sábado, 19 de abril de 2025

A ressurreição de Jesus Cristo e a esperança do Cristão (por Santo Afonso Maria de Ligório)

 




Haec dies quam fecit Dominus: exultemus et laetemur in ea – “Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Sl 117, 24)

Sumário. Façamos um ato de fé viva na ressurreição de Jesus Cristo; cheguemo-nos a Ele em espírito para Lhe beijar as chagas glorificadas, e regozijemo-nos com Ele por ter saído do sepulcro vencedor da morte e do inferno. Lembrando-nos em seguida que a ressurreição de Jesus é o penhor e a norma da nossa, avivemos nossa esperança, e ganhemos ânimo para suportar com paciência as tribulações da vida presente. Lembremo-nos, porém, que para ressuscitarmos gloriosamente com Jesus Cristo devemos primeiro morrer com Ele a todos os afetos terrestres.

I. O grande mistério que em todo o tempo pascal, e especialmente no dia de hoje, deve ocupar as almas amantes de Deus, e enchê-las de dulcíssima esperança, é a felicidade de Jesus ressuscitado. Já meditamos que Jesus, no tempo de sua Paixão, perdeu inteiramente as quatro espécies de bens que o homem pode possuir na terra. Perdeu os vestidos até a extrema nudez; perdeu a reputação pelos desprezos mais abomináveis; perdeu a florescente saúde pelos maus tratos; perdeu finalmente a vida preciosíssima pela morte mais horrível que se pode imaginar. Agora porém, saindo vivo do fundo do sepulcro, recebe com lucro abundantíssimo tudo quanto perdeu.

O que era pobre, ei-Lo feito riquíssimo e Senhor de toda a terra. O que a si próprio se chamava verme e opróbrio dos homens, ei-Lo coroado de glória, assentado à direita do Pai. O que pouco antes era o Homem das dores e provado nos sofrimentos, ei-Lo dotado de nova força e de uma vida imortal e impassível. Finalmente o que tinha sido morto do modo mais horrível, ei-Lo ressuscitado pela sua própria virtude, dotado de sutileza, de agilidade, de clareza, feito as primícias de todos os que dormem com a esperança de ressuscitarem também um dia à imitação de Cristo: Christus resurrexit a mortuis, primitiae dormientium (1)

Detenhamos-nos aqui para tributar a nosso Chefe divino as devidas homenagens. Façamos um ato de fé viva na sua ressurreição, e cheguemo-nos a Ele para beijarmos em espírito os sinais de suas cinco chagas glorificadas. Alegremo-nos com Ele, por ter saído do sepulcro, vencedor da morte e do inferno, e digamos com todos os santos: “O Cordeiro que foi imolado por nós, é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a fortaleza, a honra, a glória e a bênção.” (2)

II. Regozijemo-nos com Jesus Cristo; mas regozijemo-nos também por nós mesmos, porquanto a sua ressurreição é o penhor e a norma da nossa, se ao menos, como diz São Paulo, morrermos primeiro interiormente ao afeto das coisas terrestres: Si commortui sumus, et convivemus (3) — “Se morrermos com Ele, com Ele também viveremos”. Ó doce esperança! “Virá a hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus” (4); e então pelo poder divino retomaremos o mesmo corpo que agora temos, mas formoso e resplandecente como o sol. Nós também ressuscitaremos!

A esperança da futura ressurreição é o que consolava o santo Jó no tempo de sua provação. “Eu sei”, disse ele, e nós, digamos o mesmo no meio das cruzes e tribulações da vida presente: “eu sei que o meu Redentor vive, e que no derradeiro dia surgirei da terra; e serei novamente revestido de minha pele, e na minha própria carne verei a meu Deus… esta minha esperança está depositada no meu peito.” (5)


Meu amabilíssimo Jesus, graças Vos dou que pela vossa morte adquiristes para mim o direito à posse de tão grande bem, e hoje pela vossa ressurreição avivais a minha esperança. Sim, espero ressurgir no último dia, glorioso como Vós, não tanto por meu próprio interesse, como para estar para sempre unido convosco, e louvar-Vos e amar-Vos eternamente. É verdade que pelo passado Vos ofendi com os meus pecados; mas agora arrependo-me de todo o coração e pela vossa ressurreição peço-Vos que me livrais do perigo de recair na vossa desgraça: Per sanctam resurrectionem tuam, libera me, Domine — “Pela vossa santa ressurreição, livrai-me, Senhor”.

“E Vós, Eterno Pai, que no dia presente nos abristes a entrada da eternidade bem-aventurada, pelo triunfo que vosso Unigênito alcançou sobre a morte: aumentai com o Vosso auxílio os desejos que a vossa inspiração nos instila” (6). Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

Referências:

(1) 1Cor 15, 20
(2) Ap 5, 12
(3) 2Tm 2, 11
(4) Jo 5, 28
(5) Jó 19, 25
(6) Or.festi curr.

Créditos: Rumo à Santidade

Soledade de Maria Santíssima depois da sepultura de Jesus (Por Santo Afonso Maria de Ligório)




Posuit me desolatam, tota die maerore confectam – “Pôs-me em desolação, afogada em tristeza todo o dia” (Lm 1, 13)

Sumário. Ah, que noite de dor foi para Maria a que se seguiu à sepultura do seu divino Filho! A desolada Mãe volve os olhos em torno de si, e já não vê o seu Jesus, mas representam-se-lhe diante dos olhos todas as recordações da bela vida e da desapiedada morte do Filho. Como se não pudesse crer em seus próprios olhos: Filho, pergunta a João, aonde está o teu mestre? E à Madalena: Filha, dize-me onde está o teu dileto?… Minha alma, roga a Santíssima Virgem, que te admita a chorar consigo. Ela chora por amor, e tu, chora pela dor dos teus pecados.

