sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Santa Catarina de Siena - Carta 51: Caminho para a humildade



Saudação e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, meu caríssimo filho (1) no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver alicerçado na verdadeira e perfeita humildade.
Iluminação divina e humildade
Quem é humilde também é paciente no suportar dificuldades por amor à verdade, pois a humildade alimenta e sustenta a caridade. Quem possui a chama da caridade nunca é negligente, mas sempre solícito, porque a caridade não é preguiçosa, sempre trabalha. Todavia, sem uma iluminação divina, ninguém possui a caridade e a humildade, que afastam o orgulho. Se o olho tem um objeto que possa ver, mesmo que esteja sadio e haja luz, se ele não estiver aberto, nada verá. O olho da nossa alma é a inteligência, e sua iluminação vem da fé, se tal olho não estiver velado pelo pano do amor-próprio ou egoísmo. Quando o egoísmo é afastado, nossa inteligência torna-se limpa e conhece. Desperta a afeição da alma, que começa a amar seu benfeitor. Impulsionado pelo amor, o pensamento se abre e contempla o objeto, que é Cristo crucificado. A alma compreende, sobretudo no precioso sangue, o abismo do seu infinito amor (2).
A humildade é a cela do auto conhecimento
Onde a inteligência (iluminada pela fé) encontra Cristo crucificado? Na cela do coração, na qual a alma vê a própria miséria, os próprios defeitos, o próprio nada. Mas, ao mesmo tempo, conhece a bondade de Deus. Se a alma ficasse conhecendo somente si mesma, seu conhecimento de Deus não seria verdadeiro; nem a pessoa colheria os frutos que resultam do conhecimento de si. Ela mais perderia do que ganharia, uma vez que retiraria do conhecimento de si apenas tédio e confusão. Cairia na aridez (espiritual). E se continuasse assim, sem a devida cura, terminaria no desespero. De outro lado, se a alma apenas conhecesse a Deus e não a si mesma. Colheria como fruto apodrecido uma grande confusão (intelectual), que alimenta a soberba. Aliás, uma coisa nutre a outra. É preciso, portanto, que o conhecimento iluminado da alma chegue a um grau completo, tanto do conhecimento de Deus como de si mesma.
Desse modo a alma evita a presunção e o desespero, e colhe na cela do coração o fruto da vida, a partir do conhecimento de si e de como o desprezo do pecado e da perversa lei (da sensualidade), sempre disposta a lutar contra o espírito (Rm 7,23). Tal desprezo gera a paciência, que é o cerne da caridade. No conhecimento de Deus (presente) em si, a alma atingi o abismo do amor por Deus e pelo próximo. Na luz da fé compreende que o amor que tem por Deus não pode ser útil ao Criador. Por isso, imediatamente a alma começa a ser útil ao próximo, por amor a Deus. Ama a criatura por compreender que Deus a ama sumamente. É condição do amor que alguém ame tudo o que a pessoa amada ama.
Conselhos materiais de Catarina. Conclusão
Filho caríssimo, com a iluminação divina recebemos a humildade e a caridade. Graças ao esforçado empenho, dado pela chama da caridade, destruiremos toda negligência; ao mesmo tempo, a água da humildade lavará nossa soberba. Ficamos sedentos da glória divina e zelosos pela salvação das almas mediante a cruz do Cordeiro imaculado e humilde. Outro caminho não existe! Foi ao considerar que temos de caminhar por tal caminho da humildade, que eu disse acima estar desejosa de vos ver alicerçado na verdadeira e perfeita humildade. Quero que vivais dessa maneira, sem medo e sem confusão na mente. Mas, sobretudo, quero que recomeceis a viver com fé viva, esperança firme, obediência pronta. Quero que reabasteçais e alimenteis vossa alma. Que ela não resseque pela confusão e cansaço da mente. Pelo contrário, com muito empenho esforçai-vos por despertar do sono da negligencia, imitando as virtudes que vedes nos vossos irmãos e conservando-as em vosso coração. Amai a verdade! Que ela esteja sempre em vossos lábios. Quando ocorrer, difundi-a nos outros, sobretudo entre as pessoas que amais. Mas fazei-o com delicadeza, assumindo os defeitos alheios. Se não fizeste isso no passado, com a necessária cautela corrigi-o no futuro. Quero que não vos aflijais, nem vos preocupeis comigo. Dia após dia, deixemos passar as ondas deste tempestuoso mar, na humildade, caridade fraterna e paciência.
Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.
(1) Félix Massa foi um discípulo muito fiel de Catarina. Acompanhou-a até Avinhão, na França. Catarina ficou sabendo que Ele andava muito abatido pelas críticas que ela estava suportando em seus apostolado. Enviou-lhe então esta carta.
(2) Este parágrafo foi de difícil tradução, porque Catarina compara a inteligência com o olho; a claridade da luz é a fé; objeto da visão é Jesus Cristo; o egoísmo é a venda que impede a visão da fé.
Cartas completas – Editora Paulus – Tradução Frei João Alves Basílio O. P. 


Fonte: Blog Servo dos Servos de Deus

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