja tanto a minha salvação. Meu Deus, não quero mais resistir ao amor que me tendes. Eu Vos amo, ó bondade suprema, eu Vos amo, Bem infinito: pelos merecimentos do vosso Coração não permitais que eu seja ingrato aos vossos benefícios. Esclarecei-me, fortificai-me, abrasai-me no vosso amor. — Ó Maria, tesoureira do Coração de Jesus, proclamai-me vosso servo; é o título que ambiciono, e rogai a Jesus por mim. Depois dos seus merecimentos, são as vossas orações que devem me salvar.
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LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.400-403.
Fonte: Blog Mulher Católica
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