I. Diz São Boaventura que, depois da sepultura de Jesus, as mulheres piedosas velaram a Bem-aventurada Virgem com um manto lúgubre, que lhe cobria todo o rosto. Acrescenta São Bernardo, que na volta do sepulcro para a sua casa a pobre Mãe andava tão aflita e triste, que comovia muitos a chorarem, ainda que involuntariamente: Multos etiam invitos ad lacrimas provocabat. De modo que, por onde passava, todos aqueles que a encontravam, não podiam conter as lágrimas. Os santos discípulos e as mulheres que a acompanhavam, quase que choravam mais as penas de Maria do que a perda de seu Senhor.

Quando a Virgem passou por diante da Cruz, banhada ainda com o sangue do seu Jesus, foi a primeira a adorá-la. Ó santa Cruz, disse então, eu te beijo e te adoro, já que não és mais madeiro infame, mas trono de amor e altar de misericórdia, consagrado com o sangue do Cordeiro divino, que em ti foi imolado pela salvação do mundo. — Deixa depois a Cruz e volta à sua casa. Chegada ali, a aflita Mãe volve os olhos em torno, e não vê mais o seu Jesus; em vez da presença do querido Filho, apresentam-se-lhe aos olhos todas as recordações da sua bela vida e da sua desapiedada morte.

Recorda-se dos abraços dados ao Filho no presépio de Belém, da conversação com ele por trinta anos na casa de Nazaré; recorda-se dos mútuos afetos, dos olhares cheios de amor, das palavras de vida eterna saídas daquela boca divina. E depois se lhe representa a cena funesta presenciada naquele mesmo dia; vêem-lhe à memória os cravos, os espinhos, as carnes dilaceradas do Filho, as chagas profundas, os ossos descarnados, a boca aberta, os olhos escurecidos. E com tão funesta recordação, quem poderá dizer qual tenha sido a dor, a desolação de Maria?

II. Ah, que noite de dor foi para a Bem-aventurada Virgem aquela que se seguiu à sepultura do seu divino Filho! Voltando-se a dolorosa Mãe para São João, perguntou-lhe com voz triste: Ah! Filho. Onde está o teu mestre? Depois perguntou à Madalena: Filha, dize-me onde está o teu dileto? Ó Deus! Quem no-Lo tirou?… Chora Maria, e todos os que estão com ela choram também. E tu, minha alma, não choras? Ah! Volta-te a Maria, e roga-lhe que te admita consigo a chorar. Ela chora por amor, e tu, chora pela dor de teus pecados: Fac ut tecum lugeam.


Minha aflita Mãe, não vos quero deixar só a chorar; não, quero acompanhar-vos também com as minhas lágrimas. Eis a graça que hoje vos peço; alcançai-me uma memória contínua, junto com uma terna devoção para com a paixão de Jesus e a vossa; a fim de que todos os dias que me restam de vida, não me sirvam senão para chorar as vossas dores e as do meu Redentor. Espero que, na hora de minha morte, essas dores me darão confiança e força para não desesperar à vista das ofensas que tenho feito ao meu Senhor. Elas devem impetrar-me o perdão, a perseverança e o paraíso.

E Vós, † “ó meu Senhor Jesus Cristo, que para resgatar o mundo quisestes nascer, receber a circuncisão, ser condenado pelos judeus, traído por Judas com um ósculo, acorrentado, levado para o sacrifício como inocente cordeiro, arrastado com tanta ignomínia diante de Anás, Caifás, Pilatos e Herodes, acusado por falsas testemunhas, flagelado, esbofeteado, carregado de opróbrios, coberto de escarros, coroado de espinhos, ferido com uma cana, vendado, despojado de vossos vestidos, pregado e levantado na cruz entre dois ladrões, abeberado de fel e vinagre e traspassado por uma lança; suplico-Vos, ó Senhor, em nome dessas santas penas que venero, ainda que indigno, suplico-Vos por vossa santa cruz e morte, livrai-me do inferno e dignai-Vos levar-me para onde levastes o bom ladrão crucificado convosco, ó meu Jesus, que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Assim seja.”(1)

Referências:

(1) Ajuntando-se 5 Pais-Nosso, Aves Maria, Glória ao Pai e esta oração, pode-se ganhar uma indulgência de 300 dias uma vez por dia.

Créditos: Rumo à Santidade

Sétima Dor de Maria Santíssima – Sepultura de Jesus

 




Involvit sindone, et posuit eum in monumento – “Amortalhou-O no sudário, e depositou-O no sepulcro” (Mc 15, 46)

Sumário. Consideremos como a Mãe dolorosa quis acompanhar os discípulos que levaram Jesus morto à sepultura. Depois de O ter acomodado com suas próprias mãos, diz um último adeus ao Filho e ao sepulcro, e volta para casa, deixando o coração sepultado com Jesus. Nós também, à imitação de Maria, encerremos o nosso coração no santo tabernáculo, onde reside Jesus, já não morto, mas vivo e verdadeiro como está no céu. Para isso é mister que o nosso coração esteja desapegado de todas as coisas da terra.

I. Quando uma mãe assiste a seu filho que padece e morre, sem dúvida ela sente e sofre todas as penas do filho; mas quando o filho atormentado, já morto, deve ser sepultado e a aflita mãe deve despedir-se dele, ó Deus! O pensamento de o não tornar a ver é uma dor que excede todas as outras dores. Essa foi a última espada que traspassou o coração aflito de Maria.

Para melhor considerá-la, voltemos ao Calvário e observemos atentamente a aflita Mãe, que ainda tem abraçado seu Jesus morto e se consome de dor ao beijar-Lhe as chagas. Os santos discípulos, temendo que ela expirasse pela veemência da dor, animaram-se a tirar-lhe do regaço o depósito sagrado, para o sepultarem. Com violência respeitosa tiraram-lh’O dos braços, e embalsamando-O com aromas, envolveram-No em um sudário adrede preparado. — Eis que já O levam à sepultura; já se põe em movimento o cortejo fúnebre. Os discípulos carregam o corpo exânime; inúmeros anjos do céu O acompanham; as santas mulheres O seguem e juntamente com elas vai a Mãe aflitíssima, acompanhando o Filho à sepultura.

