sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Homilia de Santo Efrém sobre o Natal



Hoje, Maria, ao levar a divindade, se tornou para nós céu; e Cristo, sem deixar a glória paterna, se encerrou nos apertados limites do ventre materno, para exalçar os homens à dignidade mais elevada. Escolheu só esta Virgem, dentre todas as virgens, para instrumento de nossa salvação.

Nela se realizaram todos os vaticínios de todos os justos e profetas. Dela própria saiu aquele esplendidíssimo astro sob cuja guia o povo que andava em trevas viu grande luz. (Is 9,2)

De diversos nomes pode ser Maria acertadamente designada. E, com efeito, é ela o templo do filho de Deus que dela saiu de modo diverso do que entrou, pois no ventre entrara sem corpo e dele saíra revestido de nossa humanidade.

É ela o místico novo céu (Ap 21,1) em quem habitou, como em sua sede, o Rei dos reis, e donde baixou à terra, levando diante de si forma e semelhança terrenas. É ela a videira de frutificação de suave odor (Ecle 24,23), cujo fruto, embora diferente da natureza da árvore, dela devia ter tomado algo semelhante.

É ela a fonte que brota (Joel 3,18) da casa do Senhor da qual jorraram para os sedentos águas vivas que matarão a sede para sempre (Jo 4,13) de todo aquele que apenas com os lábios as tiver provado.

Erra, portanto, caríssimos, quem julga poder comparar-se o dia de hoje de reparação ao da criação! E, de fato, no princípio, a terra foi criada; hoje, foi renovada. No início, dado o crime de Adão, foi maldita por causa da obra dele (Gn 3,17); hoje, porém, a paz e a segurança lhe foi restituída. No início, pelo delito dos primeiros pais, a morte passou a todos os homens (Rm 5,12); hoje, no entanto, por Maria, passamos da morte à vida (1Jo 3,14) No início, a serpente penetrou nos ouvidos de Eva, donde o veneno infeccionou todo o corpo: hoje, Maria deu ouvidos à afirmação da felicidade perpétua. O que, portanto, fora de morte passou a ser, ao mesmo tempo, instrumento de vida.

Aquele cujo trono assenta sobre os querubins (Sl 98,1) ei-lo sentado nos braços de uma mulher; aquele que o mundo todo não encerra, só Maria o abraça; aquele que os tronos e as dominações reverenciam, a donzela acaricia; aquele cuja sede se acha nos séculos dos séculos (Sl 44,7), eis que se senta nos joelhos virginais; a terra é escabelo de seus pés, tocando-a com as plantas dos pés infantis.

Ó feliz e afortunado Adão, que, ao nascer o Senhor, recobrou a honra e o esplendor perdidos! Felicíssimos mortais que, vasos de ira para a morte (Rm 9,22) lhe deram o revestimento da própria argila! Redirei felicíssimos aqueles a quem foi dado ver o fogo de nossos corações envolto em seus paninhos!

Tamanhas coisas fez Deus para corrigir a estultície de um só homem! Visto que o servo caíra pela própria soberba, o Senhor o levantara em sua humildade.

Demos, pois, irmãos caríssimos, graças a Deus Pai que, para remir servos, entregou o próprio Filho. Exaltemos igualmente a Jesus com os máximos louvores, pois curou com tanta felicidade as feridas dos homens. E, por fim, veneremos piamente o Espírito de ambos, que nos foi dado (Rm 5,5) para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância. (Jo 10,10)

Santo Efrém, Doutor da Igreja. Sermão III de diversis
 
Cŕeditos: GRAA
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