S. Boaventura, Bispo
O que nela foi concebido é do Espírito Santo (Mt 1,20).
Embora não se possa encontrar na natureza exemplo adequado para o que é
acima da natureza, contudo vemos de modo diverso originar-se o esplendor
da luz, o broto da vide, a flor da haste da árvore.
O raio se origina da luz, que é da mesma natureza, mas não dizemos que a
luz sejam raios e vice-versa; assim, é o Filho, do Pai, dado que é
substancial ao Pai, mas nem o Filho é o Pai, nem o Pai é o Filho. Por
isso é que, relembrando a Igreja essa gloriosa natividade, canta: Ó Oriente, esplendor da luz eterna. (Antífona do Advento).
Nasce o broto na vide por isso que a fecunda e vitaliza, mas não a abre
nem a viola, nem lhe altera a integridade. Assim nasce Deus na virgem a
ponto de a cumular, fecundar, santificar, mas sem a dilacerar, sem a
violar, sem a macular. Por isso, ao comparar o que dela nasceu ao broto,
diz o Senhor pelo Profeta: "A Davi suscitarei rebento justo; (Jer
23,5) e, vós, ó céus, lá do alto orvalhai, e chovam as nuvens o justo;
abra-se a terra e brote o Salvador. (Is 45,8).
Origina-se a flor do ramo ou da árvore, de modo que nem altera o ramo
mas o melhora: nem o dilacera, senão que o adorna. Assim nasceu da
Virgem, não abrindo nem alterando, pois essa porta será fechada para sempre, não se abrirá e varão não passará por ela (Ez 44,2), diz Ezequiel, mas fecundando e ornando. Por isso se compara seu nascimento ao desabrochar da flor: Sairá haste da raiz de Jessé e uma flor se desprenderá dela. (Is 11,1).
Assim, pois, o dela nascido, nasceu de Deus Pai, antes de estar no
ventre, assim como o esplendor, da luz; nascido do ventre da Virgem Mãe,
assim como o broto, da videira; nascido também do ventre, assim como a
flor nasce do ramo, da haste ou da árvore.
No primeiro nascimento, nasceu e sempre nasce de seu Pai, segundo a
natureza divina; no segundo e no terceiro, nasceu da Virgem Mãe, segundo
a natureza humana; no segundo e no terceiro, se nos mostrou na terra
para remédio; o primeiro se nos reserva no céu, como prêmio. O segundo
nascimento se refere ao dia da presente solenidade, em que lemos acerca
de seu nascimento; o terceiro diz respeito ao da solenidade de amanhã,
em que cantamos: Nasceu-nos um menino; o primeiro se refere ao dia da
eterna solenidade.
S. Boaventura, Vigília da Natividade, Ofício Marial.
Fonte: Blog GRAA
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