Chegados que foram ao lugar destinado, a divina Mãe acomoda nele com suas próprias mãos o corpo sacrossanto; e, ó! Com quanta vontade Maria se sepultaria ali viva com seu Jesus! Quando depois levantaram a pedra para fechar o sepulcro, afigura-se-me que os discípulos do Salvador se voltaram para a Virgem com estas palavras: Eia, Senhora, deve-se fechar o sepulcro: tende paciência, vede pela última vez o vosso Filho e despedi-vos d’Ele. — Ah! Meu querido Filho (assim deve ter falado então a aflita Mãe), não te hei então de tornar a ver? Recebe, pois, nesta última vez que te vejo, recebe o último adeus de mim, tua afetuosa Mãe.

II. Finalmente os discípulos levantam a pedra e encerram no santo sepulcro o corpo de Jesus, aquele grande tesouro, a que não há igual nem na terra nem no céu. Diz São Boaventura, que a divina Mãe, antes de deixar o sepulcro, abençoou aquela sagrada pedra. E assim dando o último adeus ao Filho e ao sepulcro, volta para sua casa, mas deixa o seu coração sepultado com Jesus.

Sim, porque Jesus é todo o seu tesouro, e, como disse Jesus: Ubi thesaurus vester est, ibi et cor vestrum erit (1) — “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. E nós, onde teremos sepultado o nosso coração? Talvez nas criaturas? No lodo? E porque não o teremos sepultado com Jesus, o qual, bem que subido ao céu, contudo quis ficar, não morto, mas vivo, no Santíssimo Sacramento do altar, precisamente para ter consigo e possuir os nossos corações? Imitemos, pois, Maria; encerremos os nossos corações no santo Tabernáculo, para não mais o tornarmos a tomar. Entretanto, colocando-nos em espírito com a dolorosa Mãe junto ao sepulcro de Jesus, unamos os nossos afetos com os de Maria e digamos com amor:


Ó meu Jesus sepultado! Beijo a pedra que Vos encerra. Mas ressuscitastes ao terceiro dia. Ah! Pelos méritos de vossa gloriosa ressurreição, fazei com que no último dia eu ressuscite convosco na glória, para estar sempre unido convosco no céu, para Vos louvar e amar eternamente. Eu Vo-lo peço pela vossa paixão, e pela dor que sentiu a vossa querida Mãe, quando Vos acompanhou ao sepulcro.

Referências:

(1) Lc 12, 34

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 420-422)

Créditos: Rumo à Santidade

Sexta Dor de Maria Santíssima – Jesus é descido da cruz (por Santo Afonso Maria de Ligório)




Ioseph, deponens eum, involvit sindone – “José, depondo-O da cruz, O amortalhou no sudário” (Mc 15, 46)

Sumário. Consideremos como, depois da morte do Senhor, dois dos seus discípulos, José e Nicodemos, o descem da cruz e O depõem nos braços da aflita Mãe, que com ternura O recebe e O aperta contra o peito. Se Maria fosse ainda capaz de dor, que pena sentiria vendo que os homens, tendo visto seu Filho morto por amor deles, continuam a maltratá-Lo com os seus pecados? Não atormentemos mais a nossa aflita mãe, e se pelo passado nós também a temos afligido com as nossas culpas, voltemos arrependidos ao Coração aberto de seu Jesus.

I. Temendo a Mãe dolorosa, que depois do ultraje da lançada outras injúrias fossem feitas a seu amado Filho, pede a José de Arimatéia, obtivesse de Pilatos o corpo de seu Jesus, a fim de que ao menos morto O pudesse guardar e livrar dos ultrajes. Foi José ter com Pilatos e expôs-Lhe a dor e o desejo da aflita Mãe, e diz Santo Anselmo que a compaixão para com ela enterneceu Pilatos e o moveu a conceder-lhe o corpo do Salvador.

Eis que descem Jesus da cruz. Foi revelado a Santa Brígida, que para o descimento encostaram à cruz três escadas. Primeiro, os santos discípulos despregaram as mãos e depois os pés, e os cravos foram entregues a Maria, como refere Metaphrastes. Depois, segurando um o corpo de Jesus por cima, e outro por baixo, o desceram da cruz. Bernardino de Bustis medita como a aflita Mãe se levanta sobre as pontas dos pés, e, estendendo os braços, vai receber o querido Filho; abraça-O e depois senta-se debaixo da cruz.

Vê a boca aberta e os olhos escurecidos; examina aquelas carnes dilaceradas, aqueles ossos descarnados; tira-Lhe a coroa e examina o estrago feito pelos espinhos naquela santa cabeça; observa as mãos e os pés traspassados, e diz: Ah, meu Filho! A que estado te reduziu o amor para com os homens! Que mal lhes fizeste para assim te maltratarem? Ah! Meu Filho, vê como estou aflita, olha-me e consola-me; mas já não me vês. Fala, dize-me uma palavra e consola-me; mas já não falas, porque estás morto… Ó espinhos cruéis, cravos atrozes, bárbara lança, como pudestes atormentar assim o vosso Criador? Mas, que espinhos, que cravos! Ah, pecadores, exclamava, assim tendes maltratado o meu Filho!

II. Ó Virgem Santíssima, depois que vós com tanto amor destes ao mundo o vosso Filho para a nossa salvação, eis que o mundo já vo-Lo restitui. — Mas, ó Deus! Como mo restituis tu? Dizia então Maria ao mundo. Dilectus meus candidus et rubicundus (1). Meu Filho era branco e vermelho, não pela cor, mas pelas chagas que Lhe tens aberto. Ele era belo, agora, em vez de belo, é todo deforme; Ele encantava com o seu aspecto, agora causa horror a quem O vê.

