sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Santa Edith Stein, O Mistério do Natal- (Parte III) : O Corpo Místico de Cristo



 
3.1 - SER UM COM DEUS
Para onde o Menino-Deus nos conduzirá nesta
terra, isto não sabemos e não deveríamos perguntar
antes do tempo. Só sabemos que para aqueles que
amam o Senhor, todas as coisas servem para o bem. Os
caminhos pelos quais o Senhor nos conduz, levam-nos
para além desta terra.
Ó troca maravilhosa! O criador do gênero humano
encarnando-se, concede-nos a sua divindade. Por
causa desta obra maravilhosa o Redentor veio ao mundo.
Deus se tornou Filho do homem, para que os homens
se tornassem filhos de Deus. Um de nós rompeu
o laço da filiação divina, e um de nós devia reatar o
laço, pagando pelo pecado. Nenhum da antiga e enferma
raça podia fazê-lo. Devia ser um rebento novo, sadio
e nobre. Tornou-se um de nós e, mais do que isto:
unido conosco. O maravilhoso no gênero humano é
que todos somos um. Se fosse diferente, estaríamos
lado a lado, como indivíduos autônomos e separados, e
a queda de um não poderia ter se tornado a queda de
todos. Podia ter sido pago e atribuído a nós o preço da
expiação, mas não teria passado a sua justiça para os
pecadores, e não teria sido possível nenhuma justificação.
Mas Ele veio, para tornar-se conosco um corpo
místico. Ele, nossa cabeça, nós, os seus membros. Po-nhamos nossas mãos nas mãos do Menino-Deus, pronunciando
o nosso “Sim” ao seu “Siga-me”. Então, nos
tornamos Seus, e o caminho está livre, para que a sua
vida divina possa passar para a nossa.
Isto é o começo da vida eterna em nós. Não é
ainda a visão beatífica de Deus na luz da glória, é ainda
escuridão da fé, mas não é mais deste mundo, já é
estar no Reino de Deus. Quando a bem-aventurada
Virgem pronunciou o seu “Fiat”, aí começou o Reino
de Deus na terra e ela se tornou a sua primeira serva.
E todos, que antes e depois do nascimento da criança,
por palavras e obras, se declararam a seu favor: São
José, Santa Isabel com seu filho e todos os que estavam
ao redor do presépio, entraram no Reino de
Deus.
Tornou-se diferente do que se pensou, conforme
os salmos e profetas o reinado do divino rei. Os romanos
continuaram os dominadores da terra, os sumo sacerdotes
e os doutores da lei continuaram a subjugar o
povo pobre.
De forma invisível, cada um, que pertencia ao
Senhor, trazia o Reino de Deus em si. O seu fardo terreno
não lhe foi tirado, e sim outros fardos acrescentados;
mas, o que ele trazia dentro de si, era uma força
animadora, fazendo o fardo suave e a carga leve. Assim
acontece ainda hoje com os filhos de Deus. A vida divina,
acesa em sua alma, é a luz que veio nas trevas, o
milagre da noite santa. Quem traz esta luz dentro de
si, compreende quando se fala dela. Para os outros, porém,
tudo o que se pode dizer a respeito, é um balbuciar
incompreensível. Todo o evangelho de São João é
um canto à luz eterna, que é amor e vida. Deus está
em nós e nós nele, esta é a nossa parte no reino de
Deus, para a qual a Encarnação colocou o alicerce.


3.2 - SER UM EM DEUS
Ser um com Deus: este é o primeiro passo. Mas,
o segundo é a conseqüência do primeiro. Cristo sendo
a cabeça e nós membros do corpo místico, estamos
unidos elo a elo, todos somos um em Deus, uma única
vida divina. Se Deus é Amor e está em nós, então não
pode ser diferente o nosso amor para com os irmãos.
Por isto o amor humano é a medida do nosso amor a
Deus. Mas, é algo mais do que o simples amor humano.
O amor natural se dirige a um outro, ligado pelos
laços do sangue ou por afinidades de caráter ou por interesses
comuns. Os outros são “estranhos”, que “não
nos importam”, talvez até por seu jeito antipático, de
forma que mantemos a devida distância. Para o cristão
não existe “gente estranha”. Próximo é aquele que encontramos
em nosso caminho e que mais necessita de
nós; indiferentemente, se é parente ou não, se a gente
gosta dele ou não, se ele é “moralmente digno” da
nossa ajuda ou não. O amor de Cristo não tem limites,
ele nunca termina, ele não recua diante da feiura ou
sujeira. Ele veio por causa dos pecadores e não por
causa dos justos. E se o amor de Cristo mora em nós,
então, façamos como Ele, indo ao encontro das ovelhas
perdidas.
O amor natural visa a ter a pessoa amada para
si, possuindo-a de forma mais exclusiva. Cristo
veio, para devolver ao Pai a humanidade perdida;
e quem ama com seu amor, este quer os homens
para Deus e não para si. Este é, ao mesmo
tempo, o caminho mais seguro para possuí-las
para sempre; pois, se amamos uma pessoa em
Deus, então somos com ela um em Deus, enquanto que o vício da conquista muitas vezes -
mais cedo ou mais tarde - sempre resulta em
perda.
Há um princípio válido para todas as almas e
para os bens exteriores: quem, ambiciosamente,
se ocupa em ganhar e apropriar, perde; porém,
aquele que tudo oferece a Deus, ganha para
sempre.

 Fonte: Santa Edith Stein, O Místério do Natal, Editora da Universidade doSagrado Coração 

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