terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Aparição de Jesus ressuscitado a sua Mãe Maria Santíssima

Por Santo Afonso Maria de Ligório

Secundum multitudinem dolorum meorum in corde meo, consolationes tuae laetificaverunt animam meam — «Segundo as muitas dores que provou o meu coração, as tuas consolações alegraram a minha alma» (Sl 93, 19).


Sumário. Era de justiça que Maria Santíssima, que mais do que qualquer outro tomou parte na Paixão de Jesus Cristo, fosse também a primeira a gozar da alegria de sua ressurreição. Imaginemos vê-la no momento em que lhe aparece o divino Redentor glorificado, acompanhado de grande multidão de Santos, entre os quais se achavam São José, São Joaquim e Santa Ana. Oh! que ternos abraços! que doces colóquios! Alegremo-nos com nossa querida Mãe e digamos-lhe: Regina coeli, laetare, allelluia — «Rainha dos céus, alegrai-vos, aleluia!»


I. Entre as muitas coisas que Jesus Cristo fez, e os Evangelistas passaram em silêncio, deve, com certeza, ser contada a sua aparição a Maria Santíssima logo em seguida à sua ressurreição. Nem necessidade havia de referi-la, porquanto é evidente que o Senhor, que mandou honrar os pais, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando sua Mãe com sua presença visível. Demais, era de inteira justiça que o divino Redentor glorificado fosse, antes de mais ninguém, visitar à Santíssima Virgem; afim de que, antes dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da ressurreição quem mais do que os outros participara da paixão.

Um dia e duas noites a divina Mãe ficou entregue è dor pela morte do Filho, mas firme e imóvel na fé da ressurreição; e quando começou a alvorecer o terceiro dia, posta em altíssima contemplação começou com ardentes suspiros a suplicar ao Filho que abreviasse a sua vinda. Enquanto está assim absorta em seus veementíssimos desejos, eis que seu divino Filho se lhe manifesta em toda a sua glória e claridade; fortalecendo-lhe a vista, tanto a do corpo como a da alma, para que fosse capaz de ver e de gozar a divindade. Oh! com tão bela aparição como não devia sentir-se satisfeita e contente! Quão ternamente não deviam abraçar-se Filho e Mãe! quão doces e sublimes não deviam ser os colóquios que trocavam!

Avizinhemo-nos, em espírito, de Nossa Senhora, que é também nossa Mãe, e roguemos-lhe que nos permita beijar as chagas glorificadas de Jesus Cristo. — Colhamos deste mistério, como são bem recompensados por Deus aqueles que acompanham Jesus até o Calvário, quer dizer, que lhe são fieis nas tribulações. Cada um pode fazer suas as palavras da Bem-Aventurada Virgem: Secundum multitudinem dolorum meorum, consolationes tuae laetificaverunt animam meam — «Segundo as minhas muitas dores, as tuas consolações alegraram a minha alma».

II. Em companhia de Jesus, seu Filho, a divina Mãe viu um grande número de Santos, entre os quais o seu Esposo São José, e os seus santos pais, Joaquim e Ana. — Alegraram-se todos com ela, reconhecendo-a por verdadeira Mãe de Deus e agradecendo-lhe os trabalhos e dores sofridas pela Redenção de todos. — Oh! que satisfação não devia sentir a Virgem, vendo o fruto da Paixão do Filho em tantas almas resgatadas do limbo. Enquanto ela se regozija com Jesus Cristo por tão grande conquista, os anjos ali presentes, ledos e jubilosos, solenizam o dia cantando com melodia celeste: Regina coeli, laetare, allelluia — «Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia». Unamo-nos aos coros dos anjos, unamo-nos com todos os fieis da Igreja, para nos congratularmos com a divina Mãe, e cantemos também: Regina coeli, laetare, allelluia.

«Rainha do céu, alegrai-vos; porque o que merecestes trazer em vosso puríssimo seio, ressuscitou como disse. Alegrai-vos, mas ao mesmo tempo, rogai por nós, para que sejamos dignos de ir cantar um dia no reino da glória o eterno allelluia.

«É o que Vos peço também, ó Eterno Pai. Sim, meu Deus, Vós que Vos dignastes alegrar o mundo com a ressurreição de vosso Filho e Senhor nosso Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, que pela Virgem Maria, sua Mãe, alcancemos os prazeres da vida eterna. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo.»[1]

[1] Antífona do tempo pascal.


LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p.17-19.




Fonte: Blog Mulher Católica

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Homilia do Papa São João Paulo II no 150 ° aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição



CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA RECORDAR 
O 150° ANIVERSÁRIO DA DEFINIÇÃO DOGMÁTICA 
DA IMACULADA CONCEIÇÃO 
DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2004



1. "Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1, 28).


É com estas palavras do Arcângelo Gabriel que nos dirigimos à Virgem Maria várias vezes por dia. Repetimo-las hoje com alegria fervorosa, na solenidade da Imaculada Conceição, recordando o dia 8 de Dezembro de 1854, quando o Beato Pio IX proclamou este admirável dogma da fé católica, precisamente nesta Basílica do Vaticano.

Saúdo cordialmente quantos se encontram hoje aqui reunidos, em particular os representantes das Sociedades Mariológicas Nacionais, que participaram no Congresso Mariológico Mariano Internacional, organizado pela Pontifícia Academia Mariana.