Assim se expressava então Maria e se queixava de nós. Mas se agora fosse ainda capaz de dor, que diria? E que pena sentiria, ao ver que os homens, depois da morte de seu Filho, continuam a maltratá-Lo e crucificá-Lo com os seus pecados? Não continuemos, pois, a atormentar esta dolorosa Mãe, e se pelo passado nós também a temos afligido com as nossas culpas, façamos o que ela mesma nos diz: Redite, praevaricatores, ad cor (2): Pecadores, voltai ao Coração ferido de meu Jesus; voltai arrependidos, e Ele vos acolherá. — Revelou a mesma Bem-aventurada Virgem a Santa Brígida, que ao Filho descido da cruz ela fechou os olhos, mas não pode fechar-Lhe os braços, dando com isso Jesus Cristo a entender que queria ficar com os braços abertos, para acolher todos os pecadores arrependidos, que voltam para Ele.


Ó Virgem dolorosa, ó alma grande nas virtudes e grande também nas dores, pois que tanto estas como aquelas nascem do grande incêndio de amor que tendes a Deus. Ah, minha Mãe! Tende piedade de mim, que não tenho amado a Deus e O tenho ofendido. As vossas dores me dão grande confiança para esperar o perdão. Mas isto não me basta; quero também amar o meu Senhor, e quem me pode alcançar isto melhor do que vós, que sois a Mãe do belo amor? Ah Maria! Vós consolais a todos; consolai-me também a mim.

Referências:

(1) Ct 5, 10
(2) Is 46, 8

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 418-420)

Créditos: Rumo à Santidade 

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Morte de Jesus (por Santo Afonso Maria de Ligório)




"Et inclinato capite, tradidit spiritum – “E inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19, 30)


Sumário. Contempla como depois de três horas de agonia, pela veemência das dores, as forças faltam a Jesus; entrega o corpo ao próprio peso, deixa cair a cabeça sobre o peito, abre a boca e expira. Alma cristã, dize-me: não merece porventura todo o nosso amor um Deus que, para nos salvar da morte eterna, quis morrer no meio dos mais atrozes tormentos? Todavia, como são poucos os que amam e muitos os que, em vez de O amarem, Lhe pagam com injúrias e ultrajes.


I. Considera que o nosso amável Redentor é chegado ao fim da sua vida. A mortecem-se-Lhe os olhos, o seu belo rosto empalidece, o coração palpita debilmente, e todo o sagrado corpo é lentamente invadido pela morte. Vinde, anjos do céu, vinde assistir a morte do vosso Deus. Vós, ó Mãe dolorosa, Maria, chegai-vos mais próxima à cruz, levantai os olhos para vosso Filho, e contemplai-O atentamente, porque está prestes a expirar.


Pater, in manus tuas commendo spiritum meum (1) — “Pai em vossas mãos entrego o meu espírito”. É esta a última palavra que Jesus profere com confiança filial e perfeita resignação com a vontade divina. Foi como se dissesse: Meu Pai, não tenho vontade própria; não quero nem viver nem morrer. Se é vossa vontade que eu continue a padecer sobre a cruz, eis-me aqui, estou pronto para obedecer; em vossas mãos entrego o meu espírito; fazei de mim segundo a vossa vontade. — Tomara que nós disséssemos o mesmo, quando temos alguma cruz, deixando-nos guiar pelo Senhor, conforme o seu agrado. Tomara que o repetíssemos especialmente no momento da morte! Mas para bem o fazermos então, devemos praticá-lo muitas vezes em nossa vida.


Entretanto, Jesus chama a morte, que por deferência não ousava aproximar-se do autor da vida, e lhe dá licença para lhe tirar a vida. E eis que finalmente, enquanto treme a terra, se abrem os túmulos e se rasga o véu do templo, eis que pela veemência da dor faltam as forças ao Senhor moribundo, baixa o calor natural, falha a respiração. Jesus abandona o corpo ao próprio peso, deixa cair a cabeça sobre o peito, abre a boca e expira: Et inclinato capite, tradidit spiritum (2). — Parti, ó bela alma do meu Salvador, parti e ide nos abrir o paraíso, fechado até agora, ide apresentar-Vos à Majestade divina, e alcançai-nos o perdão e a salvação.

As pessoas presentes, voltadas para Jesus Cristo, por causa da força com que proferiu as suas últimas palavras, contemplam-No com atenção silenciosa, vêem-No expirar, e notando que não se move mais, dizem: Morreu, morreu. Maria ouve que todos o dizem, e ela também exclama: Ah, Filho meu, já morreste; estais morto.

II. Morreu! Ó Deus! Quem é que morreu? O Autor da vida, o Unigênito de Deus, o Senhor do mundo. Ó morte, que fizeste pasmar o céu e a natureza! Um Deus morrer pelas suas criaturas! — Vem, minha alma, levanta os olhos e contempla esse Homem crucificado. Contempla o Cordeiro divino já imolado sobre o altar da dor; lembra-te de que Ele é o Filho dileto do pai Eterno, e que morreu pelo amor que te tem dedicado. Vê esses braços abertos para te acolherem; a cabeça inclinada para te dar o ósculo de paz; o lado aberto para te receber. Que dizes? Não merece ser amado um Deus tão bom e tão amoroso? Ouve o que do alto de sua cruz te diz o Senhor: Meu Filho, vê se há alguém no mundo que te tenha amado mais do que eu, teu Deus!


Ah meu Jesus, já que para minha salvação não poupastes a vossa própria pessoa, lançai sobre mim esse olhar afetuoso com que me olhastes um dia, quando estáveis em agonia sobre a cruz; olhai-me, iluminai-me, e perdoai-me. Perdoai-me em particular a ingratidão que tive para convosco no passado, pensando tão pouco na vossa paixão e no amor que nela me haveis mostrado. Dou-Vos graças pela luz que me concedeis de compreender através de vossas chagas e de vossos membros dilacerados, como por entre umas grades, o afeto tão grande e tão terno que ainda guardais para comigo.

Ai de mim, se depois de receber estas luzes deixasse de Vos amar, ou amasse outra coisa que não a Vós. Morra eu, assim Vos direi com São Francisco de Assis, morra eu por amor de vosso amor, ó meu Jesus, que Vos dignastes morrer por amor de meu amor. Ó Coração aberto de meu Redentor, ó morada feliz das almas amantes, não Vos dedigneis receber agora minha misera alma.

Ó Maria, ó Mãe de dores, recomendai-me a vosso Filho, a quem vedes morto sobre a cruz. Vede as suas carnes dilaceradas, vede o seu Sangue divino derramado por mim, e conclui disto quanto lhe agrada que lhe recomendeis a minha salvação. A minha salvação consiste em que eu O ame, e este amor vós mo deveis impetrar, mas um amor grande, um amor eterno.

Referências:

(1) Lc 23, 46
(2) Jo 19, 30

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 415-418)

Créditos: Rumo à Santidade 

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Quinta Dor de Maria Santíssima – Morte de Jesus




Segunda Meditação para a Quinta-feira Santa

Et erit vita tua quasi pendens ante te – “A tua vida estará como suspensa diante de ti” (Dt 28, 66)


Sumário. Contemplemos a acerba dor de Maria Santíssima no Calvário, obrigada a assistir a Jesus moribundo e ver todas as penas que Ele padecia, sem, contudo, Lhe poder dar alívio. Então a aflita Mãe não cessou de oferecer a vida do Filho à divina justiça pela nossa salvação. Lembremo-nos que pelo merecimento de suas dores cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça. Por isso todos nós somos seus filhos. Ó, como a Virgem exerceu sempre e ainda exerce bem o ofício de Mãe! Mas como nos vemos nós como filhos?


I. Fogem as mães da presença dos filhos moribundos; e se por acaso alguma mãe se vê obrigada a assistir um filho que está para morrer, procura-lhe todos os alívios que pode dar. Concerta-lhe a cama, para que esteja em posição mais cômoda; serve-lhe refrescos, e assim a própria mãe procura mitigar a própria dor. Ah, mãe a mais aflita de todas as mães, ó Maria! Incumbe-vos o assistir a Jesus moribundo, mas não vos é permitido dar-Lhe algum alívio.


Maria ouviu o Filho dizer: Sitio — tenho sede; mas não lhe foi permitido dar uma gota de água para Lhe mitigar a sede. Só pode dizer-Lhe, como contempla São Vicente Ferrer: Filho, não tenho senão a água de minhas lágrimas. Fili, non habeo nisi aquam lacrimarum. Via que sobre aquele leito de morte, Jesus, pregado com três cravos de ferro, não achava repouso. Queria abraçá-Lo para Lhe dar alívio, ao menos para O deixar expirar entre seus braços; mas não podia. Via o pobre Filho, que naquele mar de aflições buscava quem O consolasse, como Ele já tinha predito pela boca do profeta Isaías (1). Mas quem entre os homens O desejava consolar, se todos eram seus inimigos? Mesmo sobre a cruz um O blasfemava e escarnecia de uma maneira, outro de outra, tratando-O como um impostor, ladrão, usurpador sacrílego da divindade, digno de mil mortes.


O que mais aumentou a dor de Maria e a sua compaixão para com o Filho, foi ouvi-Lo sobre a cruz lamentar-se de o Eterno Pai também O ter abandonado: Deus, Deus meus, ut quid dereliquisti me? (2) — “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” Palavras, como disse a Bem-aventurada Virgem à Santa Brígida, que não puderam nunca mais sair-lhe da idéia, enquanto viveu. De modo que a aflita Mãe via o seu Jesus atormentado de todas as partes; queria aliviá-Lo mas não podia. Pobre Mãe!


II. Pasmavam os homens, diz Simão de Cássia, vendo que a divina Mãe guardava o silêncio, sem se queixar no meio da sua grande dor. Mas, se Maria guardava o silêncio com a boca, não o guardava com o coração, porquanto naquelas horas não fazia se não oferecer à justiça divina a vida do Filho pela nossa salvação. Saibamos, pois, que pelo mérito de suas dores ela cooperou para nos fazer nascer para a vida da graça e por conseguinte somos filhos de suas dores: Mulier, ecce filius tuus (3) — “Mulher, eis aí teu filho”.


Naquele mar de amargura era este o único alívio que então a consolava: o saber que por meio de suas dores nos conduzia à salvação eterna. — Desde então começou Maria a exercer para conosco o ofício de boa Mãe; pois que, como atesta São Pedro Damião, foi pelas súplicas de Maria que o bom ladrão se converteu e se salvou, querendo a divina Mãe recompensá-lo assim pela delicadeza que outrora lhe mostrou na viagem ao Egito. E o mesmo ofício de mãe tem a Bem-aventurada Virgem continuado sempre e continua a exercer. Nós, porém, com as nossas obras mostramo-nos deveras seus dignos filhos?


Ó Mãe, a mais aflita de todas as mães! Morreu, enfim, vosso Filho, tão amável e que tanto vos amava! Chorai; que tendes razão para chorar. Quem jamais poderá consolar-vos? Só vos pode consolar o pensamento que Jesus com sua morte venceu o inferno, abriu o céu fechado aos homens, e ganhou tantas almas. Do trono da cruz reinará sobre tantos corações que, vencidos pelo amor, com amor Lhe servirão. Não recuseis entretanto, ó minha Mãe, que vos acompanhe a chorar convosco, já que mais que vós tenho razão de chorar pelas ofensas que tenho feito a Vosso Filho. Ah, Mãe de Misericórdia! Em primeiro lugar pela morte de seu Redentor, e depois pelos merecimentos de vossas dores, espero o perdão e a salvação eterna.