Além disso, saúdo todos vós aqui presentes, caríssimos Irmãos e Irmãs, que viestes para prestar uma homenagem filial à Virgem Imaculada. Saúdo de maneira especial o Senhor Cardeal Camillo Ruini, a quem renovo os meus bons votos mais cordiais pelo seu jubileu sacerdotal, expressando-lhe toda a minha gratidão pelo serviço que, com dedicação generosa, prestou e continua a prestar à Igreja como meu Vigário-Geral para a Diocese de Roma e como Presidente da Conferência Episcopal Italiana.

2. Como é grandioso o mistério da Imaculada Conceição, que a Liturgia hodierna nos apresenta!

Mistério que não cessa de atrair a contemplação dos fiéis inspira a reflexão dos teólogos. O tema do Congresso agora recordado "Maria de Nazaré acolhe o Filho de Deus na história" favoreceu um aprofundamento da doutrina da concepção imaculada de Maria como pressuposto para o acolhimento no seio virginal do Verbo de Deus encarnado, Salvador do género humano.

"Cheia de graça", "kexaritwmenh": é com este apelativo que, segundo o grego original do Evangelho de Lucas, o Anjo se dirige a Maria. Este é o nome com que Deus, através do seu mensageiro, desejou qualificar a Virgem. Foi desta maneira que Ele a considerou e viu desde sempre, ab aeterno.

3. No hino da Carta aos Efésios, que acaba de ser proclamado, o Apóstolo louva a Deus Pai, porque "nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo" (1, 3). Com que especialíssima bênção Deus se dirigiu a Maria, desde o princípio dos tempos!

Verdadeiramente bem-aventurada é Maria, entre todas as mulheres (cf. Lc 1,42)!

O Pai escolheu-a em Cristo, antes da criação do mundo, para que fosse santa e imaculada na sua presença, no amor, predestinando-a como primícias para a adopção filial por obra de Jesus Cristo (cf. Ef 1, 4-5).

4. A predestinação de Maria, como a de cada um de nós, é relativa à predestinação do Filho. Cristo é aquela "estirpe" que teria "esmagado a cabeça" da antiga serpente, segundo o livro do Génesis (cf. Gn 3, 15); é o Cordeiro "sem mancha" (cf. Êx 12, 5; 1Pd 1, 19), imolado para redimir a humanidade do pecado.

Na perspectiva da morte salvífica dele, Maria, sua Mãe, foi preservada do pecado original e de todos os outros pecados. A vitória do novo Adão contém inclusive a da nova Eva, mãe dos redimidos. Deste modo, a Imaculada constitui um sinal de esperança para todos os seres vivos, que derrotaram Satanás por meio do sangue do Cordeiro (cf. Ap 12,11).

5. No dia de hoje, contemplamos a humilde jovem de Nazaré, santa e imaculada na presença do Deus da caridade (cf. Ef 1, 4), aquela "caridade" que, na sua fonte originária, é o próprio Deus, uno e trino.

A Imaculada Conceição da Mãe do Redentor é uma obra sublime da Santíssima Trindade! Na Bula Ineffabilis Deus, Pio IX recorda que o Todo-Poderoso estabeleceu "com um só e único decreto a origem de Maria e a encarnação da Sabedoria divina" (Pii IX Pontificis Maximi Acta, Pars prima, pág. 559).

O "sim" da Virgem ao anúncio do Anjo insere-se na realidade concreta da nossa condição terrestre, em humilde obséquio à vontade divina, de salvar a humanidade não da história, mas sim na história. Efectivamente, preservada imune de toda a mancha de pecado original, a "nova Eva" beneficiou de maneira singular da obra de Cristo como perfeitíssimo Mediador e Salvador. A primeira a ser redimida pelo seu Filho, partícipe na plenitude da sua santidade, Ela já é aquilo que toda a Igreja deseja e espera ser. É o ícone escatológico da Igreja.

6. Por isso a Imaculada, que assinala "o início da Igreja, esposa de Cristo sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza" (Prefácio), precede sempre o Povo de Deus na peregrinação da fé rumo ao Reino dos céus (cf. Lumen gentium, 58; Carta EncíclicaRedemptoris Mater, 2). 
Na concepção imaculada de Maria, a Igreja vê projectar-se, antecipada no seu membro mais nobre, a graça salvadora da Páscoa.

No acontecimento da Encarnação, encontra indissoluvelmente unidos o Filho e a Mãe: "Aquele que é o seu Senhor e a sua Cabeça e Aquela que, ao pronunciar o primeiro "fiat" (faça-se) da Nova Aliança, prefigura a condição da mesma Igreja, de esposa e de mãe" (Redemptoris Mater, 1).

7. A ti, Virgem Imaculada, por Deus predestinada acima de todas as criaturas como advogada de graça e modelo de santidade para o seu povo, renovo no dia de hoje a confiança de toda a Igreja.

Sê Tu quem orienta os seus filhos na peregrinação da fé, tornando-os cada vez mais obedientes e fiéis à Palavra de Deus.

Sê Tu quem acompanha cada cristão ao longo do caminho da conversão e da santidade, na luta contra o pecado e na busca da verdadeira beleza, que é sempre um sinal e um reflexo da Beleza divina.

Sê Tu, ainda, quem obtem a paz e a salvação para todos os povos. O Pai eterno, que te quis como Mãe imaculada do Redentor, renove também no nosso tempo, por teu intermédio, os prodígios do seu amor misericordioso.

Amém!

© Copyright 2004 - Libreria Editrice Vaticana



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