Referências:


(1) Is 63, 5

(2) Mt 27, 46

(3) Jo 19, 26



(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 413-415)

Créditos: Rumo à Santidade 

Quinta-feira Santa - O Dia do Amor (por Santo Afonso Maria de Ligório)





Sciens Iesus quia venit hora eius, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in funem dilexit eos – “Sabendo Jesus que era chegada a hora de passar deste mundo para o Pai, como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1)

Sumário. Embora Jesus Cristo em todo o curso de sua vida mortal nos tivesse amado ardentemente e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente pela instituição do Santíssimo Sacramento. Aí o Senhor se faz não só nosso constante companheiro, mas ainda nosso sustento e se nos dá todo inteiro. Com muita razão, portanto, Santa Maria Madalena de Pazzi chamava a quinta-feira santa o Dia do Amor

I. Um pai amoroso nunca patenteia melhor a sua ternura e o seu afeto para com o filhos do que no fim da sua vida, quando os vê em torno do seu leito, aflitos e com os olhos em pranto, e pensa que em breve deve abandoná-los. Tira do seu coração e põe sobre os seus lábios o resto de sua vida prestes a extinguir-se, abraça aqueles penhores queridos do seu amor, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes no rosto os mais ternos beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, beijos, e misturando as suas lágrimas com as dos filhos, lança-lhes a sua bênção. Depois manda trazer o que mais precioso possui e dando a cada um uma última lembrança: Tomai, diz, e lembrai-vos sempre do amor que vos tenho dedicado.


Foi exatamente assim que quis fazer conosco Jesus Cristo, verdadeiro Pai da nossa alma e Pai tão amante, que na terra não tem havido, nem jamais haverá outro igual. Embora em todo o curso da sua vida mortal nos tivesse amado com amor ardente, e nos tivesse dado mil provas do seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento. E por isso, na mesma noite em que devia ser traído, reuniu os seus discípulos ao redor de si, instituiu a Santíssima Eucaristia, e disse-lhes para os consolar de sua próxima partida:


Filhos meus, vou morrer por vós, para vos mostrar o amor que vos tenho. Posto que, escondido debaixo das espécies sacramentais, deixo-vos o meu corpo, a minha alma, a minha divindade, a mim mesmo todo. Numa palavra, não quero nunca estar separado de vós, enquanto estiverdes na terra: Ecce ego vobiscum sum, usque ad consummationem saeculi (1) – “Eis que estou convosco, até a consumação dos séculos”.

– Meu irmão, que tal te parece esta extrema fineza de Jesus Cristo? Não tinha razão Santa Maria Madalena de Pazzi de chamar a quinta-feira santa o dia do amor?

II. Jesus Cristo não satisfez o seu amor, fazendo-se nosso constante companheiro; quis ainda fazer-se nosso sustento, afim de se unir intimamente à nossa alma, e santificá-la com a sua presença. E nesta manhã, qual amante apaixonado, que deseja ser correspondido, de dentro da Hóstia consagrada, onde nos observa sem ser visto, está espreitando todos os que se preparam para alimentar-se com a sua carne divina, observa em que pensam, o que amam, o que desejam e as ofertas que irão apresentar-lhe.

Irmão meu, prepara-te para recebê-lo com as devidas disposições. Aviva a tua fé na presença real de Jesus Cristo neste inefável mistério; dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te que te pode fazer todo o bem, muito te amam e vem a ti exatamente para te enriquecer com as suas graças. Humilha-te profundamente diante da sua divina majestade, e lembrando-te que no passado, em vez de amares um Deus tão bom, o tens magoado, voltando-lhe as costas e desprezando a sua amizade, pede-lhe perdão e toma a resolução de que para o futuro antes quererás morrer do que tornar a ofendê-lo. – Mas prepara-te sobretudo para receber Jesus Cristo com amor, e convida-o pelo desejo.


Vinde, ó meu Jesus, vinde depressa e não tardeis. Ó meu paraíso, meu amor, meu tudo, quisera receber-Vos com aquele amor com que Vos receberam as almas mais santas e mais amantes, com que Vos recebeu Maria Santíssima. Uno a minha comunhão de hoje com as suas. – Santíssima Virgem e minha Mãe Maria, eis que vou receber o vosso Filho. Quisera ter o vosso coração e o amor com que recebeis a santa comunhão. Dai-me hoje o vosso Jesus, assim como o destes aos pastores e aos santos Magos. Desejo recebê-lo de vossas mãos puríssimas. Dizei-lhe que sou vosso servo devoto, porque assim me olhará com olhar mais amoroso e me apertará mais estreitamente contra o seu Coração, quando vir a mim.



Referências:

(1) Mt 28, 20




(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 410-413)

 
Créditos: Rumo à Santidade

Como os Anjos oram por nós durante a Santa Missa




É certo que os Anjos estão presentes à Santa Missa. A Igreja o afirma. Já o Profeta Real canta:

"Ordenou a seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos. (Sl 90 (91), 11)” 

Segue-se disto que os Anjos nos acompanham os passos. Quando, porém, nos dirigimos para o altar do Senhor, é, com mais alegria, com maior satisfação, que desempenham o seu ofício, afugentando os maus espíritos que querem perturbar-nos a devoção, impondo silêncio ao seu cochichar dissipado que chamamos de distrações. Há, pelo menos, o mesmo número de Anjos presentes à Santa Missa que de pessoas, visto que cada assistente tem seu Anjo da Guarda, que lhe ajuda a orar e adorar a Jesus Cristo sobre o altar. Pede, pois, ao teu que ouça a Santa Missa por ti e contigo e sua oração inflamada suprirá as misérias da tua. 

Além dos Anjos da Guarda, príncipes da milícia celeste estão igualmente presentes no altar, porque o Rei dos Anjos, descendo do céu, em pessoa, convém que seus ministros rodeiem e lhe prestem homenagens. 

Assistindo à Santa Missa, podemos, pois, dizer a Deus com o Rei Davi: 

“Adorar-vos-ei, no vosso santo tabernáculo, cantarei vossos louvores, na presença dos espíritos celestes e bendirei vosso santo nome. (Sl 137 (138), 1-2).” 

Estás, portanto, ajoelhado no meio destes espíritos puros que ouvem a Santa Missa contigo e oram, ardentemente, por tua salvação. 

Diz São João Crisóstomo: 

“Lembra-te, ó homem, junto de quem te achas, durante este misterioso Sacrifício. Estás entre Querubins e Serafins, entre as Potências Celestiais. Comporta-te, pois, de modo a não entristecê-los com a tua impiedade, pelo contrário, regozija-os com o teu fervor.”


Quando o sacerdote celebra o sublime e temível Sacrifício, os Anjos assistem-no, e, em coro, elevam a voz para cantar a glória d’Aquele que se imola sobre o altar. Neste momento, não oram somente os homens, mas os próprios Anjos dobram de joelhos ante Deus e intercedem por nós; e esta oração dos Anjos é mais poderosa do que a nossa. É o tempo propício, pois, o Santo Sacrifício está ao dispor destas potências celestes. Entretanto, unidos os nossos rogos aos dos Anjos, os nossos pedidos atravessam as nuvens e são mais facilmente ouvidos do que se tivéssemos orado em casa, sozinhos. 

Os Anjos não somente estão presentes à Santa Missa, como também oferecem ao Altíssimo o Santo Sacrifício e as nossas orações. São João viu-os nesta sublime função e no-lo refere assim: 

“Veio então o Anjo e se pôs ante o altar, trazendo um turíbulo de ouro; e lhe foram dados muitos perfumes, a fim de que fizesse a oferta das orações de todos os Santos sobre o altar de outro, que está diante do trono de Deus. E a fumaça dos perfumes, emanados das orações dos santos, subiu da mão do Anjo até a presença de Deus. (Ap 8, 3-4)” 

Assim os Anjos apressam-se em recolher tuas orações durante a Santa Missa, para levá-las ao céu e espalhá-las, como perfume, em presença de Deus. E, se estas orações são unidas às de Jesus Cristo e dos Anjos, seu perfume é infinitamente agradável à Divina Majestade e tem uma eficácia muito maior, que todas as orações feitas fora da Santa Missa. Novo motivo, pois, para assistires, todos os dias, ao Santo Sacrifício, onde tão poderosos Anjos te esperam e transmitem-te os votos a Deus, vivificando-os com os seus santos ardores.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, por Frei Martinho de Cochem)

terça-feira, 15 de abril de 2025

A Santa Missa é a maior alegria dos Santos

Devemos ainda expor de que vantagem a Santa Missa é para os outros Santos. Devemos homenagem aos Santos. Eles são amigos de Deus que os honra; seguem Cristo vestidos de branco, porque disso são dignos (Ap 3, 5); e é deles que Nosso Senhor diz: “Quem vos glorifica, a mim glorifica.”

Durante a vida fugiram das honras, desprezaram-se a si próprios, sofreram com paciências as injúrias, os insultos, as perseguições dos maus. Por essa razão Deus manifesta-lhes a inocência e a virtude e quer que sejam reverenciados por toda a cristandade.

A história de Mardoqueu, que nos refere a Sagrada Escritura, é disso um exemplo. O piedoso servo de Deus viu-se cruelmente perseguido pelo orgulhoso Amã. Deus, porém, desfez as intenções perversas do favorito do Rei Assuero e glorificou a Mardoqueu diante de todo o povo. Quando o rei perguntou a Amã: Que se deve fazer para honrar aquele que o Rei deseja cumular de honra? Este, pensando que se tratava de sua pessoa, respondeu: É preciso que traga vestidos reais; que, montado no mesmo cavalo que o rei costuma montar, tenha, na cabeça, um diadema real; que o primeiro príncipe da corte lhe conduza o cavalo e, percorrendo as praças e as ruas da cidade, exclame: 

É assim que será honrado aquele a quem o rei deseja honrar. 

O rei lhe respondeu:  Depressa, toma um vestido e uma montada e trata, como disseste, ao judeu Mardoqueu que está à porta do palácio, e cuida em não omitir coisa alguma de quanto acabas de dizer (Es 6). 

Se um rei pagão remunerou assim o serviço de um homem, que glória não reservará Deus aos seus servos fiéis?! De que magnificência não os cercará no dia de sua feliz entrada no céu e quando a Igreja celebra a sua festa na terra! 

Sob inspiração do Espírito Santo, a Igreja exprime a admiração por seus filhos vitoriosos com os ofícios próprios do breviário, com cânticos, prédicas, procissões, peregrinações, mas, principalmente, pelo Sacrifício da Missa. Assim será honrado a quem o Rei dos Céus quiser honrar. 

Na verdade, a honra mais excelente é prestada aos Santos pelo Santo Sacrifício do Altar, se mandamos celebrá-lo ou, se o assistimos, com a intenção de aumentar-lhes a honra acidental. 

Para honrar um príncipe dá-se, às vezes, uma representação teatral, e, se bem que, na peça não se faça menção dele, o príncipe nisto experimenta prazer. Da mesma maneira, apesar de, na Santa Missa, representar-se só a vida e paixão do Divino Salvador, os Santos sentem grande alegria e delícias singulares, quando este espetáculo se realiza em sua honra, e todo o céu se regozija. 

Quando o sacerdote pronuncia o nome dos Santos, o coração se lhes enternece, porque, observa São João Crisóstomo, tendo o rei alcançado a vitória, o povo, querendo lhe exaltar os feitos, nomeará também os companheiros de armas do herói que, valentemente, destroçou o inimigo. Da mesma forma, é uma grande honra para os Santos serem nomeados, em presença de seu Divino Mestre, do qual se celebram, como em triunfo, a paixão e a morte, ouvindo louvar as vitórias alcançadas sobre o inimigo infernal.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, Frei Martinho de Cochem)


A Santa Missa é a maior alegria da Mãe de Deus





A Mãe de Deus e todos os Santos gozam de uma felicidade dupla: da bem-aventurança essencial e da bem-aventurança acidental. A primeira consiste na vista e na posse de Deus, conforme o grau de glória, na qual foram confirmados, no momento de sua entrada no céu. Esta bem-aventurança essencial não pode aumentar nem diminuir. A bem-aventurança acidental consiste nas honras particulares que Deus, os outros Santos e os homens rendem aos felizes habitantes do céu. Podemos acreditar, por exemplo, que, quando celebramos sua festa aqui na terra, eles recebem no céu honras particulares e que todas as nossas orações e boas obras feitas em sua honra lhes sejam apresentadas por nossos Anjos como um ramalhete de perfume delicioso. 

As revelações de Santa Gertrudes confirmam esta crença, e o Evangelho a indica, claramente, por estas palavras de Nosso Senhor: 

“Assim vos digo que haverá mais júbilo entre os Anjos de Deus por um pecador que faz penitência. (Lc 15, 10)” 

Esta alegria se renova pelo Bom Pastor, pelos Anjos e pelos Santos a cada volta de uma ovelha desgarrada, porém, cessa logo que o pecador deixa de novo o aprisco por uma recaída no pecado. 

Este curto esclarecimento fará compreender em que sentido a Santa Missa é a maior alegria de Maria Santíssima: é a maior alegria acidental e ultrapassa todas as outras felicidades desta ordem.

Se, em honra da Rainha do Céu, recitasses o terço, o ofício, as ladainhas, ou entoasses cânticos, enquanto um outro assistisse, piedosamente, à Santa Missa, este último cumpriria um ato de religião muito superior e, de mais, causaria um prazer infinitamente maior à Santíssima Virgem. 

O que torna ainda a Santa Missa muito cara à Mãe de Deus, é o zelo que tem pela glória de Deus, que a Divina Majestade faz consistir, sobretudo, na salvação das almas. Pelo Santo Sacrifício do Altar, prestamos à Augusta Trindade a única homenagem digna d’Ela e lhe oferecemos, ao mesmo tempo, o preço da redenção do gênero humano. Ainda uma vez, que prazer agradável, suave, perfeito para Maria Santíssima ver-nos cercar o altar, onde seu amado Filho é adorado, onde choramos os nossos pecados, onde contemplamos a Dolorosa Paixão e onde o Precioso Sangue é derramado sobre nossas almas! 

Daí compreenderás facilmente com que benevolência a Santa Virgem acolhe a prece dos cristãos devotos do Santo Sacrifício da Missa. Refere Barônio: 

“Em 989, Roberto, Rei da França, sitiava o castelo de São Germano. Os moradores defenderam-se, heroicamente, e muito sofreu o exército do rei. No sexto dia, Roberto exasperado ordenou o assalto; era para tudo temer. Os sitiados amedrontados dirigiram-se ao Bem-Aventurado Gilberto, monge beneditino. Este os exortou a confiar em Maria Santíssima e celebrou a Santa Missa em honra da Mãe de Deus, em seu altar, com piedosa assistência dos guerreiros do castelo. Ora, enquanto todos estavam em oração, um nevoeiro espesso envolveu a fortaleza e seus arredores. O ataque tornou-se impossível, ao passo que, do alto das torres, a guarnição, perfeitamente livre, seguia todos os movimentos dos assaltantes e lhes infligia perdas consideráveis. 

Roberto, vendo suas tropas muito enfraquecidas, levantou o sítio, e retirou-se apressadamente.” 

Sem dúvida, Maria nem sempre responde com milagres estrondosos aos nossos clamores de angústia, porém, nunca a invocamos em vão; e como ela está, por sua dignidade de Mãe de Deus, incomparavelmente mais próxima da Santíssima Trindade do que os outros Santos, sua intercessão é também mais poderosa do que a deles.” 

(A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa, por Frei Martinho de Cochem)

segunda-feira, 14 de abril de 2025

A importância da Santa Missa...




Jesus Cristo reservou a Santa Missa somente para si, porque só Ele, Verbo Eterno, pode oferecê-la de maneira soberanamente agradável à Santíssima Trindade! Segue-se daí que toda Missa é de um valor infinito, pois é celebrada pelo próprio Jesus Cristo com uma devoção, um respeito, um amor acima do entendimento dos Anjos e dos homens. 

Jesus Cristo mesmo revelou esta verdade a Santa Matilde, disse: 

“Só eu compreendo perfeitamente de que forma me imolo, todos os dias, sobre o altar pela salvação dos fiéis; os querubins e os serafins, nenhuma potestade celeste, saberiam compreendê-la inteiramente.”

Ó meu Jesus! Que impenetrável mistério e que felicidade para nós pobres pecadores, sermos admitidos à Santa Missa, onde efetuais essa salutar oblação! 

Caro leitor, considera bem estas palavras e quanto te é vantajoso assistir à Santa Missa, Nosso Senhor se oferece nela por ti; faz-se o mediador entre tua culpabilidade e a justiça divina, e retém o castigo que merecem cada dia os teus pecados. Ó, se abrisse bem os olhos a esta verdade, como amarias a Santa Missa; como suspirarias pela felicidade de assisti-la; como a ouvirias devotamente; como te lastimarias por faltar a uma só! Para poupar um tal prejuízo à tua alma, suportarias, de boa vontade, qualquer dano temporal. 

Os primeiros cristãos nos deixaram o exemplo disto; preferiam perder a vida a deixar de assistir à Santa Missa.” 

(“A Santa Missa para Leigos: Uma Explicação do Santo Sacrifício da Missa” por Frei Martinho de Cochem)
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